{"id":3318,"date":"2013-03-29T20:44:50","date_gmt":"2013-03-29T23:44:50","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=3318"},"modified":"2022-07-26T16:12:28","modified_gmt":"2022-07-26T19:12:28","slug":"mestres-da-pintura-caravaggio","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/mestres-da-pintura-caravaggio\/","title":{"rendered":"Mestres da Pintura \u2013 CARAVAGGIO"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho<\/strong>
\n<\/b><\/p>\n

\u00a0<\/b>\"caravaggio\"<\/a> \u00a0 \u00a0 \u00a0 \"caravaggio<\/a>
\n<\/strong><\/p>\n

Fala-se de Caravaggio como um pintor tenebrista ou luminoso de forma indistinta. Esquece-se de que sem ele n\u00e3o teria havido Ribera, Vermeer La Tour nem Rembrandt. E Delacroix, Coubert e Manet teriam pintado de outra maneira. (Roberto Longhi)<\/i><\/b><\/p>\n

Caravaggio viveu em uma \u00e9poca de poder burocr\u00e1tico, censura de ideias e conformismo assustador […] em que as mentes criativas eram ferozmente castigadas. (Peter Rob)<\/i><\/b><\/p>\n

“N\u00e3o sou um pintor valent\u00e3o, como me chamam, mas sim um pintor valente, isto \u00e9, que sabe pintar bem e imitar bem as coisas naturais” (palavras de Caravaggio perante o tribunal que julgava sua primeira acusa\u00e7\u00e3o de perturbar a ordem p\u00fablica).<\/i><\/b><\/p>\n

Caravaggio era um homem de temperamento impetuoso e irado, extremamente suscet\u00edvel \u00e0 menor ofensa e at\u00e9 capaz de apunhalar um desafeto. (E.H. Gombrich)<\/i><\/b><\/p>\n

Ap\u00f3s uma quinzena de trabalho, Caravaggio ir\u00e1 vagar por um m\u00eas ou dois com uma espada a seu lado e um servo o seguindo, de um sal\u00e3o de baile para outro, sempre pronto para se envolver em alguma luta ou discuss\u00e3o, de tal maneira que \u00e9 bastante torpe acompanh\u00e1-lo. (Floris Claes van Dijk)<\/i><\/b><\/p>\n

Michelangelo Merisi da Caravaggio<\/i> (1571-1610) nasceu no calmo povoado de Caravaggio, pr\u00f3ximo \u00e0 cidade de Mil\u00e3o e cujo nome acabou por incorporar-se a seu nome. Tamb\u00e9m existe a hip\u00f3tese de que o pintor tenha nascido em Mil\u00e3o. Era filho de Fermo Meresi \u2014 arquiteto e decorador de Francisco Sforza, duque de Mil\u00e3o e marqu\u00eas da pequena Caravaggio \u2014 e de Lucia Aratori. Aos cinco anos de idade vivia em Mil\u00e3o com seus pais, cidade ocupada pela Espanha. Al\u00e9m das tens\u00f5es geradas pela ocupa\u00e7\u00e3o estrangeira, a fome e a peste tamb\u00e9m se faziam presentes. Em raz\u00e3o da peste a fam\u00edlia do futuro pintor retornou ao povoado de Caravaggio que tamb\u00e9m acabou sendo alcan\u00e7ado pela doen\u00e7a que ceifou a vida do pai, do av\u00f4 e do tio do garoto. Sua m\u00e3e, optou por permanecer ali com os filhos, distanciando-se do fanatismo religioso e da viol\u00eancia pol\u00edtica que se espalhavam por Mil\u00e3o.<\/p>\n

Agraciado pelas amizades do pai, Caravaggio<\/i> teve contato com os Sforza e com outras fam\u00edlias importantes, havendo ind\u00edcios de que os Sforza tenham sido respons\u00e1veis por sua educa\u00e7\u00e3o e a de seus irm\u00e3os. Aos doze anos de idade foi enviado para Mil\u00e3o, tendo os estudos no ateli\u00ea de Simone Peterzano \u2014 disc\u00edpulo de Ticiano \u2014 custeados pelo pr\u00edncipe Colonna que passara a governar o povoado de Caravaggio. Ap\u00f3s os estudos em Mil\u00e3o, o jovem pintor acreditava contar com a ajuda do tio capel\u00e3o da Catedral de Mil\u00e3o\u00a0 que lhe faria encomendas, o que n\u00e3o aconteceu. O jovem teve que retornar para sua cidade, trabalhando com outros neg\u00f3cios que n\u00e3o a pintura.<\/p>\n

