fala sobre o perigo que os v\u00edcios nos trazem.
\n<\/em><\/strong><\/p>\n“Tenho que deixar isto, que est\u00e1 me matando”, dizia o indiv\u00edduo sob um ataque de tosse br\u00f4nquica e meio afogado em gosma, mostrando um toco de cigarro entre os dedos amarelados de nicotina. Ele \u00e9 o s\u00edmbolo do homem acorrentado. Seus grilh\u00f5es s\u00e3o feitos de fumo. De outros, podem ser de \u00e1lcool. Todos os grilh\u00f5es s\u00e3o fort\u00edssimos e o s\u00e3o exatamente na medida da fragilidade dos acorrentados. A maioria deles quer se libertar ou necessita de libertar-se porque, seja o fumo, seja o \u00e1lcool, o jogo ou alguns maus h\u00e1bitos, seus tiranos lhe trazem enfermidade, sofrimento e, \u00e0s vezes, abje\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
Todos os grilh\u00f5es causam preju\u00edzos ao psiquismo, merc\u00ea de demonstrarem ao pr\u00f3prio homem que ele est\u00e1 vencido e que \u00e9 escravo, t\u00edbio e sem vontade. Quem quer que chegue a esta condi\u00e7\u00e3o sofre muito com o reconhecimento de sua servid\u00e3o que considera ser sem esperan\u00e7a. Diante de cada frustrada tentativa de resistir, mais infeliz se torna e mais vencido se sente. Seja toxic\u00f4mano, alco\u00f3latra, tabagista, viciado em jogo ou v\u00edtima de comportamentos compulsivos, pensamentos obsessivos e tiques nervosos, o homem \u00e9 uma presa dum c\u00edrculo vicioso que inexoravelmente o domina e o deprecia.<\/p>\n
O \u00e1lcool, os t\u00f3xicos e o fumo, al\u00e9m do mais, interferem tamb\u00e9m destrutivamente sobre o pr\u00f3prio organismo. E este efeito nefando provoca medo no viciado. A situa\u00e7\u00e3o daquele que, v\u00edtima das garras do pecado (erro) <\/em>necessita deix\u00e1-lo, sentindo a impot\u00eancia de faz\u00ea-lo, Ramakrishna comparou \u00e0 de uma serpente, que tendo abocanhado um malcheiroso rato almiscarado, quer dele se livrar, mas n\u00e3o pode, pois em virtude do formato dos dentes, o rato n\u00e3o se desprega. Assim \u00e9 o viciado que conhece o mal que o v\u00edcio lhe faz e, no entanto, n\u00e3o consegue deix\u00e1-lo. Nesta situa\u00e7\u00e3o \u00e9 comum o viciado recorrer ao que a psican\u00e1lise chama uma racionaliza\u00e7\u00e3o, <\/em>isto \u00e9, usar a raz\u00e3o para forjar “raz\u00f5es” consoladoras e explicativas, para com elas “justificar-se” diante de si mesmo e dos outros, pelos atos que \u00e9 coagido a praticar, que n\u00e3o pode evitar, merc\u00ea de compuls\u00f5es subconscientes.<\/p>\nO \u00e9brio bebe “para esquecer”, ou porque “o \u00e1lcool \u00e9 vaso dilatador”, ou “para desinibir-se”, ou “porque est\u00e1 fazendo frio”. A primeira forma de vencer o v\u00edcio \u00e9 n\u00e3o permitir que nas\u00e7a. A segunda \u00e9 impedir que cres\u00e7a. A terceira \u00e9 a erradica\u00e7\u00e3o progressiva e inteligente. Evitar que a semente daninha ca\u00eda em seu quintal \u00e9 a mais eficiente maneira de n\u00e3o precisar arrancar a frondosa \u00e1rvore depois. Um v\u00edcio se forma aos poucos, seguindo est\u00e1gios. O primeiro cigarro que se fuma, com certo desprazer, \u00e9 o in\u00edcio de um processo que poder\u00e1 vir a tomar conta da v\u00edtima. O meninote acendeu seu primeiro cigarro, por for\u00e7a da sugest\u00e3o dos de sua idade e tamb\u00e9m porque o cigarro representa para ele a masculinidade que, ainda imaturo, deseja ter.<\/p>\n
