{"id":33143,"date":"2017-08-18T00:27:35","date_gmt":"2017-08-18T03:27:35","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=33143"},"modified":"2017-08-18T00:27:35","modified_gmt":"2017-08-18T03:27:35","slug":"casos-famosos-dos-anos-trinta","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/casos-famosos-dos-anos-trinta\/","title":{"rendered":"CASOS FAMOSOS DOS ANOS TRINTA"},"content":{"rendered":"

Autoria do Prof. Rodolpho Caniato<\/strong><\/span><\/p>\n

\"\"<\/a><\/p>\n

O fato de morarmos num hotel frequentado por gente que vinha de outras regi\u00f5es do Brasil e de outros pa\u00edses da Europa, al\u00e9m dos EEUU, fazia de nossa casa uma caixa de resson\u00e2ncia de fatos e hist\u00f3rias que circulavam pelo mundo. Meu pai, como gerente e int\u00e9rprete, era quem recebia os principais clientes do hotel. O nosso principal h\u00f3spede, Mister Joseph, uma vez por ano passava alguns dias nos EEUU, mas preferia morar no Rio de Janeiro, no \u201cnosso\u201d Atalaia. O casal dinamarqu\u00eas F\u00f6sker tamb\u00e9m voltava sempre da Europa. Meu pai, al\u00e9m de ler os jornais, estava sempre em contato com pessoas que traziam novidades do mundo. Era inevit\u00e1vel que conversasse em casa sobre os assuntos palpitantes.<\/span><\/p>\n

S<\/em>acc<\/em>o e Vanzetti<\/em> haviam sido executados na cadeira el\u00e9trica em 1927, depois de um longo, complicado e pol\u00eamico julgamento que ficaria na hist\u00f3ria. Tratava-se de dois imigrantes italianos que eram, como muitos outros que vieram para o Brasil, anarquistas. Al\u00e9m de tomados como subversivos, foram acusados de um assalto com uma morte em que foi roubado todo o dinheiro do pagamento dos funcion\u00e1rios de uma f\u00e1brica de cal\u00e7ados em Massachussets. Depois de muitos anos de julgamento e apela\u00e7\u00f5es, ambos foram executados na cadeira el\u00e9trica. Como n\u00e3o havia tido flagrante do assassinato, sempre permaneceu a d\u00favida sobre sua culpabilidade de morte, ou, se o processo n\u00e3o havia sido \u201ccontaminado\u201d por um sentimento contra imigrantes \u201csubversivos\u201d, que tomavam o lugar dos oper\u00e1rios americanos, e por uma esp\u00e9cie de \u201cca\u00e7a \u00e0s bruxas\u201d contra anarquistas.<\/span><\/p>\n

Outro rumoroso caso discutido em todo o mundo nos anos trinta foi o Lindbergh-Hauptman<\/em>.\u00a0\u00a0 Charles Lindbergh era um her\u00f3i nacional nos EEUU. Havia feito sozinho a primeira travessia solit\u00e1ria do Atl\u00e2ntico, dos EEUU para Paris, num avi\u00e3o monomotor, o \u201cSpirit of St. Louis\u201d. Era o maior her\u00f3i americano da \u00e9poca, uma figura de prest\u00edgio mundial. Em 1932, um filho seu de menos de dois anos foi raptado e morto. N\u00e3o houve testemunhas oculares nem provas cabais. Havia, no entanto, fortes ind\u00edcios ou provas indiretas que reca\u00edram sobre um carpinteiro alem\u00e3o imigrante: Bruno Richard Hauptman. \u00a0Durante quatro anos o processo contra Hauptman foi discutido n\u00e3o s\u00f3 na justi\u00e7a americana como no mundo todo. Por fim, o veredicto foi de pena capital na cadeira el\u00e9trica. Em abril de 1936 Hauptman foi executado, protestando inoc\u00eancia at\u00e9 o fim. A repercuss\u00e3o se estendeu a todo o mundo. Tamb\u00e9m no Rio ela se fez sentir pela difus\u00e3o do medo e restri\u00e7\u00f5es das m\u00e3es em deixar as crian\u00e7as livres para brincar pelas ruas.<\/span><\/p>\n

