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<\/a>Como nem homem e nem bicho podem domar o tempo, ventos fort\u00edssimos e muita \u00e1gua abateram sobre a Granja dos Bichos<\/i>. A umidade era tamanha que se tornara imposs\u00edvel at\u00e9 mesmo misturar cimento para dar continuidade ao trabalho do moinho. Certa noite, a tormenta desceu com tudo, destelhando o celeiro e sacolejando os galp\u00f5es. Ao longe, um som esquisito ecoou. Depois, tudo foi se aquietando de modo a deixar os bichos dormirem. Mas pela manh\u00e3, o susto foi brutal. O moinho n\u00e3o resistira \u00e0 tempestade.<\/p>\nEntre os pol\u00edticos \u00e9 muito comum jogar a culpa de suas m\u00e1s atua\u00e7\u00f5es nos outros, quando n\u00e3o as escondem deliberadamente. E o mesmo estava se dando na Granja dos Bichos<\/i>. N\u00e3o querendo mostrar como fora irrespons\u00e1vel na constru\u00e7\u00e3o do moinho, Napole\u00e3o<\/i> tratou de arranjar um culpado. Nenhum outro seria melhor para receber tal encargo do que Bola de Neve<\/i> que n\u00e3o estava l\u00e1 para se defender. E assim se explicou o l\u00edder:<\/p>\n
– O moinho foi destru\u00eddo na calada da noite por Bola de Neve que \u00e9 hoje o nosso maior inimigo. Ele est\u00e1 cheio de vingan\u00e7a contra todos n\u00f3s. Suas pegadas est\u00e3o espalhadas por aqui. Vejam s\u00f3! \u00a0Resta-me, portanto, decretar a sua morte. Mas iremos reconstruir tudo de novo.<\/i><\/p>\n
Como o povo, digo, os bichos s\u00e3o ing\u00eanuos! Nem mais se lembravam das palavras de Bola de Neve<\/em>. N\u00e3o questionaram ou refletiram sobre o que lhes dissera Napole\u00e3o<\/em>. Tampouco foram capazes de deduzir que aquelas pegadas eram muito novas no local, ou que as paredes do moinho eram muito finas. O fato \u00e9 que os animais tiveram que trabalhar mais ainda, com frio e com fome, enquanto Garganta<\/em> tratava de engabelar os bichos com seus discursos sobre a dignidade do trabalho e coisa e tal.<\/p>\n Desde a queda do moinho para frente, tudo que acontecia de malfeito era obra de Bola de Neve<\/i>: roubava milho, derramava o leite, quebrava os ovos, destru\u00eda viveiros e sementes, comia o c\u00f3rtex das \u00e1rvores frut\u00edferas, quebrava janelas, entupia drenos. E os pr\u00f3prios animais come\u00e7aram a testemunhar que viram Bola de Neve<\/em> fazer isso ou aquilo. Os porcos at\u00e9 inventaram que o pobre porco era, desde o in\u00edcio da Revolu\u00e7\u00e3o, um aliado do senhor Jones, o que deixou os bichos ainda mais embasbacados. Alguns animais foram instados a confessar que tiveram encontros secretos com Bola de Neve<\/em>. Para dar maior realismo \u00e0 arma\u00e7\u00e3o, houve muitas confiss\u00f5es e execu\u00e7\u00f5es. At\u00e9 ent\u00e3o, nenhum animal matara outro, nem mesmo um rato.<\/p>\n Dali em diante a vida jamais voltaria a ser a mesma. \u00c9 isso que veremos a seguir.<\/p>\n