{"id":3740,"date":"2013-04-21T16:32:00","date_gmt":"2013-04-21T19:32:00","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=3740"},"modified":"2015-10-09T20:36:51","modified_gmt":"2015-10-09T23:36:51","slug":"o-alvorecer-da-comunicacao-na-idade-media","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/o-alvorecer-da-comunicacao-na-idade-media\/","title":{"rendered":"O ALVORECER DA COMUNICA\u00c7\u00c3O NA IDADE M\u00c9DIA"},"content":{"rendered":"
Autoria do Prof. Pierre Santos<\/strong><\/p>\n \u00a0<\/a> \u00a0 \u00a0<\/a>\u00a0 \u00a0 <\/a><\/p>\n Hoje trago para os meus leitores o significado de certas manifesta\u00e7\u00f5es de comunica\u00e7\u00e3o e de arte medievais como c\u00f3dice, salt\u00e9rio, iluminura, miniatura, Livro de Rezas, Livro dos Evangelhos, Livro de Horas, volumen, incun\u00e1bulo,<\/i> enfim de tudo que se relaciona a essa forma de comunica\u00e7\u00e3o escrita e iluminada (a mesma coisa que ornamentada) a qual, no in\u00edcio, era feita pelos monges nos mosteiros rom\u00e2nicos da Idade M\u00e9dia.<\/p>\n A magn\u00edfica arte da iluminura<\/span>, que teve seu in\u00edcio na baixa Idade M\u00e9dia<\/i>, atravessou todo o per\u00edodo rom\u00e2nico e, dentro daquele mesmo esp\u00edrito primevo com que apareceu, foi dar os seus \u00faltimos frutos dentro do contexto do chamado G\u00f3tico Internacional<\/i> ou Tardio<\/i>, nas regi\u00f5es europeias boreais principalmente. Todas aquelas aspira\u00e7\u00f5es que embalaram o estilo g\u00f3tico foi conhecer seu crep\u00fasculo na arte miniatural dos t\u00e3o famosos Irm\u00e3os Limbourg<\/i>, de resto os derradeiros iluminadores do g\u00f3tico, os quais, por sinal, eram n\u00f3rdicos, autores do \u00faltimo Livro de Horas <\/i>do estilo, talvez o mais bonito de todos.<\/p>\n Os Irm\u00e3os Limbourg<\/i> foram \u00a0os respons\u00e1veis pelo esgotamento, em sua regi\u00e3o, de uma tend\u00eancia que se cansava, ao mesmo tempo em que d\u00e3o abertura \u00e0 afirma\u00e7\u00e3o de outra, que logo em seguida tomaria corpo a partir da obra de Mestre de Fl\u00e9malle<\/i>. A\u00ed temos, portanto, o elo entre o G\u00f3tico Tardio<\/i> e a Arte de al\u00e9m Alpes<\/i>. Contudo, \u00e9 bom que se frise: acabava com os Irm\u00e3os Limbourg<\/i> aquela esp\u00e9cie de comunica\u00e7\u00e3o \u00e0 maneira medieval; entretanto, ainda ter\u00edamos Livros de Horas<\/i> e outros, mas com diferentes caracter\u00edsticas, durante a Renascen\u00e7a<\/i> e o Barroco<\/i>, mais elaborados, mais completos, com t\u00e9cnicas superiores, todavia sem a singeleza das anteriores que encantava.<\/p>\n Referi-me acima aos monges copistas, cuja profiss\u00e3o teve na \u00e9poca muita raz\u00e3o de ser e progrediu bastante. Vejamos, pois, como tudo aconteceu. Desde o in\u00edcio da era rom\u00e2nica, naquele momento em que o apelo sedutor do Cristianismo<\/i> atuava com veem\u00eancia e a hoste dos fi\u00e9is ia aumentando mais e mais, os dirigentes do culto se viram na prem\u00eancia de dotar as comunidades de locais apropriados e devidamente grandes, que pudessem abrigar as multid\u00f5es durante a realiza\u00e7\u00e3o dos of\u00edcios e das ora\u00e7\u00f5es. Os arquitetos corresponderam \u00e0 expectativa, ajudados pela popula\u00e7\u00e3o de cada localidade, e a Europa se cobriu de norte a sul de belos templos rom\u00e2nicos. Simultaneamente, constru\u00edram-se tamb\u00e9m os mosteiros nas mais variadas regi\u00f5es, para abrigar significativa parte do sacerd\u00f3cio, guardi\u00e3o da base a da hist\u00f3ria da religi\u00e3o.