A arte do cinema \u00e9 ef\u00eamera e paras\u00edtica. (Journal Education\/1958)<\/strong><\/em><\/p>\nPoucos de n\u00f3s j\u00e1 ouviram falar sobre o C\u00f3digo Hays, que tinha como objetivo colocar brid\u00e3o no cinema. Como pode perceber o leitor, os donos da verdade s\u00f3 mudam de \u00e9poca, mas continuam os mesmos, dentre eles os religiosos fan\u00e1ticos que odeiam o Estado laico.<\/p>\n
Como a S\u00e9tima Arte era democr\u00e1tica e \u00fanica, al\u00e9m de ser imediata e de f\u00e1cil acesso, logo come\u00e7ou a ser questionada pelos detentores do poder moral e pol\u00edtico. Achavam eles que o cinema se espalhava com muita rapidez, de modo que sua influ\u00eancia s\u00f3 poderia ser mal\u00e9fica. O medo tomou conta dos \u201cdonos\u201d do mundo. E o cinema viu-se no banco dos r\u00e9us, como o pior dos pecadores ou o mais abomin\u00e1vel dos devassos.<\/p>\n
Crimes: vulgarizar, idiotizar, incentivar a sensualidade, servir de propaganda pol\u00edtica, provocar o consumismo exagerado, tramar contra os bons costumes, corromper a mente e a moral dos jovens, transformar o mundo num ambiente ca\u00f3tico e sem governan\u00e7a. Portanto, era preciso amorda\u00e7ar o monstrengo, a besta-fera que h\u00e1 pouco nascera, antes que devorasse a santa e pia humanidade. Assim, o mundo da utopia continuaria existindo, em prol do bem geral de todas as na\u00e7\u00f5es, enquanto fora da tela a verdade crua e nua continuava grassando, sem que dela dessem conta os censores.<\/p>\n
Os respons\u00e1veis pelo \u201cbem comum” ca\u00edram com paus e pedras sobre a arte (cinema) ainda crian\u00e7a. Todos aqueles, que se julgavam com poderes para refre\u00e1-la, usaram de suas manhas e artimanhas, clamando insistentemente por sistemas de censura. O mais conhecido deles foi o Motion Producers and Distributors of America, cuja lista de restri\u00e7\u00f5es tornou-se conhecida como o C\u00f3digo Hays.<\/p>\n
Do famigerado c\u00f3digo para frente, a nudez libertina, o tr\u00e1fico de drogas, a escravid\u00e3o branca (a negra podia), cenas de nascimento, cirurgias, cenas de primeira noite, mulher e homem deitados na mesma cama (ainda que fossem casados), genit\u00e1lia de crian\u00e7as, beijos excessivos ou prolongados, pervers\u00e3o sexual, miscigena\u00e7\u00e3o, e mais uma longa lista de proibi\u00e7\u00f5es, passaram a ser exclu\u00eddas dos filmes. E, com isso, muitos filmes de arte foram banidos sob a alega\u00e7\u00e3o de que eram apelativos.<\/p>\n
O C\u00f3digo Hays foi escrito por um dos l\u00edderes do Partido Republicano (EUA), chamado William H. Hays, da\u00ed o seu apelido. Entrou em vigor em 1933 e sobreviveu at\u00e9 1956, embora as mudan\u00e7as fossem graduais at\u00e9 os meados dos anos de 1960, em raz\u00e3o dos v\u00e1rios movimentos que estavam aparecendo, como a libera\u00e7\u00e3o feminina e os hippies. Os cineastas passaram a ignorar as regras do c\u00f3digo, fazendo filmes sem a aprova\u00e7\u00e3o da censura. Em 1968, o C\u00f3digo Hays cedeu lugar a uma tabela de classifica\u00e7\u00e3o de filmes, levando em conta a idade do espectador.<\/p>\n
S\u00f3 para se ter uma ideia da rigidez do C\u00f3digo Hays, esse n\u00e3o aprovava o uso das seguintes palavras (j\u00e1 com tradu\u00e7\u00e3o) no cinema: gata, vadia, prostituta, vampiro, mulher f\u00e1cil, n\u00e1dega, homossexual, dedo, gritos de gozo, doen\u00e7a ven\u00e9rea, patife, travesti, test\u00edculos, pederasta, arroto, urinol p\u00fablico, etc.<\/p>\n
