<\/a><\/p>\nDentre os comit\u00eas criados na Granja dos Animais<\/i> estava o que se encarregava de ensinar os bichos a ler e a escrever que, por sinal, seguia com muito sucesso para alguns. Podemos assim definir o sucesso ou o fracasso dos mesmos:<\/p>\n
Os porcos<\/i>, que j\u00e1 liam e escreviam muito bem, ocupavam o topo da pir\u00e2mide do saber. E, quanto mais dominavam a leitura, mais conhecimentos e mais poder agregavam a si. Eram olhados pelos outros animais com muita admira\u00e7\u00e3o e com vis\u00edvel respeito, de modo que tudo que faziam jamais era questionado, ao contr\u00e1rio, eram prontamente obedecidos.<\/p>\n
Os cachorros<\/i>, por sua vez, ap\u00f3s aprenderem a ler modicamente, n\u00e3o mais se interessaram pelo aprendizado, bastando-lhes apenas dominar a leitura dos Sete Mandamentos. <\/i>Para que ficar quebrando a cabe\u00e7a com coisas desnecess\u00e1rias – inquiriam eles – se j\u00e1 existiam os porcos que sabiam de tudo? Bastava-lhes apenas ler os mandamentos dos bichos para repass\u00e1-los a outros. O resto ficava por conta dos inteligentes su\u00ednos, seus camaradas intelectuais, que somente trabalhavam para o bem de todos, sem pensar em si.<\/p>\n
Bejamim<\/i>, embora soubesse ler t\u00e3o bem quanto os porcos, n\u00e3o se importava com isso e, portanto, n\u00e3o exercitava a sua faculdade. Talvez isso se devesse \u00e0 idade, uma vez que era o animal mais velho da granja. Todos sabem que a idade traz para alguns certo desencanto com a vida, um n\u00e3o saber o porqu\u00ea de se fazer isso ou aquilo, enquanto outros tornam-se ainda mais \u00e1vidos pelo poder, como se fosse uma forma de se apegar \u00e0 exist\u00eancia que escapa-lhes pelos dedos. O mesmo paradoxo humano tamb\u00e9m se encontrava em meio aos bichos da granja.<\/p>\n
Quit\u00e9ria<\/i>, embora tivesse aprendido todo o alfabeto, sentia dificuldade em unir as letras na forma\u00e7\u00e3o de palavras. A coitadinha passava as horas de repouso matutando, mas n\u00e3o lograva \u00eaxito na empreitada. Parecia ter um parafuso a menos na cachola. Teria sido o excesso de trabalho e a m\u00e1 alimenta\u00e7\u00e3o de quando o senhor Jones era seu amo respons\u00e1veis por tal dificuldade? Ningu\u00e9m mais do que ela e Sans\u00e3o trabalhara naquela granja, sem falar nos muitos potrinhos que botara no mundo.<\/p>\n
Sans\u00e3o<\/i>, mesmo muito esfor\u00e7ado, tinha s\u00e9rias limita\u00e7\u00f5es em rela\u00e7\u00e3o ao aprendizado intelectual, como se tivesse nascido para o trabalho pesado. Quando aprendia umas letras, esquecia-se das outras. Nunca fora capaz de memorizar o alfabeto todo. Mesmo assim, nos dias de lazer, passava horas a fio desenhando na areia, com a pata direita, as letras, apagando-as e recome\u00e7ando…<\/p>\n
Maricota <\/i>era capaz de ler melhor do que os cachorros. Lia, inclusive, \u00e0 noite, peda\u00e7os de jornal encontrados no lixo, para os animais.<\/p>\n
Mimosa<\/i> era um caso \u00e0 parte no seu desinteresse pelo saber. Ap\u00f3s aprender as seis letras que compunham seu nome, deu por encerrada a sua aprendizagem. Ela o escrevia e o enfeitava com pedrinhas, flores e galhos, e ficava andando \u00e0 volta, admirando-o. Mas o que esperar dos seres f\u00fateis que s\u00f3 pensam em si como se fosse o centro do universo? Neste caso, n\u00e3o se trata de jogar p\u00e9rolas aos porcos, porque esses eram os mais letrados da granja, mas de jogar p\u00e9rolas \u00e0 futilidade e \u00e0 ignor\u00e2ncia.<\/p>\n
