dalits<\/em> e o sistema de castas na \u00cdndia). Isso era dito nos p\u00falpitos das igrejas, nos tribunais e em toda a sociedade. Passavam-lhes a no\u00e7\u00e3o de que essa era a \u201cvontade de Deus\u201d \u2013 garoto propaganda incumbido de justificar todos os desmandos humanos. Diferentes livros sagrados, contendo as normas de cada credo, tamb\u00e9m assim apregoavam. E n\u00e3o pensem que a B\u00edblia dos crist\u00e3os ficou de fora. \u00c9 poss\u00edvel encontrar em muitas de suas p\u00e1ginas a clara aceita\u00e7\u00e3o da servid\u00e3o e da sujei\u00e7\u00e3o humana.<\/p>\nO saber era vedado a homens, mulheres e crian\u00e7as escravizados, a fim de que pudessem continuar aceitando o cativeiro, mas, para isso, fazia-se necess\u00e1rio mant\u00ea-los analfabetos. O sistema dominante tinha a clareza de que o saber levava ao pensamento cr\u00edtico \u2013 \u00fanica for\u00e7a libert\u00e1ria que quebra as correntes da ignor\u00e2ncia e do jugo, seja ele qual for. Havia, \u00e0 \u00e9poca, severas penalidades para quem ensinasse um escravo a ler. E os que o faziam, faziam-no \u00e0s escondidas.<\/p>\n
O conhecimento, admitia os adeptos da escravatura, abriria os olhos dos escravos em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 submiss\u00e3o odiosa a que eram submetidos. Por isso, combatiam tenazmente o saber, pois esse ajudaria os cativos a pensar, encaminhando-os \u00e0 liberdade. Portanto, era necess\u00e1rio manejar o que as pessoas ouviam, viam ou pensavam. Era preciso mant\u00ea-las fechadas no c\u00e1rcere da ignor\u00e2ncia, trancafiadas nos grilh\u00f5es da estupidez mental. Os livros eram um inimigo do sistema escravagista, devendo ser combatidos.<\/p>\n
O estadunidense Frederick Douglass Bailey (1818-1895), criado como escravo \u2013 um dos maiores oradores, escritores e l\u00edderes pol\u00edticos na hist\u00f3ria norte-americana \u2013 deixou claro que a alfabetiza\u00e7\u00e3o, \u00e0s escondidas, foi o caminho para a sua liberdade. E foi enf\u00e1tico ao dizer que \u201cO sistema dominante achava que para criar um escravo satisfeito era necess\u00e1rio cri\u00e1-lo est\u00fapido. Seria necess\u00e1rio obscurecer a sua vis\u00e3o moral e intelectual e, na medida do poss\u00edvel, aniquilar o poder da raz\u00e3o\u201d.<\/p>\n
N\u00e3o nos esque\u00e7amos nunca de que os conservadores mesquinhos, dominadores e descompromissados com as mudan\u00e7as sociais sempre viram na capacidade de ler e no conhecimento advindo dos livros (e hoje da m\u00eddia progressista) um inimigo extremamente perigoso, uma amea\u00e7a ao seu poder. Possuem a convic\u00e7\u00e3o de que saber ler, pensar, ter autocr\u00edtica ainda \u00e9 o caminho mais eficaz em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 liberdade \u2013 n\u00e3o est\u00e3o errados, pois a educa\u00e7\u00e3o \u00e9 um fator de liberta\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
Para reflex\u00e3o, deixo abaixo o pensamento de Carl Sagan:<\/p>\n
\u201cAs rodas dentadas da pobreza, ignor\u00e2ncia, falta de esperan\u00e7a e baixa autoestima se engrenam para criar um tipo de m\u00e1quina do fracasso perp\u00e9tuo que esmigalha os sonhos de gera\u00e7\u00e3o a gera\u00e7\u00e3o. N\u00f3s todos pagamos o pre\u00e7o de mant\u00ea-la funcionando. O analfabetismo \u00e9 a sua cavilha. Ainda que endure\u00e7amos os nossos cora\u00e7\u00f5es diante da vergonha e da desgra\u00e7a experimentadas pelas v\u00edtimas, o \u00f4nus do analfabetismo \u00e9 muito alto para todos os demais \u2013 o custo das despesas m\u00e9dicas e hospitaliza\u00e7\u00f5es, o custo do crime e pris\u00f5es, o custo da produtividade perdida e intelig\u00eancias potencialmente brilhantes que poderiam ajudar a solucionar os dilemas que nos perseguem.\u201d<\/p>\n
Ilustra\u00e7\u00e3o:<\/u> Frederick Douglass, cerca de 1874.<\/p>\n
Fonte de pesquisa
<\/u>O mundo assombrado pelos dem\u00f4nios\/ Companhia de Bolso<\/p>\n
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Autoria de Lu Dias Carvalho N\u00e3o devemos acreditar nos muitos que dizem que s\u00f3 as pessoas livres devem ser educadas, dev\u00edamos antes acreditar nos fil\u00f3sofos que dizem que apenas as pessoas educadas s\u00e3o livres. (Epicteto). Um escravo deve saber apenas obedecer ao seu senhor \u2013 deve cumprir as ordens. O conhecimento o estragaria. Aprender a […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[9],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/49053"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=49053"}],"version-history":[{"count":9,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/49053\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":49210,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/49053\/revisions\/49210"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=49053"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=49053"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=49053"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}