{"id":335,"date":"2015-08-21T20:10:19","date_gmt":"2015-08-21T23:10:19","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=335"},"modified":"2022-08-12T22:04:22","modified_gmt":"2022-08-13T01:04:22","slug":"ram-munda-2-chegada-a-india","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/ram-munda-2-chegada-a-india\/","title":{"rendered":"RAM MUNDA (2) – CHEGADA \u00c0 \u00cdNDIA"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho
\n<\/strong><\/p>\n

\"Ramun<\/a><\/p>\n

O escritor franc\u00eas Marc Boulet chega \u00e0 \u00cdndia na \u00e9poca das mon\u00e7\u00f5es, quando o sol castiga e o ar \u00famido torna-se dif\u00edcil de ser respirado, colando na pele. Sem d\u00favida, uma \u00e9poca n\u00e3o muito auspiciosa para um europeu. A esta\u00e7\u00e3o das chuvas \u00e9 a mais dram\u00e1tica para os indianos miser\u00e1veis. Epidemias alastram-se. A popula\u00e7\u00e3o das favelas e a de desabrigados s\u00e3o as mais afetadas pelas doen\u00e7as provocadas pelos excrementos de animais,\u00a0 pelo aumento de v\u00edrus da\u00a0 mal\u00e1ria, pneumonia e tuberculose.<\/p>\n

Homens maltrapilhos misturam-se \u00e0s vacas nas cal\u00e7adas, numa inusitada comunh\u00e3o de corpos. Excrementos desses animais est\u00e3o por todo lado. \u00c9 imposs\u00edvel evit\u00e1-los, a menos que se opte por pisar nas pessoas deitadas. Dois medos estranhos apavoram o visitante: levar uma chifrada ou ser assaltado. Condutores de riquix\u00e1s insistem para levar o escritor Marc Bolet e sua mulher Gloire\u00a0 ao destino. Mas os dois optam por caminhar.<\/p>\n

\u00c0 medida que o sol esquenta, enxames de moscas esparramam-se por todos os lados, \u00e0 procura de lugares mais frescos, enquanto um fedor de latrina toma conta da atmosfera. \u00c9 comum encontrar homens urinando, agachados ou de p\u00e9, geralmente perto de uma parede. Alguns fazem o servi\u00e7o completo: urinam e evacuam. As fezes, misturadas ao l\u00edquido excrement\u00edcio expelido pelos rins, fermentam-se deixando o ar irrespir\u00e1vel.<\/p>\n

Em um modesto hotel, onde nada funciona, o casal aluga um quarto. Depois de descansar, parte para Benares (ou Varanasi), a mais sagrada das cidades do hindu\u00edsmo. Muitos a escolhem para morrer, pois ser cremado em Benares \u00e9 garantia de ter acesso imediato ao para\u00edso, sem depender dos merecimentos acumulados em vida. Segundo o Bhagavad-Gita (um dos livros sagrados dos hindus):<\/p>\n

\u201cO que nasceu deve morrer e o que morreu deve renascer.\u201d<\/em><\/p>\n

O rio Ganges estende-se ao longo da cidade. Nele, \u00e9 poss\u00edvel encontrar de tudo: desde res\u00edduos de destila\u00e7\u00e3o de petr\u00f3leo a cad\u00e1veres de humanos e animais. O escritor Mark Twain, ficou horrorizado ao ver o rio sagrado da mitologia hindu e personifica\u00e7\u00e3o de uma deusa, M\u00e3e Ganga, como um desaguadouro de esgotos, que corre a c\u00e9u aberto, chegando a comentar:<\/p>\n

\u201cAcho que nenhum micr\u00f3bio que se preze, viveria em uma \u00e1gua dessas.\u201d<\/em><\/p>\n

Marc Boulet e sua mulher escolhem morar em um bairro de Benares, onde alugam um apartamento calmo e \u00edntimo, de modo a poder dar continuidade a sua metamorfose sem ser flagrado. Por perto, existem muitos casebres, colados uns nos outros, com telhados de pl\u00e1stico, segurados por pedras, onde as pessoas criam porcos e possuem muitos c\u00e3es vira-latas.<\/p>\n

Na \u00cdndia, o porco \u00e9 visto como um animal impuro pelos hindus. S\u00f3 os intoc\u00e1veis comem de sua carne. Al\u00e9m de imundos, os dalits (ou intoc\u00e1veis) tamb\u00e9m s\u00e3o vistos como beberr\u00f5es. De modo que Marc Boulet foi advertido pelos vizinhos, para que n\u00e3o tivesse nenhum contato com \u201caquela gente\u201d. Mas o franc\u00eas n\u00e3o acata o conselho de passar o mais distante poss\u00edvel dos intoc\u00e1veis (dalits). O contato com eles \u00e9 o prop\u00f3sito maior das transforma\u00e7\u00f5es pelas quais vem passando.<\/p>\n

O escritor franc\u00eas descobre que o bhang<\/em>, esp\u00e9cie de haxixe, que se come, e a maconha s\u00e3o vendidos em lojas, publicamente. Ambos s\u00e3o produtos ind\u00edgenas, extra\u00eddos do c\u00e2nhamo indiano. Est\u00e3o associados \u00e0 religi\u00e3o hindu, assim como o vinho est\u00e1 para a Eucaristia, no catolicismo. H\u00e1 clientes de todos os tipos: desde aqueles bem vestidos aos maltrapilhos. N\u00e3o consideram como v\u00edcio o consumo de tais drogas.<\/p>\n

Aguardem o cap\u00edtulo 3 a seguir…<\/p>\n

Fonte de pesquisa:<\/span>
\nNa Pele de um Dalit\/ Marc Boulet\/ Editora Bertrand Brasil<\/p>\n

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