O mais engra\u00e7ado nessa hist\u00f3ria \u00e9 que um grande n\u00famero de cineastas, como Ernest Lubitsch e Howard Hawk, sentiam o maior prazer em burlar aquelas regras mesquinhas e tolas. E, com a maior perspic\u00e1cia, eles acabavam se safando delas, bem nos bigodes de seus censores.<\/p>\n
Mas, como h\u00e1 mais mist\u00e9rios entre o c\u00e9u e a Terra, do que imaginam 10% da nossa massa cinzenta, um obst\u00e1culo bem maior do que o C\u00f3digo Hays encontrava-se dentro do pr\u00f3prio cerne do cinema: a sua popularidade. Mas que nonsense! Tamb\u00e9m acho.<\/p>\n
O fato \u00e9, meu caro leitor, que assim que \u201cos homens\u201d perceberam que o neg\u00f3cio cinematogr\u00e1fico era uma mina de ouro, o lado comercial, guloso como sempre, tentou segurar as r\u00e9deas sozinho, deixando para tr\u00e1s os elementos experimentais e art\u00edsticos. Logo, os tr\u00eas principais ramos \u2013 produ\u00e7\u00e3o, distribui\u00e7\u00e3o e exibi\u00e7\u00e3o \u2013 come\u00e7aram as suas manobras de guerra financeira. De modo que, no frigir dos ovos, o poder dos est\u00fadios cresceu, inflou os egos e os bolsos e ainda aspirou a independ\u00eancia do restante. O poder dos diretores virou favas contadas, foi pro belel\u00e9u.<\/p>\n
O que pode haver de bom em qualquer empreendimento onde o dinheiro \u00e9 a \u00fanica t\u00f4nica? Nada, \u00e9 claro. Por isso, a mediocridade come\u00e7ou a correr solta no cinema, sob o respaldo do vil metal, que jorrava abundantemente nos cofres dos grandes est\u00fadios. Mas essa hist\u00f3ria n\u00e3o se restringe \u00e0queles tempos. Ela continua firme nos dias de hoje. A batalha entre os investidores que s\u00f3 pensam na maximiza\u00e7\u00e3o de seus lucros e os criadores da arte, que desejam dar o melhor de si na feitura de bons filmes, continua. Ouso dizer que assim ser\u00e1, j\u00e1 que a humanidade n\u00e3o toma jeito diante da gan\u00e2ncia pelo vil metal. Estamos todos condenados. Que entoem o r\u00e9quiem para a criatividade: requiem aeternam dona eis!<\/p>\n
Fontes de Pesquisa:
\n<\/span>Tudo sobre Cinema\/ Editora Sextante
\nWikip\u00e9dia<\/p>\nViews: 4<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Autoria de Lu Dias Carvalho Os filmes n\u00e3o disp\u00f5em de qualquer caracter\u00edstica que os redima e justifique a sua exist\u00eancia. (Chicago Tribune\/ 1907) Lixo pecaminoso e abomin\u00e1vel. (Ramsay MacDonald\/ Primeiro ministro brit\u00e2nico) A arte do cinema \u00e9 ef\u00eamera e paras\u00edtica. (Journal Education\/1958) Poucos de n\u00f3s j\u00e1 ouviram falar sobre o C\u00f3digo Hays, que tinha como […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[8],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/456"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=456"}],"version-history":[{"count":6,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/456\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":45499,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/456\/revisions\/45499"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=456"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=456"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=456"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}