<\/a><\/strong><\/p>\nDescobri que meu marido era bipolar quando ele teve um surto, ap\u00f3s nossa primeira separa\u00e7\u00e3o dentro do casamento, porque nos cinco anos de namoro foram in\u00fameras. Ele estava na fase de mania: andava irritado, falando coisas ao mesmo tempo, com o humor l\u00e1 nas alturas, querendo curtir a vida loucamente, gastando exageradamente com coisas banais, bebendo muito e dirigindo alcoolizado. A busca por ajuda m\u00e9dica nem passava por nossa cabe\u00e7a (minha e da fam\u00edlia dele) que n\u00e3o sab\u00edamos que se tratava de um transtorno mental. Al\u00e9m disso, ele tinha uma resist\u00eancia muito grande para consultar m\u00e9dicos, imagine ter que ir a um m\u00e9dico PSIQUIATRA. T\u00ednhamos tamb\u00e9m a falsa ideia de que a bipolaridade trazia mudan\u00e7as repentinas de humor (do dia pra noite) e isso n\u00e3o acontecia com ele. Apesar de eu ter percebido que ele vivia em ciclos, nunca imaginei que teria Transtorno Bipolar, achava que suas mudan\u00e7as eram relativas \u00e0 sua personalidade e jeito de ser.<\/p>\n
Certo dia, n\u00f3s brigamos por ele ter sa\u00eddo na noite anterior para curtir. Ele me agrediu com palavras, extremamente nervoso, quebrando coisas \u00e0 volta. Fui embora para a casa da minha m\u00e3e. No terceiro dia ligaram-me dizendo que ele estava mal, surtado, sem dormir, perdendo-se nos lugares e sem conseguir trabalhar. Queimou algumas roupas minhas, quebrou coisas dentro de nosso quarto e o levaram ao psiquiatra que lhe deu o diagn\u00f3stico de bipolaridade e 15 dias de atestado, al\u00e9m de prescrever medicamentos. Ele precisava fazer um exame de sangue para saber se prescreveria j\u00e1 o L\u00edtio, mas ele n\u00e3o quis faz\u00ea-lo e nem continuar o tratamento. T\u00ednhamos uns 10 anos juntos, entre namoro, noivado e casamento. Aquele diagn\u00f3stico fazia todo sentido.<\/p>\n
Meu ex-marido sempre tinha uma desculpa para n\u00e3o fazer o tratamento. Dizia que n\u00e3o aceitava ser bipolar e que o m\u00e9dico estava enganado no seu diagn\u00f3stico. Tempos depois, por estar extremamente depressivo e irritado, aceitou ir a uma m\u00e9dica que lhe passou rem\u00e9dios para controlar o humor, a irritabilidade e o sono (ele tinha fases de muita ins\u00f4nia e pesadelos). Por\u00e9m, alguns dos medicamentos, a princ\u00edpio, pioraram os sintomas e ele quis parar, n\u00e3o quis voltar \u00e0 m\u00e9dica, colocando v\u00e1rios defeitos nela. Possivelmente estava passando pelos efeitos adversos, al\u00e9m disso, os medicamentos s\u00e3o tamb\u00e9m testes, sendo que cada pessoa tem uma rea\u00e7\u00e3o diferente que precisa ser comunicada ao m\u00e9dico para que ele fa\u00e7a mudan\u00e7as, quando necess\u00e1rias.<\/p>\n
Os ciclos pelos quais passava meu ex-marido eram bem longos: meses com uma mania leve, meses ou semanas com uma mania mais forte e meses ou semanas com depress\u00e3o que, curiosamente, era sempre nos \u00faltimos meses do ano para os primeiros do ano seguinte. Na \u00e9poca de festas, f\u00e9rias e ver\u00e3o, ele estava sempre triste, calado, sem querer ver ningu\u00e9m. Havia come\u00e7ado terapia devido \u00e0 depress\u00e3o, mas sempre parava… Quando ainda n\u00e3o sab\u00edamos do que se tratava, e ele se encontrava na fase de mania leve, fic\u00e1vamos todos felizes, torcendo para que isso durasse. Nossa maior preocupa\u00e7\u00e3o era com a depress\u00e3o, por\u00e9m, ap\u00f3s o surto e o diagn\u00f3stico de bipolaridade, a mania mais severa come\u00e7ou a nos preocupar muito.<\/p>\n
Tivemos cinco anos de namoro entre muitas idas e vindas. Por muitas vezes, ele p\u00f4s fim no nosso relacionamento por estar confuso, querendo curtir a vida, sem limites para nada; noutras porque estava triste e qualquer coisa a mais seria um peso, pois nascera para viver sozinho; noutras vezes eu terminei por infidelidade dele, o que curiosamente acontecia na fase da mania, por\u00e9m, era sempre previs\u00edvel ele se arrepender e pedir para voltar, chorar, sofrer, emagrecer. Muitas vezes voltei por eu estar sofrendo; noutras por pena dele; algumas vezes por acreditar que mudaria. Ele sabia ser convincente e, por fim, criei uma depend\u00eancia emocional. Eu tenho TAG que leva ao p\u00e2nico e num dos nossos t\u00e9rminos tive crises muito fortes de ansiedade, o suficiente pra criar depend\u00eancia emocional. Achava que se n\u00e3o estivesse com ele iria sofrer sempre de p\u00e2nico, porque eu n\u00e3o tratava bem esse transtorno mental, pois confundia os conflitos da mente com os sentimentos.<\/p>\n