O in\u00edcio de um v\u00edcio \u00e9 quase sempre destitu\u00eddo de prazer, e especialmente no caso do cigarro e do \u00e1lcool, chega at\u00e9 a ser desagrad\u00e1vel. Constitui mesmo um sacrif\u00edcio necess\u00e1rio <\/em>\u00e0quele que deseja “se mesmificar” isto \u00e9, ficar igual aos outros. A segunda fase surge quando, imperceptivelmente, o desagrado vai cedendo e j\u00e1 n\u00e3o h\u00e1 sacrif\u00edcio. Aquilo que era mal recebido pelo organismo, por ser antinatural, come\u00e7a a ser aceito. Podemos dizer que o fumo ou o \u00e1lcool, nesta fase, nem d\u00e1 prazer nem desprazer. S\u00e3o neutros. Ainda aqui \u00e9 simples cortar o processamento. Est\u00e1-se entrando na terceira fase quando j\u00e1 se fuma ou bebe com certo gosto. Agora mais fortes v\u00e3o se tornando as correntes e o indiv\u00edduo come\u00e7a a capitular de sua condi\u00e7\u00e3o de agente livre, de ser humano dono de si mesmo.<\/p>\nA quarta fase \u00e9 aquela na qual o organismo, j\u00e1 condicionado, s\u00f3 se sente normal quando \u00e9 atendido em suas necessidades do agente condicionante. Da\u00ed por diante, tamb\u00e9m o psiquismo s\u00f3 se acalma depois que o viciado cumpre o “ritual”. Est\u00e1 a \u00e1rvore daninha dominando a \u00e1rea. O viciado, embora se sentindo covarde e desgra\u00e7ado, embora sabendo que est\u00e1 minando o corpo e a alma, n\u00e3o tem como resistir \u00e0s imposi\u00e7\u00f5es da necessidade de aplacar seu psiquismo e seu corpo sedentos do objeto do v\u00edcio: seja o copo, o cigarro ou o barbit\u00farico. \u00c9 a fase da depend\u00eancia <\/em>org\u00e2nica e ps\u00edquica.<\/p>\nNo caso do jogo, o processamento \u00e9 semelhante, atendendo, naturalmente \u00e0s peculiaridades. O fasc\u00ednio pelo risco de perder e a esperan\u00e7a de ganhar ou recuperar o que j\u00e1 perdeu, prisioneiro mant\u00e9m o jogador, que embora veja que est\u00e1 sacrificando tempo, energias, nervos, sa\u00fade, dinheiro, fam\u00edlia e, \u00e0s vezes, dignidade, \u00e9 impotente para afastar-se da mesa do v\u00edcio. O b\u00eabado de hoje poderia ser pessoa s\u00f3bria e com autodom\u00ednio se, em certo momento do passado, n\u00e3o tivesse cedido \u00e0 “inicia\u00e7\u00e3o”.<\/p>\n
*O livro \u201cYoga para Nervosos\u201d encontra-se em PDF.<\/p>\n
Nota:<\/u> O Absinto<\/em>, obra de Edgar Degas<\/p>\nViews: 0<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Autoria do Prof. Herm\u00f3genes O Professor Herm\u00f3genes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a sa\u00fade f\u00edsica e mental.\u00a0 Neste texto retirado de seu livro \u201cYoga para Nervosos\u201d*, ele nos fala sobre o perigo que os v\u00edcios nos trazem. “Tenho que deixar isto, que est\u00e1 me matando”, dizia o […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[46],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/35814"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=35814"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/35814\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":35900,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/35814\/revisions\/35900"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=35814"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=35814"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=35814"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}