{"id":40844,"date":"2020-10-16T00:01:50","date_gmt":"2020-10-16T03:01:50","guid":{"rendered":"https:\/\/virusdaarte.net\/?p=40844"},"modified":"2022-09-11T18:18:10","modified_gmt":"2022-09-11T21:18:10","slug":"artistas-medievais-aula-24","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/artistas-medievais-aula-24\/","title":{"rendered":"ARTISTAS MEDIEVAIS (Aula n\u00ba 24)"},"content":{"rendered":"\n
Autoria de Lu Dias Carvalho<\/strong>\u00a0\u00a0 <\/p>\n \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0\u00a0 <\/a>\u00a0 <\/a> \u00a0<\/a> O conhecimento sobre os objetivos dos artistas da Idade M\u00e9dia \u00e9 um facilitador na compreens\u00e3o de suas obras. O ponto central \u00e9 o entendimento de que a eles n\u00e3o interessava criar uma parecen\u00e7a convincente com a natureza ou dar vida a belas obras. Interessava-lhes t\u00e3o somente repassar aos crist\u00e3os iguais a eles os conte\u00fados b\u00edblicos. Exigir deles qualquer outro objetivo seria desconhecer a \u00e9poca em que viveram, \u00e9poca essa em que a f\u00e9 crist\u00e3 passou a assumir um papel cada vez maior no Ocidente, direcionando a vida das pessoas. Como j\u00e1 vimos, a arte \u00e9 uma consequ\u00eancia dos fatos ocorridos num determinado per\u00edodo da hist\u00f3ria da humanidade, quer seja como ades\u00e3o a esses ou como cr\u00edtica.<\/p>\n A primeira ilustra\u00e7\u00e3o acima intitulada \u201cCristo Lavando os P\u00e9s dos Ap\u00f3stolos\u201d, reproduzida de um livro dos Evangelhos que foi ilustrado (ou \u201ciluminado\u201d), \u00e9 um exemplo do papel que os art\u00edfices medievais exerciam no que diz respeito \u00e0 arte. O artista retratou a passagem b\u00edblica (Jo\u00e3o:13, 8-9) que narra o gesto de Cristo que, ap\u00f3s a \u00daltima Ceia, lava os p\u00e9s de seus ap\u00f3stolos. Ao artista somente interessou a interpreta\u00e7\u00e3o do di\u00e1logo b\u00edblico. Sentiu que n\u00e3o era necess\u00e1rio apresentar a sala onde a cena aconteceu, pois, conforme a vis\u00e3o religiosa da \u00e9poca, qualquer coisa que n\u00e3o fosse estritamente necess\u00e1ria desviaria a aten\u00e7\u00e3o dos fi\u00e9is do significado maior do acontecimento. Assim, as principais figuras s\u00e3o colocadas em primeiro plano, diante de um fundo dourado, plano e brilhante, retratando uma edifica\u00e7\u00e3o, o que d\u00e1 um destaque ainda maior aos gestos dos personagens da cena.<\/p>\n Na composi\u00e7\u00e3o vemos a gesticula\u00e7\u00e3o de S\u00e3o Pedro, \u00e0 esquerda, pedindo a Cristo que n\u00e3o o deixe lavar seus p\u00e9s e em resposta v\u00ea o gesto sereno de seu Mestre. Atr\u00e1s de Jesus encontra-se um ap\u00f3stolo com uma bacia nas m\u00e3os, enquanto outro, logo atr\u00e1s, descal\u00e7a a sand\u00e1lia. Os demais disc\u00edpulos, surpresos, amontoam-se atr\u00e1s de S. Pedro. Todos os olhares dos personagens convergem para o centro da cena, onde se encontra Jesus, com a finalidade de mostrar que ali acontece algo de grande import\u00e2ncia. Ao pintor n\u00e3o interessou o formato estranho da bacia, tampouco a eleva\u00e7\u00e3o esquisita da perna de S. Pedro, a fim de mostrar o p\u00e9 fora da \u00e1gua. Tudo tinha como \u00fanico objetivo repassar a mensagem de humildade ensinada por Jesus Cristo.<\/p>\n A segunda ilustra\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m apresenta um lava-p\u00e9s num vaso grego, pintado no s\u00e9culo V a.C. Trata-se do her\u00f3i grego Ulisses que, ap\u00f3s 19 anos ausente de seu lar, volta para casa disfar\u00e7ado de mendigo, carregando um cajado, alforje e tigela, mas \u00e9 reconhecido por sua velha ama, enquanto lhe lava os p\u00e9s, ap\u00f3s ver que sua perna direita trazia a cicatriz de um antigo ferimento. Ao analisarmos as duas cenas, conclu\u00edmos que foi na Gr\u00e9cia Antiga que se deu vida \u00e0 arte de representar as \u201catividades da alma\u201d, ou seja, a possibilidade de o artista expor seus sentimentos e emo\u00e7\u00f5es. E foi exatamente essa heran\u00e7a grega que permitiu que os artistas que serviam \u00e0 Igreja medieval fossem capazes de tamb\u00e9m mostrar as \u201catividades da alma\u201d.<\/p>\n As obras de escultura pertinentes \u00e0 Idade M\u00e9dia tamb\u00e9m apresentam a mesma clareza do conte\u00fado vista na pintura, como mostra a terceira ilustra\u00e7\u00e3o intitulada \u201cAd\u00e3o e Eva depois da Queda\u201d, presente numa parte saliente de uma porta de bronze, sob encomenda de uma igreja alem\u00e3, e criada pouco depois do ano 1000 d.C. (s\u00e9c. X). A cena apresenta Deus aproximando-se de Ad\u00e3o e Eva ap\u00f3s a queda. Cont\u00e9m apenas as imagens necess\u00e1rias para contar a hist\u00f3ria. Nada h\u00e1 que desvie a aten\u00e7\u00e3o do observador. Os gestos s\u00e3o precisos: Deus aponta para Ad\u00e3o que aponta para Eva que aponta para a serpente. A transfer\u00eancia da culpa e a origem do pecado ficam claras numa cena t\u00e3o simples. Nem mesmo notamos a falta de propor\u00e7\u00f5es entre as figuras e a feiura vistas nos corpos dos dois desobedientes.<\/p>\n Ainda que seu trabalho predominante fosse na arte religiosa, os artistas medievais tamb\u00e9m trabalhavam para os bar\u00f5es e senhores feudais, construindo castelos e decora\u00e7\u00f5es. Acontece, por\u00e9m, que os castelos eram destru\u00eddos nas guerras, enquanto as igrejas ficavam a salvo. Havia maior cuidado e ardor com a arte religiosa, enquanto as decora\u00e7\u00f5es de aposentos privados passavam por constantes trocas, muitas vezes sendo jogadas fora. Um exemplo de decora\u00e7\u00e3o que chegou at\u00e9 os nossos dias \u00e9 a famosa tape\u00e7aria Bayeux.<\/p>\n Exerc\u00edcio<\/u><\/p>\n
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