<\/a><\/p>\nTr\u00eas dias ap\u00f3s visitar a C\u00e2mara Federal, Xandeco optou por conhecer a segunda casa mais importante da governan\u00e7a brasileira, o Senado Federal, composta por 81 membros \u2013 representantes dos Estados brasileiros e do Distrito Federal \u2013, tr\u00eas membros para cada um, com um mandato de oito anos, o que ele achou um despaut\u00e9rio, pois se as figurinhas<\/em> forem ruins, o povo brasileiro ter\u00e1 que engolir sapo<\/em> por um tempo longo demais, podendo at\u00e9 mesmo morrer engasgado<\/em>. Ser\u00e1 que esses representantes se assemelham \u00e0 maioria dos primeiros que conhecera? Se assim forem, o Brasil est\u00e1 a andar na corda bamba<\/em>, pois os tais s\u00e3o os respons\u00e1veis por aprovar as indica\u00e7\u00f5es feitas pelo Poder Executivo que anda t\u00e3o limpo quanto pau de galinheiro<\/em>, ainda assim n\u00e3o h\u00e1 quem ate guizo ao pesco\u00e7o do gato mor. <\/em>Ao contr\u00e1rio, muitos est\u00e3o a aproveitar o carreto<\/em>, sem falar naqueles que foram apanhados com a boca na botija<\/em> e continuam posando de vestais da \u00e9tica,<\/em> quando j\u00e1 deveriam estar no olho da rua<\/em> ou vendo o sol nascer quadrado<\/em>. Mas no novo pa\u00eds do marciano tudo funciona ao contr\u00e1rio.<\/p>\nXandeco metamorfoseou-se num brasileiro comum e rumou para o Senado. L\u00e1 bateu com a cara na porta<\/em>, pois os nobres representantes dos Estados e do DF n\u00e3o trabalham nos finais de semana e, quando o fazem, trabalham para as galerias<\/em>. O marciano indagou na portaria o porqu\u00ea de andarem \u00e0 merc\u00ea das ondas<\/em>, pois ainda era quinta-feira. Os informantes, com cara de poucos amigos<\/em>, talvez pelo seu traje popular, disseram-lhe que os senadores precisam \u201cvisitar suas bases\u201d. Sabia que n\u00e3o era verdade \u2013 pois \u00e9 telepata \u2013, mas tamb\u00e9m compreendeu que os funcion\u00e1rios t\u00eam que amarrar o burro onde manda o dono<\/em>. Logo concluiu que a grande maioria dos representantes brasileiros gosta de amornar os ovos<\/em>. N\u00e3o passa pela sua cabe\u00e7a verde que um pa\u00eds com tantos problemas, estando seu povo a andar aos pontap\u00e9s da sorte<\/em>, possa se dar ao luxo<\/em> de ver seus principais representantes andando \u00e0 r\u00e9dea solta<\/em>, apenas acoando em sombra de corvo<\/em>, enquanto o povo trabalha como burro de carga<\/em>.<\/p>\nNa segunda-feira seguinte, Xandeco voltou ao Senado, usando terno e gravata, o que lhe garantiu o t\u00edtulo de \u201cdoutor\u201d. N\u00e3o era mais o z\u00e9-ningu\u00e9m<\/em>, o sujeito afogando em pouca \u00e1gua<\/em>, mas algu\u00e9m vestido nos conformes<\/em>. Os funcion\u00e1rios, que anteriormente pareciam ter acordado com a av\u00f3 atr\u00e1s do toco<\/em>, mostravam-se atenciosos, trazendo suas canjicas de fora. <\/em>O marciano, abismado, entendeu que a roupagem no Brasil faz toda a diferen\u00e7a \u2013 abrindo ou fechando portas<\/em>. O aspecto exterior \u00e9 o respons\u00e1vel por alimentar o fogo da disc\u00f3rdia<\/em>, numa rixa de opul\u00eancia versus pobreza. Em seu planeta, todos t\u00eam a mesma cor verde \u2013 variando apenas o matiz \u2013, somente a cor dos olhos indica a regi\u00e3o marciana de cada um. Pelo andar da carruagem<\/em>, Xandeco deduziu que o povo brasileiro ir\u00e1 aguentar o banzeiro<\/em> por muito tempo. Enquanto n\u00e3o aprender a escolher seus representantes ter\u00e1 que aguentar o diabo<\/em> e levar muito tombo<\/em>, a menos que queira atirar-se no mundo, <\/em>como est\u00e1 a fazer muita gente.<\/p>\nAo chegar ao plen\u00e1rio, ali se aboletou o marciano, aguardando o que estaria por vir. A delonga foi t\u00e3o grande que ele imaginou que os nobres representantes n\u00e3o fossem aluir uma palha<\/em>. Depois de muitos tapinhas nos ombros<\/em> \u2013 deles, \u00e9 claro! \u2013 risos e conversas ao p\u00e9 do ouvido<\/em>, teve in\u00edcio a sess\u00e3o. N\u00e3o tardou para que Xandeco compreendesse que tudo era como dantes no quartel de abrantes<\/em>, igualzinho ao que vira na C\u00e2mara Federal, onde ningu\u00e9m respeitava ningu\u00e9m. Uns arrotavam farofa <\/em>ali, outros arrotavam peidan\u00e7a <\/em>acol\u00e1, mais outros assistiam de bra\u00e7os cruzados<\/em>, torcendo para ver o circo pegando fogo<\/em>, enquanto os problemas do pa\u00eds eram adiados para as calendas gregas<\/em>. Pareciam querer que a gente brasileira continuasse amassando barro<\/em>. Eles s\u00f3 sabiam andar \u00e0s turras<\/em> \u2013 pensava o marciano \u2013, enquanto a gente brasileira andava de crista ca\u00edda<\/em> e de cabresto curto<\/em>, andando de Herodes para Pilatos<\/em>.<\/p>\nXandeco sentiu vontade de apanhar a trouxa<\/em> \u2013 se trouxa carregasse \u2013, pois n\u00e3o compreendia como um pa\u00eds t\u00e3o belo e com um povo t\u00e3o bom ficasse a andar para tr\u00e1s que nem rabo de cavalo<\/em>. Pela segunda vez sentiu temor por ter escolhido o Brasil como p\u00e1tria, pois o diabo andava \u00e0 solta<\/em> por todo lado. Seria necess\u00e1rio que as gentes parassem de andar com a orelha murcha<\/em> e armassem o maior quiproqu\u00f3<\/em> ou quizumba<\/em> para se verem livres de seus maus representantes, caso contr\u00e1rio continuariam a viver na rua da amargura<\/em>. Ele entrou em contato telep\u00e1tico com seu planeta para dizer que o Brasil andava \u00e0s avessas<\/em>, com os maiorais adorando o pr\u00f3prio umbigo<\/em>, enquanto o povo andava com o rabo entre as pernas<\/em>.<\/p>\nViews: 0<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Autoria de Lu Dias Carvalho Tr\u00eas dias ap\u00f3s visitar a C\u00e2mara Federal, Xandeco optou por conhecer a segunda casa mais importante da governan\u00e7a brasileira, o Senado Federal, composta por 81 membros \u2013 representantes dos Estados brasileiros e do Distrito Federal \u2013, tr\u00eas membros para cada um, com um mandato de oito anos, o que ele […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[47],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/34505"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=34505"}],"version-history":[{"count":10,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/34505\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":47846,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/34505\/revisions\/47846"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=34505"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=34505"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=34505"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}