<\/p>\n \u00c0quela altura, tanto os monges, que recebiam nos monast\u00e9rios grupos numerosos de fi\u00e9is em peregrina\u00e7\u00e3o, como os p\u00e1rocos das igrejas urbanas, come\u00e7aram a sentir a falta de um substrato material em que a plebe pudesse apoiar-se, para entender e acompanhar a liturgia. Desta necessidade nasceu a id\u00e9ia de se definir, por escrito, as pe\u00e7as necess\u00e1rias na composi\u00e7\u00e3o lit\u00fargica dos of\u00edcios e dos mist\u00e9rios do culto. Esse trabalho, como naquele instante n\u00e3o podia deixar de ser, ficou desde o in\u00edcio sob a responsabilidade dos mosteiros.<\/p>\n Os monges para tanto mais habilidosos foram se especializando na fun\u00e7\u00e3o de elaborar e copiar o material compreendido de ora\u00e7\u00f5es, atos, salmos e c\u00e2nticos que eram usados nos rituais e ficariam contidos num c\u00f3dice <\/i>(codex em latim, esp\u00e9cie de livro), que a rigor formava um verdadeiro Livro de Rezas<\/i>, inicialmente dispostos de modo muito simples, mas que com o tempo foram sendo sofisticados em suas capitulares <\/i>(capitular era a primeira letra de um texto, sempre bem maior do que as demais letras e muito bem trabalhada) e em suas iluminuras<\/i> (que ornamentavam e ilustravam as p\u00e1ginas principais do c\u00f3dice).<\/p>\n Os primeiros trabalhos ainda foram feitos em forma de rolos de tiras de papiro, que atingiam at\u00e9 seis metros de comprimento; quando enrolados, tinham altura pr\u00f3xima a seis cent\u00edmetros; a escrita e as ilustra\u00e7\u00f5es se faziam no sentido da abertura, tudo dividido em p\u00e1ginas, e n\u00e3o no sentido do fim do rolo. Logo se percebeu que tal formato n\u00e3o se prestava aos objetivos; ato cont\u00ednuo, come\u00e7aram a preparar um c\u00f3dice livresco com v\u00e1rios cadernos costurados para formar o conjunto, sendo que cada caderno levava o nome de volumen<\/i>. Nesses c\u00f3dices, que eram em sua forma\u00e7\u00e3o o Livro de Rezas,<\/i> <\/b>encontramos a origem do Salt\u00e9rio,<\/i> do Livro dos Evangelhos<\/i> e do Livro das Horas<\/i>, sobre os quais falaremos oportunamente.<\/p>\n Contudo, havia uma realidade angustiante: a grande maioria da popula\u00e7\u00e3o era de pessoas analfabetas. Entretanto, em cada comunidade sempre havia muitas pessoas que eram alfabetizadas, algumas at\u00e9 cultas. Estas eram escolhidas para l\u00edderes de grupos. Digamos que, numa par\u00f3quia, cerca de trezentas pessoas podiam acompanhar os rituais; essas eram divididas em dez grupos de trinta e cada um tinha o seu l\u00edder, que era encarregado de ensinar-lhes as rezas e os c\u00e2nticos, os quais eram decorados por todos.<\/p>\n Os copistas dos mosteiros recebiam dos p\u00e1rocos encomendas de certo n\u00famero de c\u00f3dices do Livro de <\/b>Rezas<\/i>, que ficavam guardados nas sacristias, para serem usados pelos sacerdotes e pelos l\u00edderes, seja durante os of\u00edcios lit\u00fargicos, seja durante os encontros para instru\u00e7\u00f5es dos grupos. Acontecia, por\u00e9m, que muita gente da turba tinha o interesse despertado para o aprendizado da leitura. A\u00ed, os l\u00edderes tornavam-se os mestres, e os c\u00f3dices, cartilhas. Isso era uma coisa muito linda, porque muita gente assim aprendia a ler e a ir al\u00e9m dos c\u00f3dices, que at\u00e9 ent\u00e3o eram muito simples.