{"id":33856,"date":"2017-09-21T00:01:32","date_gmt":"2017-09-21T03:01:32","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=33856"},"modified":"2017-09-21T19:23:12","modified_gmt":"2017-09-21T22:23:12","slug":"lutando-contra-os-transtornos-mentais","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/lutando-contra-os-transtornos-mentais\/","title":{"rendered":"LUTANDO CONTRA OS TRANSTORNOS MENTAIS"},"content":{"rendered":"

Autoria de Ivo Ramalho<\/strong><\/span><\/p>\n

\"\"<\/a><\/p>\n

Eu me chamo Ivo e tenho 30 anos. Fui diagnosticado com S\u00edndrome do P\u00e2nico (SP) e Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) h\u00e1 dois anos. Tudo come\u00e7ou num s\u00e1bado pela manh\u00e3, quando acordei com uma tremedeira e dorm\u00eancia no corpo, sentindo calafrios, palpita\u00e7\u00e3o no cora\u00e7\u00e3o e dor no meio do peito. Levantei-me desesperado. Senti como se meu mundo estivesse desabando. Pedi aos meus pais para me levarem, com urg\u00eancia, ao hospital. A primeira coisa que veio \u00e0 minha cabe\u00e7a \u00e9 que estava tendo um infarto, e tive muito medo de que algo acontecesse. Passei por alguns exames e fiquei em observa\u00e7\u00e3o por algumas horas, sendo que nada foi constatado. Os m\u00e9dicos me disseram que n\u00e3o tinha nenhum problema.<\/span><\/p>\n

Ap\u00f3s a primeira ida ao hospital, aconteceram outras mais. A cada retorno eu me sentia pior, achando que era o meu fim. Em uma dessas idas, tive muitas dores na garganta e meu est\u00f4mago queimava muito. Encaminharam-me a um gastroenterologista, pois poderia ser da\u00ed que vinham minhas dores e tais sensa\u00e7\u00f5es no peito. Iniciei o tratamento ap\u00f3s receber os exames que apontavam uma esofagite erosiva. Fui acompanhado por uma nutricionista, que mudou radicalmente minha alimenta\u00e7\u00e3o. Obtive melhoras com as dores, por\u00e9m, fui tendo mais crises de p\u00e2nico, o que me deixava cada vez pior. Passava mal na faculdade, no trabalho, no supermercado, e em qualquer lugar. N\u00e3o dormia, sentia muito medo, chorava sem motivo aparente e n\u00e3o conseguia enfrentar minha rotina. E novamente cheguei a pensar que estava tendo problemas de cora\u00e7\u00e3o. Fui a um cardiologista que me pediu alguns exames. Nada foi constatado. Minha sa\u00fade estava em dia. Ele me tranquilizou e orientou-me a buscar ajuda psiqui\u00e1trica. Nessa altura eu estava sem ch\u00e3o, j\u00e1 n\u00e3o ia trabalhar, a vida na faculdade estava dif\u00edcil e sa\u00eda de casa cada vez menos. N\u00e3o conseguia me relacionar com ningu\u00e9m, pois tinha uma ang\u00fastia t\u00e3o forte dentro de mim, que afastava as pessoas.<\/span><\/p>\n

Fui ao psiquiatra, um \u00f3timo m\u00e9dico por sinal. Digo isso porque tinha preconceitos a respeito dessa especializa\u00e7\u00e3o. Ele me disse que eu enfrentava uma depress\u00e3o em raz\u00e3o da press\u00e3o na faculdade, no trabalho, com a fam\u00edlia e as muitas incertezas sobre meu futuro. Junto com a depress\u00e3o, ele disse que eu sofria de SP e TAG e que precisava de tratamento com psicoterapeuta e fazer uso de antidepressivo. Senti-me amedrontado de in\u00edcio e pedi para ele me dar um tempo, a fim de que eu pudesse tomar uma decis\u00e3o a respeito do tratamento com o rem\u00e9dio. Continuei passando mal por mais de um m\u00eas e, no retorno, acabei aceitando o antidepressivo recomendado. Tive medo de tomar o medicamento antes por pura falta de informa\u00e7\u00e3o. Comecei a ler na internet sobre os efeitos que trazia, e que n\u00e3o eram nada agrad\u00e1veis, mas o que n\u00e3o estava nada agrad\u00e1vel era a situa\u00e7\u00e3o em que me encontrava.<\/span><\/p>\n

Iniciei o tratamento com a dosagem recomenda. Ap\u00f3s algumas horas, eu pensei que iria morrer. Tudo havia voltado: dores pelo corpo, aperto no peito, palpita\u00e7\u00f5es, uma agita\u00e7\u00e3o fora do comum, muito frio e tontura. Senti muito medo e, n\u00e3o mais aguentando tais sintomas, fui ao hospital por uma poss\u00edvel seguran\u00e7a. O m\u00e9dico de plant\u00e3o disse-me que era poss\u00edvel existir uma rea\u00e7\u00e3o normal ao medicamento, e que deveria entrar em contato com meu psiquiatra. Atrav\u00e9s do contato feito, meu psiquiatra recomendou-me tomar a metade da dosagem durante uma semana, e depois a dose inteira. Confesso que fiquei com muito medo de ter todos os sintomas novamente, s\u00f3 voltando a tomar o rem\u00e9dio uma semana depois, ap\u00f3s me sentir mais seguro e estar com a minha fam\u00edlia por perto.<\/span><\/p>\n

