<\/a><\/strong><\/p>\nO Professor Herm\u00f3genes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a sa\u00fade f\u00edsica e mental.\u00a0 Neste texto retirado de seu livro \u201cYoga para Nervosos\u201d*, ele nos <\/strong><\/em>fala sobre a import\u00e2ncia dos desafios.<\/em><\/strong><\/p>\n\u00c9 raro encontrar entre as grandes figuras da arte, da ci\u00eancia, da literatura, da pol\u00edtica e da santidade aqueles que n\u00e3o tiveram uma longa vida de vicissitudes, necessidades e sofrimentos. Alfred Adler, psicanalista americano, defende a tese de que o “sentimento de ser inferior” \u00e9 o que move o homem a progredir e buscar vencer. S\u00e3o as insufici\u00eancias, as car\u00eancias desta ou daquela esp\u00e9cie que suscitam o esfor\u00e7o criador, o impulso para supera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
Frequentemente pessoas sofredoras me pedem orienta\u00e7\u00e3o, apoio e conforto. Escuto em sil\u00eancio, com interesse, e quanto mais simpatia em mim v\u00e3o sentindo, mais intensamente esperam palavras de piedade. Tenho escutado relatos comoventes, descri\u00e7\u00f5es ansiosas de transes bem dram\u00e1ticos e at\u00e9 confiss\u00f5es de inusitados v\u00edcios. Tenho recebido confid\u00eancias e queixas que, de t\u00e3o horr\u00edveis, parecem fant\u00e1sticas. Fico perplexo diante das muitas carrancas que a dor apresenta.<\/p>\n
Quanto sofrimento neste mundo! H\u00e1 dramas e trag\u00e9dias, mis\u00e9rias e degrada\u00e7\u00e3o em tantos, que me recordo do princ\u00edpio budista de que \u201cbasta existir para ser presa da dor\u201d. Terminada a entrevista, sentindo-se um pouco melhor por ter aliviado a tens\u00e3o com a abertura das comportas, \u00e9 natural o confidente desejar express\u00f5es piedosas de condol\u00eancias ou a declara\u00e7\u00e3o de que “n\u00e3o existe quem sofra tanto quanto ele” ou palavras como “coitadinho”.<\/p>\n
Costumo frustrar esta expectativa, dizendo com a maior sinceridade: “Meus parab\u00e9ns!”. Se n\u00e3o adiantasse logo as raz\u00f5es de meu proceder, por certo mereceria ser chamado de “insens\u00edvel” ou mesmo debochado, pois n\u00e3o se deve fazer tro\u00e7a dos dramas do pr\u00f3ximo. Apresso-me em desmanchar a cara de perplexidade e de decep\u00e7\u00e3o do interlocutor, completando: Se seu sofrimento e dificuldades s\u00e3o t\u00e3o grandes, meus parab\u00e9ns, pois voc\u00ea conta com um dos fatores indispens\u00e1veis para progredir:voc\u00ea tem aquilo que pode levar a superar-se a si mesmo;<\/p>\n
\n- voc\u00ea conta com o que faz o ser humano realizar-se, tornar-se melhor, transformar-se, curar-se, vencer a dist\u00e2ncia que o separa da Perfei\u00e7\u00e3o;<\/li>\n
- voc\u00ea tem aquilo sem o qual o ser humano se deteriora na estagna\u00e7\u00e3o ou mesmo regride;<\/li>\n
- voc\u00ea tem a arma da vit\u00f3ria que \u00e9 o desafio do sofrimento;<\/li>\n
- voc\u00ea alcan\u00e7ou o reconhecimento de algo essencial <\/em>a realizar. A dor impulsiona o engrandecimento. Suas dificuldades, imperfei\u00e7\u00f5es ou mis\u00e9rias s\u00e3o-lhe desafio;<\/li>\n
- voc\u00ea tem um desafio. Aceite-o. Enfrente-o. Aproveite-o para sua evolu\u00e7\u00e3o. Aceite sua situa\u00e7\u00e3o dif\u00edcil, n\u00e3o como uma desgra\u00e7a e motivo para lamuriar-se; n\u00e3o como algo que vai destru\u00ed-lo, mas como a condi\u00e7\u00e3o para desenvolver suas potencialidades.<\/li>\n<\/ul>\n
\u00c9 no sofrimento de fogo e martelada que um peda\u00e7o de ferro bruto \u00e9 transformado em um objeto de beleza ou utilidade. A falta de pernas faz nascer as asas no verdadeiro homem. N\u00e3o se esque\u00e7a de que a viol\u00eancia da poda torna a \u00e1rvore mais bonita e vitalizada. Lembre-se de que a terra cujo lombo \u00e9 rasgado pelas p\u00e1s do arado ganha fertilidade. Assim \u00e9 com o ser humano. Os desafios da desventura podem amadurecer a personalidade. As l\u00e1grimas que derramamos na dor n\u00e3o s\u00e3o de lastimar, pois enriquecem os dias de experi\u00eancia.<\/p>\n
Quero que voc\u00ea me aponte algu\u00e9m que se aperfei\u00e7oou, fortaleceu-se, floresceu em obras, fez-se her\u00f3i, santo ou s\u00e1bio atrav\u00e9s do prazer e na aus\u00eancia da dor. N\u00e3o sou partid\u00e1rio de um ascetismo masoquista. Longe de mim achar que \u00e9 preciso sofrer o mart\u00edrio para poder ganhar o c\u00e9u. Ao contr\u00e1rio, acho loucura o que certos m\u00edsticos praticam: a autoflagela\u00e7\u00e3o. Afirmo o contr\u00e1rio. Creio que a tend\u00eancia leg\u00edtima e fundamental do ser humano \u00e9 a busca da felicidade. Esta, no entanto, nem significa a aus\u00eancia de adversidade e dor, nem \u00e9 sin\u00f4nimo de gozo e prazer. Ser feliz \u00e9 pairar acima das vicissitudes. Ser feliz, eu creio, consiste em viver liberto tanto do apego ao prazer, como do medo da dor.<\/p>\n
*O livro \u201cYoga para Nervosos\u201d encontra-se em PDF no Google.<\/p>\n
Nota:<\/u> A Conquista da Lua<\/em>, obra de Vicente do Rego Monteiro<\/p>\nViews: 0<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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