\u00a0<\/strong>J\u00e1 n\u00e3o sou marinheira de primeira viagem, nem aqui no V\u00edrus da Arte, nem nesta \u201cdan\u00e7a\u201d da depress\u00e3o e dos transtornos de ansiedade\/p\u00e2nico.<\/p>\nH\u00e1 pouco menos de tr\u00eas anos tive o meu primeiro e aterrador epis\u00f3dio de ansiedade generalizada e p\u00e2nico, uma coisa que me deitou completamente abaixo, tanto a mente como o corpo, e que insistia em n\u00e3o passar. Na sequ\u00eancia, recomendaram-me um \u00f3ptimo psiquiatra e um \u00f3ptimo gastroenterologista que come\u00e7aram a acompanhar o meu caso. O diagn\u00f3stico: quadro de depress\u00e3o prolongada que se manifestou em ansiedade e p\u00e2nico e, para complicar as coisas, s\u00edndrome do intestino irrit\u00e1vel, que se manifestava, sobretudo, com diarreia e\/ou aumento da frequ\u00eancia das evacua\u00e7\u00f5es e gases. Na \u00e9poca, comecei a fazer uso de escitalopram que rapidamente fez efeito (uma semana), mas tamb\u00e9m rapidamente voltei a ter uma reca\u00edda.<\/p>\n
O psiquiatra recomendou-me aumentar a dosagem do antidepressivo, e assim fiz. Passado mais algum tempo, estava muito melhor (fiz tamb\u00e9m uma colonoscopia, cuja limpeza intestinal de prepara\u00e7\u00e3o ajudou muito a restabelecer os ritmos intestinais). As reca\u00eddas (ataques de p\u00e2nico) eram cada vez menos frequentes, at\u00e9 que desapareceram por completo. Estava bem! Sentia-me cheia de for\u00e7a, estava cheia de projectos, at\u00e9 ingressei num gin\u00e1sio e comecei a consultar um psic\u00f3logo para me ajudar a lidar com as contrariedades do dia a dia. A vida corria-me bem a n\u00edvel pessoal e come\u00e7ou tamb\u00e9m a correr melhor a n\u00edvel profissional! Voltei aos 10 mg do antidepressivo, cerca de ano e meio, talvez menos, e depois de uma rela\u00e7\u00e3o feliz com o amado escitalopram, estava eu a fazer o desmame. Tudo corria bem!<\/p>\n
Com as melhorias not\u00f3rias a variad\u00edssimos n\u00edveis, veio o excesso de confian\u00e7a, uma esp\u00e9cie de fase man\u00edaca (pelo menos, \u00e9 assim que eu a classifico na minha perspectiva de leiga). Os excessos nas sa\u00eddas com os amigos, os excessos de trabalho, o achar que era capaz de tudo e que tudo podia, achando-me quase uma supermulher. Mas claro que isto era apenas uma ilus\u00e3o, pois depois da mania vem a inevit\u00e1vel depress\u00e3o. Comecei a incorrer nos velhos erros, voltei com os maus h\u00e1bitos, tive algumas contrariedades em n\u00edvel pessoal e profissional, tive um desentendimento com o meu psic\u00f3logo e abandonei a psicoterapia (admito que reagi demasiado a quente a algo que me desagradou e n\u00e3o ponderei com justeza tudo aquilo que ele j\u00e1 tinha feito por mim). Voltei novamente a levar uma vida mais reclusa, com h\u00e1bitos muito noturnos e descurei muitos aspectos do meu bem-estar (deixei de ir ao gin\u00e1sio…), tudo enquanto me convencia que iria correr tudo bem e que ia conseguir ultrapassar sozinha aquilo que seria apenas uma pedra no caminho, mas acabava sempre por deixar muita coisa para “fazer no dia seguinte”.<\/p>\n
O trabalhar a partir de casa, ter tido uma les\u00e3o no joelho e o medonho inverno que se vive aqui por Portugal tamb\u00e9m n\u00e3o ajudaram… A verdade \u00e9 que entrei novamente numa espiral descendente, talvez ainda mais grave que anteriormente. H\u00e1 quase tr\u00eas semanas, com o estresse acumulado do trabalho e do segundo mestrado que estou a tirar, voltei \u00e0 ansiedade e, passados alguns dias ao tem\u00edvel p\u00e2nico… O frio no est\u00f4mago, o n\u00f3 na garganta, a falta de apetite, as n\u00e1useas, a vontade de evacuar quase constante durante o dia, os gases, a tens\u00e3o muscular abdominal, os suores, os tremores, o frio\/calor, o terror, a ang\u00fastia, \u201co medo do medo\u201d, voltou tudo. Felizmente, n\u00e3o guardo grandes mem\u00f3rias do meu primeiro epis\u00f3dio h\u00e1 quase tr\u00eas anos (a mente humana tem esta capacidade maravilhosa de ‘apagar’ as experi\u00eancias desagrad\u00e1veis), mas este novo cap\u00edtulo est\u00e1 a ser particularmente aterrador e paralisante.<\/p>\n
Os dois \u00faltimos dias em particular foram 48 horas de p\u00e2nico constante, apenas aliviado pelo alprazolam (o malfadado Xanax), ao qual estava a tentar fugir, mas sem sucesso. Voltei ao psiquiatra e ao escitalopram, ainda sem resultados, para al\u00e9m de alguns efeitos secund\u00e1rios (n\u00e3o sei se este agravamento n\u00e3o ser\u00e1 um efeito paradoxal de algum destes medicamentos), e vou voltar tamb\u00e9m \u00e0 psicoterapia e ao gastro. Mas sigo persistente e com esperan\u00e7a, tentando, sempre que poss\u00edvel, n\u00e3o me deixar dominar pelo medo. J\u00e1 derrotei isto uma vez, hei de derrotar uma segunda e todas as que forem necess\u00e1rias! Poder\u00e1 demorar mais tempo que da outra ocasi\u00e3o e poder\u00e3o ser necess\u00e1rios ajustes \u00e0 medica\u00e7\u00e3o, mas hei de l\u00e1 chegar! E, desta feita, aprendi muito com os erros do passado, que conto n\u00e3o voltar a repetir, pois agora j\u00e1 sei ao que eles, inevitavelmente, conduzem.<\/p>\n
Forte abra\u00e7o a todos os companheiros nesta travessia de mares turbulentos.<\/p>\n
Nota:<\/u> Mulher com Pombas,<\/em> obra do pintor Di Cavalcanti<\/p>\nViews: 0<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Autoria de Alexandra Carvalho \u00a0J\u00e1 n\u00e3o sou marinheira de primeira viagem, nem aqui no V\u00edrus da Arte, nem nesta \u201cdan\u00e7a\u201d da depress\u00e3o e dos transtornos de ansiedade\/p\u00e2nico. H\u00e1 pouco menos de tr\u00eas anos tive o meu primeiro e aterrador epis\u00f3dio de ansiedade generalizada e p\u00e2nico, uma coisa que me deitou completamente abaixo, tanto a mente […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[32],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/34822"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=34822"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/34822\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":34831,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/34822\/revisions\/34831"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=34822"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=34822"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=34822"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}