Enquanto houver burguesia n\u00e3o vai haver poesia. (Cazuza)<\/strong><\/p>\nPara o fil\u00f3sofo Jean-Jacques Rousseau a propriedade privada teve in\u00edcio quando um sujeito cercou um peda\u00e7o de terra, que n\u00e3o tinha dono, e disse: “Isso aqui agora \u00e9 meu” e encontrou gente ing\u00eanua o suficiente para acreditar naquilo.<\/p>\n
A origem da propriedade privada foi uma das revolu\u00e7\u00f5es, se n\u00e3o a mais importante, por que passou a humanidade. Vamos tentar inferir aqui algumas consequ\u00eancias desse ato hist\u00f3rico fundamental. A mais imediata foi o surgimento do “outro” (o inferno s\u00e3o os outros, segundo o fil\u00f3sofo franc\u00eas Paul Sartre). Antes havia o “n\u00f3s”. Por exemplo: “N\u00f3s”, dizia o troglodita, “precisamos de comida”. E os homens se reuniam para ca\u00e7ar um mamute e distribuir a carne do bicho entre eles.<\/p>\n
A solidariedade era natural entre os homens. A propriedade privada acabou com isso. Com o advento da propriedade e o consequente surgimento do cultivo de alimentos e a cria\u00e7\u00e3o dos animais, os que ficaram sem terra naquele tempo passaram a ter que pagar pela carne e pelos gr\u00e3os necess\u00e1rios \u00e0 sua alimenta\u00e7\u00e3o. Assim temos que a propriedade privada criou um problema novo para a humanidade, a fome. Antes a fome era um problema individual que um peixe assado resolvia. A propriedade privada engendrou a fome de coletividades inteiras. O dono de um terreno plantava e criava animais para ele e os seus comerem e o poss\u00edvel excedente era destinado ao escambo com outros propriet\u00e1rios de terras. Os “sem-terra” que n\u00e3o tinham sangue de barata para morrer de fome roubavam ou furtavam comida dos propriet\u00e1rios. Assim, temos ainda que a propriedade privada deu origem ao roubo e ao ladr\u00e3o.<\/p>\n
Ao dividir a humanidade em duas partes, aquela que tem as coisas e a outra (maioria) que nada tem, a propriedade privada deu tamb\u00e9m origem a duas coisas que a humanidade n\u00e3o conhecia: quem tem se acha melhor que quem n\u00e3o tem. Aqui tiveram origem os sentimentos de superioridade e inferioridade nas pessoas e os corol\u00e1rios: a prepot\u00eancia de um lado e a inveja do outro.<\/p>\n
Acabaram com a solidariedade e institu\u00edram a concorr\u00eancia e com ela a deslealdade entre as pessoas. E como resultado disso houve a concentra\u00e7\u00e3o da propriedade por um lado e o aumento da mis\u00e9ria por outro. Nos dias de hoje s\u00f3 se v\u00ea os resqu\u00edcios daquela solidariedade natural que havia entre as pessoas, durante algumas cat\u00e1strofes, como um terremoto por exemplo, quando a propriedade privada perde o significado e as pessoas est\u00e3o mais preocupadas em salvar a pr\u00f3pria pele.<\/p>\n
Quando um propriet\u00e1rio de um autom\u00f3vel atropela um pobre, e isso \u00e9 mais comum do que a gente pensa, ele lamenta muito mais o estrago feito em seu carro que a dor que a v\u00edtima (ou a fam\u00edlia) possa estar sentindo. E se sujar o banco do carro de sangue, a raiva do atropelador ser\u00e1 extensiva \u00e0 m\u00e3e do infeliz atropelado. Uma das p\u00e1ginas mais tristes na cr\u00f4nica da propriedade privada \u00e9 quando o burgu\u00eas, depois de ter trabalhado a vida inteira, formado uma fam\u00edlia e constru\u00eddo um patrim\u00f4nio a duras penas, depois de tudo, j\u00e1 velho e doente, mas l\u00facido e com a sensibilidade n\u00e3o embotada, percebe que os familiares est\u00e3o como que a torcer para que “o velho” morra logo, a fim de poderem p\u00f4r as m\u00e3os na heran\u00e7a.<\/p>\n
Assim, temos que a propriedade privada deu origem tamb\u00e9m a mais esse fato ins\u00f3lito na hist\u00f3ria da humanidade: a torcida pela morte do pr\u00f3ximo, mesmo um pai ou uma m\u00e3e. E a atra\u00e7\u00e3o da propriedade privada \u00e9 t\u00e3o terr\u00edvel que os filhos da burguesia n\u00e3o apenas “torcem” e procuram acelerar o processo, passando um atestado de caduco para o velho, ou encomendando a morte como fez aquela menina de nome Suzane aos pais Hichthofen.<\/p>\n
Como o leitor pode perceber, a propriedade privada \u00e9 a m\u00e3e de todos os males.<\/p>\n
\u00a0<\/p>\n
Nota:<\/u> imagem copiada de https:\/\/outraspalavras.net\/alemdamercadoria\/a-logica-senil-da-propriedade-privada\/<\/p>\n
Views: 2<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Autoria de Fernando Carvalho Enquanto houver burguesia n\u00e3o vai haver poesia. (Cazuza) Para o fil\u00f3sofo Jean-Jacques Rousseau a propriedade privada teve in\u00edcio quando um sujeito cercou um peda\u00e7o de terra, que n\u00e3o tinha dono, e disse: “Isso aqui agora \u00e9 meu” e encontrou gente ing\u00eanua o suficiente para acreditar naquilo. A origem da propriedade privada […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[9],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/48771"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=48771"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/48771\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":48815,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/48771\/revisions\/48815"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=48771"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=48771"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=48771"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}