Caravaggio<\/i> acabou retornando a Mil\u00e3o e, posteriormente, deixou a cidade. Na verdade n\u00e3o existem dados conclusivos sobre tais acontecimentos. H\u00e1 suspei\u00e7\u00e3o de que tenha fugido, pois era um homem enigm\u00e1tico, fascinante e tamb\u00e9m perigoso, sempre envolvido em duelos e brigas. H\u00e1 tamb\u00e9m o boato de que ficou um ano aprisionado por ter se envolvido em brigas e se negado a entregar os envolvidos. O que se sabe com certeza \u00e9 que o rapaz tinha um car\u00e1ter arruaceiro, sempre metido em confus\u00f5es, seduzido pela marginalidade e pela criminalidade. Ap\u00f3s deixar Mil\u00e3o, n\u00e3o se sabe ao certo por onde andou, at\u00e9 parar em Roma, onde tencionava trabalhar como pintor e apaziguar a turbul\u00eancia interior que carregava. A ocasi\u00e3o era prop\u00edcia, pois a cidade vivia um clima de grande efervesc\u00eancia impulsionada pela Contrarreforma.<\/p>\n

Caravaggio<\/i> morou em Roma por pouco tempo com o monsenhor Pucci, sendo incentivado a fazer c\u00f3pias de obras religiosas. Criou quadros pr\u00f3prios, cuja venda ajudou-o a se sustentar, pois queria viver por conta pr\u00f3pria. Andava por toda a Roma visitando ateli\u00eas em busca de trabalho. Chegava a pintar tr\u00eas quadros por dia, vendendo-os por valores irris\u00f3rios. Gostava de usar roupas exc\u00eantricas e chap\u00e9us de feltro com abas largas, embora fosse visto muitas vezes com roupas esfarrapadas e sujas. Carregava uma espada na cintura \u2014 privil\u00e9gio da nobreza \u2014 e um cachorro no colo. O pintor viera de uma classe inferior, sendo a sua maneira agressiva e o uso da espada uma forma de encobrir o seu complexo de inferioridade social.<\/p>\n

O artista trabalhou no est\u00fadio do pintor siciliano Lorenzi, indo depois para o ateli\u00ea de Antiveduto Grammatica, tamb\u00e9m conhecido por Cavalier d`Arpino que al\u00e9m de muito culto era um renomado retratista. Na \u00e9poca em que trabalhou em tais locais,\u00a0 Caravaggio fez muitos amigos, entre eles o jovem e desordeiro Mario Minniti que lhe serviu de modelos em v\u00e1rios quadros, alternando \u201csess\u00f5es de trabalho, festas, divers\u00f5es no submundo e passeios \u00e0s vinhas, propriedades de ricos amantes da arte\u201d<\/i>, conforme relata o bi\u00f3grafo Gilles Lambert.<\/p>\n

Foi muito importante para Caravaggio<\/i> a sua passagem pelo ateli\u00ea de Giuseppe Cesari, pois esse \u00faltimo gozava de muitas regalias junto ao papa Clemente VIII. \u00c9poca em que, possivelmente, o pintor trabalhou como ajudante nos afrescos da ab\u00f3bada da Capela de Contarelli na Igreja de S. Lu\u00eds dos Franceses. Nessa \u00e9poca ele ficou muito doente, sendo internado no Hospital Santa Maria dela Consolazione sob os cuidados do prior da institui\u00e7\u00e3o \u2014 monsenhor Contreras \u2014 a quem atribuiu a sua recupera\u00e7\u00e3o. Agradecido, presenteou o prior com v\u00e1rias de suas obras que, enviadas \u00e0 Espanha, chamaram a aten\u00e7\u00e3o dos pintores Zurbar\u00e1n e Vel\u00e1zquez. Outras fontes dizem que tais pintores tomaram conhecimento de seu trabalho atrav\u00e9s de obras de seus seguidores.<\/p>\n

O cardeal Francesco Maria del Monte \u2014 embaixador do duque de Toscana no Vaticano \u2014 ficou extremamente impressionado com a primeira tela de motivo religioso do artista intitulada S\u00e3o Francisco em \u00caxtase<\/i>, de modo que o pintor passou a ficar sob a tutela do alto prelado. Caravaggio <\/i>tornou-se reconhecido, iniciando a fase mais pr\u00f3spera de sua arte. Contudo, apesar de famoso e prestigiado, o pintor parecia irremediavelmente ligado ao esc\u00e2ndalo. Depois de pintar alguns quadros religiosos, recusados por seus clientes e muitas vezes tendo que pintar uma nova vers\u00e3o, ele rompeu com o Vaticano ap\u00f3s pintar o quadro de Nossa Senhora dos Palafreneiros.<\/p>\n