Alguns dos animais da granja n\u00e3o conseguiram aprender a ler, tais como galinhas<\/i>, patos<\/i>, ovelhas<\/em>, entre outros. E pior, nem mesmo eram capazes de decorar os Sete Mandamentos<\/i> que resumiam a filosofia da Animalismo<\/i>. Problema de suma gravidade. Alguma coisa teria que ser feita.<\/p>\nBola de Neve<\/i>, preocupado com o fato de que alguns bichos n\u00e3o tivessem memorizado os Sete Mandamentos<\/i>, achou por bem condens\u00e1-los em apenas um: \u201cQuatro pernas bom, duas pernas ruim.<\/i>\u201d. Ele s\u00f3 n\u00e3o contava com a contesta\u00e7\u00e3o das aves, pois sentiam que se encaixavam nas \u201cduas pernas<\/i>\u201d.<\/p>\n
A capacidade de dar o dito por n\u00e3o dito, ou de iludir os mais ing\u00eanuos, \u00e9 um dos predicados de certos intelectuais. A capacidade de aceita\u00e7\u00e3o dos ing\u00eanuos e ignorantes possui a mesma dimens\u00e3o dos primeiros. Assim, o n\u00e3o dito passa a ser o dito e tudo fica como Dantes no quartel de Abrantes. Dessa forma, Bola de Neve<\/em> bolou uma explica\u00e7\u00e3o para acalmar o \u00e2nimo das aves:<\/p>\n– A asa de uma ave, camaradas, \u00e9 um \u00f3rg\u00e3o de propuls\u00e3o e n\u00e3o de manipula\u00e7\u00e3o. Deveria ser olhada mais como uma perna. O que distingue o Homem \u00e9 a m\u00e3o, o instrumento que perpetra toda a maldade.<\/i><\/p>\n
Como n\u00e3o compreendessem muito bom a explana\u00e7\u00e3o do letrado Bola de Neve<\/em>, e nem tivessem argumentos para se contraporem, as aves e os animais mais humildes e desprovidos de saber, tomaram como verdade absoluta as palavras do nobre colega.<\/p>\nBola de Neve<\/i> e Napole\u00e3o<\/i> continuaram trocando farpas em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 educa\u00e7\u00e3o dos bichos. Enquanto o primeiro achava que adultos e jovens tinham direito ao saber, o segundo alegava que somente os jovens careciam de ser educados, pois papagaio velho n\u00e3o aprende a falar.<\/p>\n
Nesse \u00ednterim, Lulu<\/i> e Ferrabr\u00e1s<\/i> pariram nove robustos cachorrinhos que foram imediatamente para as m\u00e3os de Napole\u00e3o<\/em>, sob o argumento de que receberiam uma educa\u00e7\u00e3o especial. Foram confinados num s\u00f3t\u00e3o, sendo esquecidos pelos demais bichos. O que viria a acontecer com eles ainda \u00e9 uma inc\u00f3gnita.<\/p>\n\u00a0Fonte de pesquisa:
\n<\/span>A Revolu\u00e7\u00e3o dos Bichos\/ George Orwell<\/p>\n(*) <\/b>Imagem copiada de <\/b>cinefilosconvergentes.blogspot.com<\/span><\/span><\/a><\/span><\/span>
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Autoria de Lu Dias Carvalho \u00a0 Dentre os comit\u00eas criados na Granja dos Animais estava o que se encarregava de ensinar os bichos a ler e a escrever que, por sinal, seguia com muito sucesso para alguns. Podemos assim definir o sucesso ou o fracasso dos mesmos: Os porcos, que j\u00e1 liam e escreviam muito […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[3],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/5193"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=5193"}],"version-history":[{"count":9,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/5193\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":45738,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/5193\/revisions\/45738"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=5193"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=5193"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=5193"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}