{"id":4122,"date":"2023-05-14T00:05:00","date_gmt":"2023-05-14T03:05:00","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=4122"},"modified":"2023-05-13T13:22:56","modified_gmt":"2023-05-13T16:22:56","slug":"um-poema-para-minha-mae-que-partiu","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/um-poema-para-minha-mae-que-partiu\/","title":{"rendered":"POEMA PARA MINHA M\u00c3E QUE PARTIU"},"content":{"rendered":"

Autoria de LuDiasBH
\n<\/b><\/p>\n

\"poema\"<\/a><\/p>\n

Por favor, todos voc\u00eas, ou\u00e7am-me por piedade!<\/p>\n

Parem todos os rel\u00f3gios e as m\u00e1quinas; calem
\nos telefones fixos e os m\u00f3veis; ensurde\u00e7am as
\nvozes dos homens e animais; enrouque\u00e7am os
\ninstrumentos e sons dos arredores; emude\u00e7am
\ntodos os sonidos da Terra e que s\u00f3 as l\u00e1grimas
\nanunciem a descida de seu corpo, seguido pelo
\nmurmurar choroso do vento:
\n\u2014 Ela partiu! Ela foi embora para sempre!<\/em><\/p>\n

Que as aeronaves singrem no ar lastimando-se
\ne que escrevam nos c\u00e9us a verdade mais cruel:
\nELA PARTIU para nunca mais voltar<\/em>.<\/p>\n

As estrelas n\u00e3o s\u00e3o bem vistas, apaguem-nas,
\numa a uma, por favor! Guardem eternamente
\na lua, as flores; desmontem pra sempre o sol e
\na brisa; escure\u00e7am o azul do c\u00e9u de uma vez;
\ndespejem os oceanos na amplitude do Cosmo;
\nlivrem-se da m\u00fasica, das flores e \u00e1rvores onde
\ncantam os curi\u00f3s, sabi\u00e1s, can\u00e1rios e rouxin\u00f3is
\nporque coisa alguma trar\u00e1 a beleza de tempos
\natr\u00e1s e nada existe que possa minimizar minha
\ndor, pois eu nunca mais ouvirei o som doce de
\nsua voz no durar de meus dias na Terra.<\/p>\n

Por favor, meus parentes e meus amigos, atem
\nla\u00e7os violetas nas torres das igrejas; botem um
\nmanto roxo nos letreiros luminosos; inibam as
\ncrian\u00e7as de divertirem-se nos parques; enlacem
\ntarjas negras nos bra\u00e7os dos passantes; cubram
\na felicidade impressa no rosto dos enamorados;
\nempanem de preto a cor verdejante dos campos
\ne deixem-me tamb\u00e9m murchar, expirar, morrer,
\nporque minha vida j\u00e1 n\u00e3o tem mais significado.<\/p>\n

Eu lhes suplico, \u00f3 gentis presentes, que n\u00e3o me
\nestanquem a voz com frases feitas; n\u00e3o me falem
\nde c\u00e9u, para\u00edso ou eternidade; n\u00e3o me consolem
\ncom promessas vazias e n\u00e3o me entorpe\u00e7am com
\no sono da caridade, pois tudo ser\u00e1 in\u00fatil diante da
\ndor pungente que me dilacera corpo e alma. Mas,
\npor favor, abracem-me! Apenas abracem-me!<\/p>\n

\u00d3 minha m\u00e3e e adorada amiga, jamais tocarei
\nde novo a sua face e nem sentirei a ternura de
\nseu abra\u00e7o; n\u00e3o ouvirei sua voz chamando por
\nmeu nome e nem sentirei o repercutir de seus
\npassos pela casa. Quando a noite ou o dia vier,
\neu estarei s\u00f3, e sozinha estarei quando a vida
\nme machucar, pois voc\u00ea era o meu Norte e o
\nmeu Sul, era tamb\u00e9m o meu Leste e o Oeste.<\/p>\n

Voc\u00ea, minha m\u00e3e, era tudo para mim \u2014 o meu
\nincondicional amor \u2014 desde que visitei a Terra.
\nEra os meus dias \u00fateis e meus finais de semana,
\na minha for\u00e7a, os meus causos, a minha poesia
\ne era tamb\u00e9m a minha alegria mais profunda.<\/p>\n

Eu imaginava que o amor de m\u00e3e fosse eterno,
\npor\u00e9m a realidade aparece agora nas l\u00e1grimas
\nque ora correm pelo meu rosto murcho e roto,
\nna dor que despeda\u00e7a meu cora\u00e7\u00e3o sem rumo,
\ncoo sentimento forte de ter morrido junto, para
\ndepois constatar angustiada que fiquei pra tr\u00e1s,
\naqui, sozinha neste vasto e inseguro mundo.<\/p>\n

Que nos abracemos agora todos n\u00f3s, filhos sem
\nm\u00e3e, deserdados do amor materno. Que o nosso
\nconforto seja capaz de arrefecer o nosso luto, por
\ntermos ficado t\u00e3o s\u00f3s, s\u00f3s nos bra\u00e7os do mundo.
\nMas a vida deve continuar, dizem os s\u00e1bios, pois
\nassim \u00e9, nada h\u00e1 que a mude, apesar de tudo.<\/p>\n

Nota:<\/u> poema em homenagem \u00e0 minha m\u00e3e Etelvina Dias e a todas as m\u00e3es que j\u00e1 nos deixaram. Foi inspirado no poema \u201cFuneral Blues\u201d de W. H. Auden.<\/p>\n

Views: 63<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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