<\/p>\n O arranjo ali foi perfeito: os monast\u00e9rios passaram a ter uma digna e constante ocupa\u00e7\u00e3o; os monges, uma digna profiss\u00e3o, que s\u00f3 fazia crescer e dar-lhes boa renda; e boa parte da multid\u00e3o iletrada, um modo poss\u00edvel de aprender a ler, enquanto o p\u00e1roco ficava com a certeza e a tranquilidade de que os cultos estavam sendo bem acompanhados. Algo, entretanto, incomodava os dirigentes da igreja: naqueles c\u00f3dices de estrutura mais simples s\u00f3 podiam ser inclu\u00eddos alguns poucos salmos<\/i>, e s\u00f3 os mais importantes, enquanto eles s\u00e3o em n\u00famero de cento e cinquenta, dos quais a metade era cantada diariamente, em v\u00e1rios rituais e em v\u00e1rias partes da liturgia, sendo a outra metade reservada para ocasi\u00f5es especiais. Al\u00e9m disso, os Evangelhos<\/i>, mat\u00e9ria t\u00e3o importante para a propaga\u00e7\u00e3o e compreens\u00e3o da f\u00e9, ficavam de fora<\/p>\n Assim, j\u00e1 adiantado o s\u00e9culo VIII, resolveu-se criar o salt\u00e9rio<\/i>, esp\u00e9cie de c\u00f3dice que contivesse os cento e cinquenta salmos e outras pe\u00e7as, que ali eram dispostos de acordo com sua utiliza\u00e7\u00e3o, divididos em partes lit\u00fargicas e obedecendo \u00e0 ordem estabelecida pelas Horas can\u00f4nicas<\/i>. Os copistas n\u00e3o se limitavam a inscrever apenas as letras dos salmos, n\u00e3o raro precedidas por ligeira explica\u00e7\u00e3o de sua natureza e objetivo, mas quase sempre as faziam acompanhar-se da pauta musical correspondente, para evitar distor\u00e7\u00f5es de canto. Tudo isto, naturalmente, era desenhado sobre pergaminho, que substituiu o papiro no qual se registraram os primeiros c\u00f3dices, porque mais duradouro.<\/p>\n Ilustra\u00e7\u00e3o: Views: 1<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Autoria do Prof. Pierre Santos \u00a0 \u00a0 \u00a0\u00a0 \u00a0 Hoje trago para os meus leitores o significado de certas manifesta\u00e7\u00f5es de comunica\u00e7\u00e3o e de arte medievais como c\u00f3dice, salt\u00e9rio, iluminura, miniatura, Livro de Rezas, Livro dos Evangelhos, Livro de Horas, volumen, incun\u00e1bulo, enfim de tudo que se relaciona a essa forma de comunica\u00e7\u00e3o escrita e […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[13],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3740"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=3740"}],"version-history":[{"count":9,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3740\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":23528,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3740\/revisions\/23528"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=3740"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=3740"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=3740"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}
\n<\/span>1. Reis Magos<\/i>, C\u00f3dice de origem francesa, s\u00e9c. XIII, manuscrito em velino, tipo pergaminho.
\n2. Frade pintando<\/i> um manuscrito do s\u00e9c. XI.
\n3. Pentecoste<\/i>, do Salt\u00e9rio de Ingeborg, rainha da Dinamarca, 1200, Museu Cond\u00e9, Chantilly<\/p>\n