Gra\u00e7as a Deus n\u00e3o tivemos filhos. At\u00e9 tentamos, por\u00e9m, \u00e9 complicado, porque na fase depressiva a comunica\u00e7\u00e3o \u00e9 p\u00e9ssima. \u00a0Ele n\u00e3o falava comigo, n\u00e3o tinha libido. A essa altura, eu era mais m\u00e3e do que esposa dele, tentando anim\u00e1-lo, faz\u00ea-lo caminhar, tomar sol, abrir-se. Marcava m\u00e9dicos, tentava faz\u00ea-lo tomar a medica\u00e7\u00e3o, sempre buscando saber o porqu\u00ea de algu\u00e9m, que n\u00e3o tinha o costume de fumar e beber, consumir v\u00e1rios cigarros e beber muito. Al\u00e9m de me preocupar com meus problemas psicol\u00f3gicos, com os trabalhos de faculdade, com a organiza\u00e7\u00e3o da casa, etc., e ainda me preocupava o tempo todo com ele. Meu maior medo, na fase depressiva dele, era um dia chegar em casa e dar de cara com uma cena traum\u00e1tica para minha vida. Quando ele pediu para se separar de mim, tirou um peso das minhas costas. Eu j\u00e1 estava tratando minha TAG com psic\u00f3loga e medica\u00e7\u00e3o e consegui passar muito bem pela separa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
\u00c9 dif\u00edcil, hoje, um homem (ou mulher) bipolar n\u00e3o ser \u201cex-\u201d de algu\u00e9m, quando n\u00e3o faz o tratamento. Chega uma hora em que n\u00e3o se aguenta mais. Comigo foi assim na \u00faltima vez em que nos separamos. J\u00e1 saturada de tantas idas e vindas, eu n\u00e3o quis voltar mais. Estava cansada das indefini\u00e7\u00f5es, incertezas e sofrimento. Os problemas maiores s\u00e3o os conflitos e tamb\u00e9m o fato de voc\u00ea fazer parte de um ciclo vicioso que parece n\u00e3o ter fim. Conheci in\u00fameras ex-mulheres de portadores do Transtorno Bipolar. Elas me relataram parte de suas vidas com seus ex-maridos que n\u00e3o aceitaram o diagn\u00f3stico e tampouco o tratamento, ou n\u00e3o deram continuidade ao mesmo. Eles interrompem o tratamento porque n\u00e3o t\u00eam paci\u00eancia com os efeitos ruins de sua fase inicial. As mulheres s\u00e3o bem mais f\u00e1ceis de aceitar o transtorno e de se tratarem. Elas podem tomar medica\u00e7\u00e3o a vida inteira e viver muito bem em fam\u00edlia e em sociedade.<\/p>\n
Deixo aqui um alerta aos homens com este transtorno. Se quiserem ser felizes com a fam\u00edlia, trabalho e amigos precisam aceitar o tratamento. N\u00e3o adianta se arrepender depois de ter perdido a pessoa (namorada, noiva ou esposa) que amava. Quando aceitam o tratamento, a mulher compreende sua doen\u00e7a, tem mais paci\u00eancia e passa a redobrar seus cuidados com ele. Caso contr\u00e1rio, o \u00fanico caminho \u00e9 a separa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
Nota:<\/u> Amizade<\/em>, obra de Pablo Picasso.<\/p>\nViews: 32<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Autoria de Magdaline Santiago Descobri que meu marido era bipolar quando ele teve um surto, ap\u00f3s nossa primeira separa\u00e7\u00e3o dentro do casamento, porque nos cinco anos de namoro foram in\u00fameras. Ele estava na fase de mania: andava irritado, falando coisas ao mesmo tempo, com o humor l\u00e1 nas alturas, querendo curtir a vida loucamente, gastando […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[32],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/35385"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=35385"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/35385\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":35469,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/35385\/revisions\/35469"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=35385"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=35385"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=35385"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}