Os sintomas continuaram mesmo com a dosagem pela metade. Quando tomei a dose inteira, eu me sentia ainda com dores de cabe\u00e7a e muito vazio por dentro. Somente ap\u00f3s um m\u00eas com o rem\u00e9dio e com a ajuda de terapias semanais, comecei a melhorar e deixar a depress\u00e3o e a S\u00edndrome do P\u00e2nico para tr\u00e1s. O medicamento foi muito importante, assim como as terapias e os exerc\u00edcios f\u00edsicos. Passei a enfrentar meus medos e a criar uma rotina mais saud\u00e1vel. Tamb\u00e9m me senti uma pessoa melhor, diferente de antes, mais perceptivo com meu corpo e com as pessoas a minha volta, e a achar mais gra\u00e7a na vida. Uma coisa importante e que fez muita diferen\u00e7a foi a minha espiritualidade, ou seja, a f\u00e9 em Deus.<\/span><\/p>\n

No ano passado fui dispensando do trabalho em que estava. Tinha tirado licen\u00e7a pelo INSS para seguir com o tratamento e, ao retornar, havia sido mandado embora. Estava com 10 meses de tratamento e uso de antidepressivo, por\u00e9m, com a perda do emprego tamb\u00e9m acabei perdendo meu conv\u00eanio, ficando mais dif\u00edcil manter as consultas e os rem\u00e9dios. No final do ano passado fui diminuindo a dosagem at\u00e9 n\u00e3o tomar mais o antidepressivo. Sei que n\u00e3o deveria ter feito essa retirada, sozinho, por\u00e9m, j\u00e1 n\u00e3o conseguia pagar mais as consultas e me sentia muito bem. Fazia acompanhamento psicol\u00f3gico pelo menos uma vez por m\u00eas e seguia com minha vida normalmente.<\/span><\/p>\n

O ano de 2017 estava indo muito bem. Dediquei-me aos estudos e recebi muito apoio da minha fam\u00edlia. Por\u00e9m, em agosto, passei por um epis\u00f3dio de SP. Tive alguns tremores, palpita\u00e7\u00e3o e tontura. Custei um pouco a dormir e acordei cansado. Dois dias depois veio nova crise, s\u00f3 que muito mais forte. Na noite seguinte encarava outra crise aguda de ansiedade e p\u00e2nico. Comecei a enfrentar dores pelo pesco\u00e7o, costas, pernas e muita dor de cabe\u00e7a. As crises tinham voltado piores e as dores insistiam em permanecer o dia todo. Era insuport\u00e1vel! Eu me sentia um lixo e n\u00e3o conseguia sair da cama, pois tudo voltou, afetando meu dia a dia, meus estudos e meu conv\u00edvio com as pessoas. Cheguei a pensar que era o fim, e a qualquer coisa diferente que acontecia o medo de morrer tornava-se real. Retomei o tratamento psiqui\u00e1trico. E nesta retomada, acabei descobrindo este espa\u00e7o maravilhoso. Venho acompanhando este blog h\u00e1 algumas semanas. Descobri-o quando reiniciei meu tratamento. Este espa\u00e7o s\u00f3 tem me ajudado, pois ao ler e ver as d\u00favidas que cada um traz e as afli\u00e7\u00f5es pelas quais passa, faz-me sentir menos sozinho com meus medos. Passei a compreender que n\u00e3o sou uma pessoa estranha. Existem milhares como eu.<\/span><\/p>\n

O tratamento est\u00e1 no come\u00e7o, ainda sinto dores de cabe\u00e7a, no est\u00f4mago e um aperto no peito. Tenho dificuldades para dormir, achando que n\u00e3o me levantarei no dia seguinte, ou, que serei acordado com uma crise. Isso tem afetado meu dia a dia, pois n\u00e3o s\u00e3o todos que entendem. \u00c9 dif\u00edcil para eu me levantar, mas tento encarar. O mais dif\u00edcil s\u00e3o as noites, pois, se estou na rua fico preocupado, se estou em casa tamb\u00e9m fico, e morro de dores pelo corpo. <\/span>H\u00e1 dias em que estou bem e noutros muito ruim, com medo de que meu cora\u00e7\u00e3o pare, que eu ca\u00eda e ningu\u00e9m me ajude. Ainda evito sair sozinho, e somente saio com quem conhe\u00e7o h\u00e1 mais tempo. Sei que muito tamb\u00e9m depende de mim, e, com a ajuda necess\u00e1ria, todos n\u00f3s sairemos desta, mas, no come\u00e7o do tratamento, esta doen\u00e7a castiga muito e nos derruba.<\/span><\/p>\n

Deixo o meu relato para outras pessoas que se encontram em situa\u00e7\u00e3o parecida. N\u00f3s iremos vencer! Tenho muito medo ainda, por\u00e9m estou tentando viver um dia de cada vez. Sinto que com mais tempo de rem\u00e9dio eu conseguirei enfrentar meus problemas e desafios, superando tudo e sentindo bem comigo mesmo. Sigo tentando…<\/span><\/p>\n

Nota:<\/u> O Grito<\/em>, obra de Edvard Munch<\/span><\/p>\n

 <\/p>\n

Views: 1<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Autoria de Ivo Ramalho Eu me chamo Ivo e tenho 30 anos. Fui diagnosticado com S\u00edndrome do P\u00e2nico (SP) e Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) h\u00e1 dois anos. Tudo come\u00e7ou num s\u00e1bado pela manh\u00e3, quando acordei com uma tremedeira e dorm\u00eancia no corpo, sentindo calafrios, palpita\u00e7\u00e3o no cora\u00e7\u00e3o e dor no meio do peito. Levantei-me […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[32],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/33856"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=33856"}],"version-history":[{"count":4,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/33856\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":33875,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/33856\/revisions\/33875"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=33856"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=33856"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=33856"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}