Em meados de 1935 faleceu Alfred Dreyfus<\/em>, um ex-oficial de artilharia do ex\u00e9rcito franc\u00eas. Talvez nenhum outro caso na hist\u00f3ria moderna do mundo tenha agitado tanto a opini\u00e3o p\u00fablica quanto esse. Foi esse o tema que celebrizou \u00c9mile Zola com seu \u201cJ\u00b4accuse\u201d (Eu acuso) e a prov\u00e1vel causa de sua morte tr\u00e1gica e misteriosa. Embora o caso tenha tido seu in\u00edcio nos \u00faltimos anos do s\u00e9culo XIX, as quest\u00f5es que ele levantou com as marchas e contramarchas de um processo complicado, provocaram movimentos apaixonados e consequ\u00eancias graves em v\u00e1rias partes do mundo. Um manuscrito encontrado numa cesta de pap\u00e9is, e levado \u00e0s autoridades do ex\u00e9rcito franc\u00eas, indicava a exist\u00eancia de um oficial de alta patente e traidor. As suspeitas ca\u00edram sobre Dreyfus, o \u00fanico alto oficial de origem judia.\u00a0 \u00a0Instalou-se uma corte marcial e Dreyfus foi condenado \u00e0 pris\u00e3o perp\u00e9tua na Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, bem perto do Brasil.<\/span><\/p>\n

Dreyfus foi submetido \u00e0 cerim\u00f4nia de degrada\u00e7\u00e3o, sendo-lhe arrancadas as ins\u00edgnias de oficial e quebrada sua espada. O fato de ele ser judeu e a inconsist\u00eancia da acusa\u00e7\u00e3o levantaram as suspeitas de uma persegui\u00e7\u00e3o contra os judeus na Fran\u00e7a que, junto com boa parte da Europa, ainda vivia a tens\u00e3o entre monarquistas e republicanos. A Fran\u00e7a estava dividida entre opositores e favor\u00e1veis a Dreyfus. Muitas empresas de judeus foram depredadas. Foi nesse clima de grande polariza\u00e7\u00e3o pol\u00edtica que \u00c9mile Zola publicou seu artigo \u201cJ\u00b4accuse\u201d, pondo em evid\u00eancia que se tratava de uma farsa montada e destinada a incriminar Dreyfus, pelo fato de ser judeu.<\/span><\/p>\n

Zola, condenado \u00e0 pris\u00e3o e pagamento de multa, teve que se refugiar na Inglaterra. Outra vez a polariza\u00e7\u00e3o levantou protestos e graves epis\u00f3dios em v\u00e1rias partes do mundo. Por fim descobriu-se que um oficial franc\u00eas havia escrito o papel incriminador, visando eliminar da alta oficialidade francesa um judeu. Quando faleceu, em 1935, Dreyfus havia sido reabilitado, sem que nunca tivesse reivindicado reparos pelos grandes danos que havia sofrido. \u00a0Seu caso havia contribu\u00eddo para que se compreenda at\u00e9 onde podem ir a xenofobia e o racismo. Foi uma das coisas de que muito ouvi em minha inf\u00e2ncia. Meu pai era especialmente interessado em quest\u00f5es envolvendo os grandes processos jur\u00eddicos.<\/span><\/p>\n

Nos anos trinta, outro assunto de que muito ouvi falar foi das greves de fome do grande l\u00edder indiano Ghandi<\/em>. Falava-se de um homem franzino, coberto apenas com uns panos brancos e que estava pondo em cheque a autoridade Real Brit\u00e2nica sobre a \u00cdndia. Esse l\u00edder t\u00e3o fr\u00e1gil e desarmado estava mobilizando seu pa\u00eds para a independ\u00eancia e sem o uso de armas, sem nenhuma viol\u00eancia, mesmo verbal. \u00a0Sua prega\u00e7\u00e3o contava, segundo ele mesmo dizia, com a for\u00e7a da Verdade. Ele se tornara internacionalmente conhecido pela sua milit\u00e2ncia na defesa de seus compatriotas indianos, na \u00c1frica do Sul, tamb\u00e9m v\u00edtimas do \u00a0\u201capartheid\u201d.\u00a0 Esse meu ouvir falar de Ghandi, desde minha inf\u00e2ncia, deixou um germe de curiosidade e fez que, muitos anos mais tarde, eu voltasse a procurar saber mais \u00a0sobre\u00a0 a \u00a0vida \u00a0de um dos grandes homens do s\u00e9culo XX.<\/span><\/p>\n

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