{"id":33158,"date":"2017-08-31T00:10:04","date_gmt":"2017-08-31T03:10:04","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=33158"},"modified":"2017-08-31T00:10:04","modified_gmt":"2017-08-31T03:10:04","slug":"o-bau-dos-meus-sonhos","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/o-bau-dos-meus-sonhos\/","title":{"rendered":"O BA\u00da DOS MEUS SONHOS"},"content":{"rendered":"

Autoria do Prof. Rodolpho Caniato<\/strong><\/span><\/p>\n

\"\"<\/a><\/p>\n

Durante os anos de minha vida em Copacabana, eu havia acumulado muitos brinquedos. Em todo Natal era grande a expectativa por encontrar os presentes trazidos pelo Papai Noel. Al\u00e9m daqueles ganhos de meus pais, eu ganhava tamb\u00e9m dos h\u00f3spedes mais frequentadores de \u201cnosso\u201d hotel, que se haviam tornado tamb\u00e9m amigos de nossa fam\u00edlia. Entre esses havia os que vinham do exterior, como o casal dinamarqu\u00eas, os F\u00f6sker. Desses ganhei alguns presentes not\u00e1veis, trazidos da Europa, como um M\u00e4rklin: um conjunto de pe\u00e7as met\u00e1licas com placas, eixos, pequenas polias, rodas, roldanas e parafusos. Com esse conjunto alem\u00e3o era poss\u00edvel fazer diversas montagens, ao sabor da imagina\u00e7\u00e3o.<\/span><\/p>\n

Em outra ocasi\u00e3o, esse mesmo casal me presenteou com um \u201cschuco patente\u201d, uma miniatura de carro, de meio palmo de comprimento e de \u201cdar corda\u201d. S\u00f3 o fato de ser um carrinho de corda, para a \u00e9poca j\u00e1 era extraordin\u00e1rio. Mas essa miniatura alem\u00e3 tinha outra caracter\u00edstica de, dir\u00edamos hoje, \u201calta tecnologia\u201d. O carrinho com \u201ccorda\u201d andava sobre a mesa e n\u00e3o ca\u00eda, dando um susto em quem n\u00e3o estivesse avisado ou j\u00e1 n\u00e3o o tivesse visto. Ao atingir a borda do m\u00f3vel, ele manobrava e seguia em outra dire\u00e7\u00e3o. Era um brinquedo sensacional para a \u00e9poca, que produzia um verdadeiro alvoro\u00e7o com suas manobras na beirada da mesa.\u00a0 \u00a0Outro brinquedo sensacional para a \u00e9poca era uma r\u00e9plica vermelha da \u201cFerrari\u201d com que Carlo Pintacuda havia ganho v\u00e1rios campeonatos mundiais, inclusive o \u201cCircuito da G\u00e1vea\u201d contra o alem\u00e3o Von Stuk, no Rio de Janeiro. O extraordin\u00e1rio desse brinquedo era sua realidade em tudo: pneus intercambi\u00e1veis, sistema de dire\u00e7\u00e3o e diferencial. Era tamb\u00e9m um brinquedo de \u201ccorda\u201d.<\/span><\/p>\n

Muitos outros brinquedos eu havia acumulado naqueles anos, tanto de meus pais como de clientes do hotel. Todo esse acervo acumulado nos anos de \u201cAtalaia\u201d ficava em uma grande e refor\u00e7ada mala de viagens internacionais que algu\u00e9m havia dispensado e deixado naquele hotel.\u00a0 A\u00ed ficavam guardados tamb\u00e9m os assess\u00f3rios de nossa \u00e1rvore de Natal. Entre esses ficavam as velinhas que sobravam de cada Papai Noel. Essas, meio queimadas, guardavam tamb\u00e9m os evocativos cheiros do Natal. \u00a0Era um ba\u00fa dos meus sonhos de crian\u00e7a.<\/span><\/p>\n

Quando nos mudamos para Corrupira, na zona rural, o meu ba\u00fa tamb\u00e9m foi. Nesse outro cen\u00e1rio ele adquiriu um novo significado. \u00a0O ambiente era todo rude, e nada tinha de parecido com aquelas coisas sofisticadas da vida urbana. Um novo papel estava destinado ao meu ba\u00fa. Logo fiz amigos, especialmente entre os nossos vizinhos mais pr\u00f3ximos. Orlando e M\u00e1rio tornaram-se meus amigos mais pr\u00f3ximos e interlocutores mais interessados. Meu \u201cba\u00fa\u201d de brinquedos foi uma das primeiras coisas depois de nossos primeiros contatos. \u00a0Ambos ficaram extasiados. Nunca tinham visto qualquer coisa parecida.<\/span><\/p>\n

Todas as coisas de meu ba\u00fa eram impens\u00e1veis no ambiente rural r\u00fastico em que agora viv\u00edamos. Mesmo os brinquedos j\u00e1 quebrados ou peda\u00e7os do que haviam sido, eram objetos que ati\u00e7avam a imagina\u00e7\u00e3o, especialmente desses meus novos amigos. Alguns desses \u201cdespojos\u201d provocavam as perguntas dos meus amigos: \u201cO que era aquilo?\u201d ou \u201cO que tinha sido aquilo?\u201d. Descrever o que eles eram ou tinham sido foi tamb\u00e9m para mim um novo exerc\u00edcio de contar coisas segundo minha experi\u00eancia e minha imagina\u00e7\u00e3o. Esse meu \u201cba\u00fa\u201d foi o \u201ccatalizador\u201d de amizades e exerc\u00edcios de imagina\u00e7\u00e3o para mim e para alguns de meus amigos naqueles anos de Corrupira.<\/span><\/p>\n

Nota:<\/u> Extra\u00eddo do livro \u201cCorrupira\u201d, ainda in\u00e9dito, do autor.<\/span><\/p>\n

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