<\/a><\/p>\nCada um dos meus filhos tem seu cofrinho recheado. Est\u00e3o l\u00e1 engordando nas estantes, tais quais perus para o Natal. Somente moedas gra\u00fadas. Outro dia, todos reunidos na sala, o programa na TV era um intrigante cap\u00edtulo de novela. As falcatruas da fam\u00edlia televisiva estavam expostas. O bando seria, finalmente, desmascarado em raz\u00e3o de a trama chegar ao fim. Est\u00e1vamos babando ansiosos pelo castigo da canalhice. As m\u00e1scaras cairiam, revelando os malfeitores. De passagem, lembro-me de que gostamos da desgra\u00e7a alheia. Mais do que ver a justi\u00e7a feita, adoramos o desespero, a derrocada, de terceiros. Pobre ra\u00e7a vingativa!<\/p>\n
Pois bem, retomando o fio da hist\u00f3ria, aconteceu o desfecho da novela. Os personagens foram recebendo seus castigos, os castelos foram ruindo, e as quedas efusivamente comemoradas l\u00e1 em casa. A\u00ed vieram as express\u00f5es por parte do meu pessoal:<\/p>\n
– \u00c9 isso mesmo, cana pra ele!<\/i><\/p>\n
– N\u00e3o tem pena, n\u00e3o, arrepia esse malandro!<\/i><\/p>\n
A mocinha de hoje n\u00e3o se casa mais com o mocinho e s\u00e3o felizes para sempre. N\u00e3o tem o jeito de \u201cnamoradinha do Brasil\u201d. Ela vai presa. O pai atual fica louco. A m\u00e3e foge com o motorista. \u00c9 tudo muito diferente e transgressor. Pois bem, foi mais ou menos dessa maneira que a coisa se passou na novela. Inclusive, a av\u00f3 era a chefe da gangue, de bengala e tudo. Com o fim da trama, a minha filha ca\u00e7ula, de nariz arrebitado, com o rabo de cabelo balan\u00e7ando e as m\u00e3os na cintura, vociferou:<\/p>\n
– Pai, voc\u00ea n\u00e3o est\u00e1 livre de tamb\u00e9m ser penalizado! Vai pro xilindr\u00f3 igualzinho aos bandidos da novela.<\/i><\/p>\n
Claro, que fiquei aturdido. N\u00e3o dizia palavra. Raciocinei se eu tinha a ver com a hist\u00f3ria da TV. N\u00e3o encontrava rela\u00e7\u00e3o. Do qu\u00ea, afinal, estava sendo acusado com tanta veem\u00eancia, precisava saber? A danada da garota, pra l\u00e1 de espevitada, usando todos os erres e esses, esclareceu:<\/p>\n
– Ora, eu sei muito bem que voc\u00ea, vira e mexe, subtrai escondido de n\u00f3s as moedas para o seu \u00f4nibus. J\u00e1 vi voc\u00ea surrupiando, do tipo p\u00e9 l\u00e1 p\u00e9 c\u00e1, uns trocados do meu cofre, enquanto achava que eu dormia. Negue se for capaz!<\/i><\/p>\n
Minha cara caiu! O pior que ela tinha raz\u00e3o, embora a causa fosse nobre. Mas nunca considerei que um m\u00ednimo empr\u00e9stimo, para pegar uma condu\u00e7\u00e3o, tivesse a conota\u00e7\u00e3o de roubo. O resto da fam\u00edlia, em coro, argumentou que incorre em falta aquele que tira um biscoito indevidamente, assim como quem assalta um banco. Ambos cometem delito. Que press\u00e3o!<\/p>\n
Bom, a li\u00e7\u00e3o foi bem estudada pela turma. Na realidade, para a minha satisfa\u00e7\u00e3o, no meio do constrangimento, convenci-me de que devo ter alguma participa\u00e7\u00e3o nesse correto posicionamento. Os pais orientam os filhos, n\u00e3o \u00e9?! Mas mesmo assim, apelei para a compaix\u00e3o, diante da acusa\u00e7\u00e3o impiedosa da qual fui v\u00edtima:<\/p>\n
– Calma, vejo que voc\u00eas est\u00e3o nervosos. Pe\u00e7o que relevem o pai aqui, afinal, foi um roubinho \u00e0 toa, desprez\u00edvel. Sejam piedosos, deem chance ao coitado que mendiga moedas para poder exercer a sua profiss\u00e3o, e ajudar, assim, a manter o status quo da fam\u00edlia. Vou redimir-me: farei \u201cgenerosas\u201d contribui\u00e7\u00f5es, mensais que sejam, aos cofres de voc\u00eas, para obter a recupera\u00e7\u00e3o moral de que care\u00e7o, pois fiquei arrrrraasado, confesso!<\/i><\/p>\n
Ufa! Ser\u00e1 que consegui me safar?<\/p>\n
(*) Imagem copiada de diadebrilho.wordpress.com<\/a><\/i><\/p>\nViews: 1<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Autoria de Alfredo Domingos Cada um dos meus filhos tem seu cofrinho recheado. Est\u00e3o l\u00e1 engordando nas estantes, tais quais perus para o Natal. Somente moedas gra\u00fadas. Outro dia, todos reunidos na sala, o programa na TV era um intrigante cap\u00edtulo de novela. As falcatruas da fam\u00edlia televisiva estavam expostas. O bando seria, finalmente, desmascarado […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[16],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/4500"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=4500"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/4500\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":23832,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/4500\/revisions\/23832"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=4500"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=4500"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=4500"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}