De qualquer forma o encontro com o cardeal Del Monte, homem inteligente e curioso, foi altamente enriquecedor para o artista, pois esse agiu como se fora seu mecenas. Ele o inseriu num ambiente de grandes colecionadores e contribuiu para que o artista pegasse importantes encomendas. Nessa \u00e9poca, embora o pintor n\u00e3o relegasse a companhia de prostitutas, espadachins e outras personagens duvidosas com quem costumava raiar o dia, participando de brigas, ele pintou uma s\u00e9rie de grandes obras de tem\u00e1tica religiosa, muitas vezes tidas como indecentes, por pintar os santos com p\u00e9s sujos e representar a Virgem Maria morta, usando como modelo o cad\u00e1ver inchado de uma afogada (pintura presente nesse blogue).<\/p>\n

Al\u00e9m dos problemas com suas pinturas recusadas, Caravaggio<\/i> voltou a ter complica\u00e7\u00f5es judiciais. Foi preso, acusado de ter assassinado um policial, mas conseguiu fugir com a ajuda de seus amigos. Passou a ser procurado pela justi\u00e7a. Depois foi acusado de matar o nobre Rannucio Tommasoni de Terni, durante um jogo, sendo condenado \u00e0 morte. Foi obrigado a fugir para o L\u00e1cio \u2014 feudo da fam\u00edlia Colonna. Dali partiu para N\u00e1poles, sob jurisdi\u00e7\u00e3o da Espanha, onde ficou por um per\u00edodo de oito meses, tornando-se muito famoso. Mas sua cabe\u00e7a estava sempre voltada para Roma, onde se encontravam as mais altas honrarias. De N\u00e1poles o artista foi para Malta, onde foi ordenado Cavaleiro da Ordem, recebendo a Cruz de Malta, depois de pagar uma alta soma para ingressar na ordem, o que poderia ajud\u00e1-lo no perd\u00e3o pelo crime cometido em Roma e na sua poss\u00edvel volta.<\/p>\n

Como se n\u00e3o pudesse evitar os excessos de seu g\u00eanio col\u00e9rico, Caravaggio <\/i>foi expulso da Ordem de Malta por se envolver em situa\u00e7\u00f5es provocadoras, inclusive sendo acusado de hostilidade para com um membro da irmandade, de modo que seu passado tamb\u00e9m deve ter vindo \u00e0 tona. E mais uma vez o artista foi obrigado a fugir, dessa vez para a Sic\u00edlia, onde esperou durante um ano o perd\u00e3o vindo de Roma. De Siracusa foi para Messina. Quando se encontrava doente e cansado, depois de vagar por tantos lugares diferentes, mas ainda esperan\u00e7oso de receber o indulto, Caravaggio <\/i>escolheu voltar para N\u00e1poles, onde se colocou sob a prote\u00e7\u00e3o de Constanza Sforza Colonna, marquesa de Caravaggio. Ali foi brutalmente agredido e quase morto. Suspeita-se de que os agressores tenham sido enviados pelos cavaleiros de Malta. O pintor ficou com uma marca no rosto e com sequelas da brutalidade sofrida. Ainda convalescia quando resolveu partir.<\/p>\n

Roma era a Meca do mundo civilizado para onde aflu\u00edam artistas de todas as partes da Europa. A cidade continuava na mente de Caravaggio<\/i>, cada vez mais confiante de que seu indulto estava prestes a acontecer. E para l\u00e1 se dirigiu por via mar\u00edtima, sendo preso no Porto de Ercole, conforme alegam alguns historiadores, mas acabou ficando livre. Outros, no entanto, dizem que o artista ficou aborrecido com a perda das pinturas que levava consigo, e ainda fragilizado pela febre, com o corpo cheio de feridas, depois de vagar pela praia, morreu possivelmente vitimado pela s\u00edfilis. Logo ap\u00f3s a sua morte, aos 39 anos, o papa Paulo V deu-lhe a absolvi\u00e7\u00e3o que tanto esperara.<\/p>\n

Nota:<\/span> <\/i>Caravaggio se autorretrata na composi\u00e7\u00e3o Os M\u00fasicos.<\/i> Ele \u00e9 o cantor \u00e0 direita, em segundo plano.<\/p>\n

Ficha t\u00e9cnica<\/span>
\nData: c. de 1595 \u2013 1596
\nDimens\u00f5es: 92 x 118,5 cm
\nMaterial: \u00f3leo sobre tela
\nLocaliza\u00e7\u00e3o: Metropolitan Museum of Art\/ Nova York\/ EUA<\/p>\n

Fontes de pesquisa:
\n<\/span>Grandes mestres da pintura\/ Cole\u00e7\u00e3o Folha
\nGrandes mestres\/ Abril Cole\u00e7\u00f5es
\nA hist\u00f3ria da arte\/ E. H. Gombrich
\nLos secretos de las obras de arte\/ Taschen<\/p>\n

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