<\/a><\/strong><\/p>\nLu, quanto tempo! Eu continuo lendo todos os coment\u00e1rios novos e \u00e0s vezes revejo os antigos, para me lembrar de que mais pessoas est\u00e3o na mesma situa\u00e7\u00e3o que eu. Nesse tempo que fiquei longe, muitas coisas aconteceram comigo: troquei de rem\u00e9dios tr\u00eas vezes, passei pelo neurologista e quase perdi minha vida pelo descaso dos m\u00e9dicos consultados.<\/p>\n
Estava tomando o oxalato de escitalopram e melhorando aos poucos, mas de janeiro para c\u00e1 comecei a ter alguns sintomas diferentes que come\u00e7aram a atrapalhar a minha rotina. Fui piorando aos poucos. Passei por uma m\u00e9dica que trocou meu antidepressivo, achando que podia ser efeito do oxalato de escitalopram. Tomei o novo rem\u00e9dio durante um m\u00eas (n\u00e3o me lembro do nome), mas me sentia muito mal, cada vez pior. J\u00e1 n\u00e3o andava direito e estava perdendo o movimento das pernas. Voltei \u00e0 m\u00e9dica que o mudou para cloridrato de sertralina e mandou-me procurar um neurologista e assim fiz. Expliquei-lhe como estava me sentindo: fraqueza, formigamentos que me atrapalhavam andar (eu j\u00e1 arrastava a perna direita) e outros sintomas mais. Ele apenas disse que era estresse e me deu um rem\u00e9dio pra dormir que nem mesmo fez efeito.<\/p>\n
Fui ficando t\u00e3o doente, ao ponto de n\u00e3o conseguir sair da cama de tanta fraqueza. Todos os m\u00e9dicos consultados diziam que a causa era o Transtorno do P\u00e2nico. Contudo, um m\u00eas atr\u00e1s, eu acordei t\u00e3o mal que pedi pra me levarem ao pronto-socorro. A m\u00e9dica que me atendeu pediu logo um exame de sangue e constatou que eu estava com uma anemia grav\u00edssima. Fui para a Santa Casa, onde precisei fazer transfus\u00e3o de sangue imediatamente e voltei no mesmo dia para casa. No dia seguinte, por\u00e9m, fui internada de novo para fazer outra transfus\u00e3o e tratar uma grave pneumonia. O m\u00e9dico da equipe me olhou e disse que meu caso era muito dif\u00edcil de reverter, pois meu estado era grav\u00edssimo. Eu j\u00e1 estava pensando 53 quilos (pesava 67 antes), n\u00e3o comia uma refei\u00e7\u00e3o completa h\u00e1 quase um m\u00eas, mas apenas frutas. Mal conseguia ficar de p\u00e9.<\/p>\n
Gra\u00e7as a Deus, por ter um conv\u00eanio, os m\u00e9dicos da Santa Casa conseguiram salvar a minha vida (o SUS n\u00e3o aceitou o meu caso). Foram cinco bolsas de sangue no total, muito sofrimento, in\u00fameras picadas de inje\u00e7\u00e3o em diversos lugares, um mielograma muito dolorido e traumatizante, mas estou aqui, viva. Nesse tempo, eu tive que parar de tomar a sertralina, pois ela se misturava aos outros rem\u00e9dios e me fazia muito mal.<\/p>\n
Hoje j\u00e1 faz um m\u00eas que n\u00e3o tomo nada. Encontro-me bem, trabalhando, mas perdi o semestre da faculdade por causa da doen\u00e7a. Sempre tive anemia cr\u00f4nica, mas nunca tinha passado por isso. Durante todo o tempo, eu ficava acreditando que todos os sintomas eram relativos ao transtorno do p\u00e2nico e, por isso, quase perdi a vida. S\u00f3 ent\u00e3o percebi o quanto \u00e9 grande o descaso e a incompet\u00eancia dos m\u00e9dicos ao lidar com pessoas que tomam antidepressivos. \u00c9 uma verdadeira falta de responsabilidade, de respeito e de amor ao paciente. Eles s\u00e3o incapazes de pedir exames f\u00edsicos, achando que tudo diz respeito \u00e0 mente. Se tivessem me pedido exames de sangue no come\u00e7o, eu n\u00e3o teria passado por todo esse pesadelo.<\/p>\n
Este meu texto tem como objetivo alertar as pessoas que sofrem de transtornos mentais. Elas precisam parar de ter vergonha e se esconder, para que possam ser atendidas com dignidade. N\u00e3o podemos ser tratados de qualquer jeito, s\u00f3 porque temos uma doen\u00e7a\u00a0 mental. Precisamos ser respeitados e n\u00e3o mandados para casa com um calmante por um m\u00e9dico que nem sequer olha na nossa cara. Precisamos exigir que eles tamb\u00e9m voltem o olhar para o nosso corpo como um todo, trabalhando com outras possibilidades em raz\u00e3o de alguns sintomas que surgem, n\u00e3o agregando tudo ao antidepressivo ou \u00e0 s\u00edndrome mental. Precisam pedir um hemograma vez ou outra, conhecer um pouco do hist\u00f3rico de vida de cada paciente. N\u00e3o h\u00e1 como ter uma mente s\u00e3 num corpo doente. A medicina n\u00e3o pode ser t\u00e3o esquartejada (dividida em compartimentos espec\u00edficos) a ponto de comprometer a vida do paciente.<\/p>\n
Eu quase perdi a minha vida por causa de uma anemia perniciosa, ou seja, por falta de vitamina B12. Quase deixei minha fam\u00edlia e minha garotinha de tr\u00eas anos. Foram sete dias internada e sofrendo muito. Tudo teria sido resolvido com um simples exame de sangue. Ainda n\u00e3o descobriram o problema das minhas pernas, ainda estou com limita\u00e7\u00f5es para me locomover, mas estou viva e em tratamento, fazendo mais exames. Creio que logo tudo ir\u00e1 estar bem. Quanto ao antidepressivo, segundo a m\u00e9dica, tenho que tratar do corpo primeiro e depois da mente. Talvez eu volte ao oxalato escitalopram ou talvez nem precise mais dele, pois a falta de vitamina B12 causa tudo o que eu sentia, mas isso \u00e9 somente ela quem decidir\u00e1. Agora s\u00f3 pe\u00e7o a Deus sa\u00fade e que tudo volte ao normal.<\/p>\n
Lu, eu lhe agrade\u00e7o pelo carinho de sempre.<\/p>\n
Nota:<\/u> Crian\u00e7a Doente<\/em>, obra de Evard Munch<\/p>\nViews: 1<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Autoria de Elaine Santos Lu, quanto tempo! Eu continuo lendo todos os coment\u00e1rios novos e \u00e0s vezes revejo os antigos, para me lembrar de que mais pessoas est\u00e3o na mesma situa\u00e7\u00e3o que eu. Nesse tempo que fiquei longe, muitas coisas aconteceram comigo: troquei de rem\u00e9dios tr\u00eas vezes, passei pelo neurologista e quase perdi minha vida […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[32],"tags":[],"class_list":["post-35376","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-depoimentos-saude-mental"],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/35376","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=35376"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/35376\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":35382,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/35376\/revisions\/35382"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=35376"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=35376"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=35376"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}