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<\/a>Garganta<\/em> surgiu, apavorado e mais falante do que era, avisando os bichos que o grande l\u00edder Napole\u00e3o<\/em> fora envenenado por Bola de Neve<\/i>. O chefe estava muito mal, e nem mesmo conseguia abrir os olhos. Antes que eu d\u00ea prosseguimento \u00e0 hist\u00f3ria, devo dizer que na adega da casa-grande, lugar at\u00e9 ent\u00e3o desconhecido dos porcos, fora encontrada uma caixa de u\u00edsque. E, assim, \u00e0 medida que passava a bebedeira, Garganta<\/i> repassava aos companheiros a boa not\u00edcia de que o chefe estava se recuperando, ou seja, o inimigo n\u00e3o fora vitorioso em seu intento de mat\u00e1-lo.<\/p>\nUm dos Sete Mandamentos que resumia a filosofia dos animais rezava: \u201cNenhum dos animais beber\u00e1 \u00e1lcool.<\/i>\u201d, mas n\u00e3o foi de se estranhar quando os bichos encontraram Garganta<\/i> com um pincel e uma lata de tinta. O mandamento agora era: \u201cNenhum dos animais beber\u00e1 \u00e1lcool, em excesso<\/i>.\u201d. A seguir, Napole\u00e3o<\/em> ordenou que uma parte da granja fosse arada para o plantio de cevada.<\/p>\n Reerguer o moinho pela terceira vez n\u00e3o estava sendo f\u00e1cil. O alimento diminu\u00eda, menos para os porcos e para os cachorros. Sabidamente os governantes e seu staff nunca passam por priva\u00e7\u00e3o, pois, eles precisam viver uma vida faustosa para darem contar da dif\u00edcil tarefa de governar as massas. Portanto, Napole\u00e3o<\/em> e seus capangas viviam faustosamente, enquanto o resto passava fome e frio.<\/p>\n Na luta para reerguer o moinho de vento, Sans\u00e3o<\/em>, que representava a for\u00e7a bra\u00e7al da Granja dos Bichos, tombou. Um filete de sangue escorria-lhe pela boca abaixo. Os pulm\u00f5es davam sinal de que n\u00e3o mais aguentavam o \u00e1rduo trabalho. Os animais entraram em p\u00e2nico ao verem o bom amigo t\u00e3o mal. O l\u00edder foi chamado, mas quem veio dizer que Napole\u00e3o<\/em> estava preocupad\u00edssimo foi o vassalo Garganta<\/em>, e que o doente seria levado para o hospital de um cirurgi\u00e3o veterin\u00e1rio e logo estaria bom.<\/p>\n No terceiro dia, o carro\u00e7\u00e3o chegou enquanto os animais estavam no trabalho. Bejamim<\/em>, ao perceber que vieram buscar o amigo, correu para avisar os demais. Quando chegaram, Sans\u00e3o<\/em> j\u00e1 estava dentro da condu\u00e7\u00e3o. Os animais sentiram-se aliviados, sabendo que o companheiro iria se tratar. Mas somente Bejamim<\/em> foi capaz de ver o que estava escrito no carro\u00e7\u00e3o, contando aos amigos:<\/p>\n Alffred Simmonds, Matadouro de Cavalos, Fabricante de Cola\/ Wellington Peles e Farinha de Ossos. Fornece para Canis.<\/em><\/p>\n Os bichos come\u00e7aram a gritar para que Sans\u00e3o<\/em> pulasse dali e fugisse, mas ele somente olhou para tr\u00e1s com os olhos lacrimejantes. Sem for\u00e7as, continuou dentro do carro\u00e7\u00e3o at\u00e9 desaparecer.<\/p>\n Cerca de tr\u00eas dias depois, chegou a not\u00edcia, via Garganta<\/em>, que Sans\u00e3o<\/em> havia morrido no Hospital Veterin\u00e1rio, ap\u00f3s um intenso tratamento. Mas o coitado n\u00e3o resistira. O lambe botas explicou que aquilo que fora lido no carro\u00e7\u00e3o tratava-se do seguinte: a carro\u00e7a pertencera a um carniceiro, at\u00e9 ser comprada pelo cirurgi\u00e3o veterin\u00e1rio, que ainda n\u00e3o tivera tempo de remover a escrita. Talvez por medo, talvez por ignor\u00e2ncia ou omiss\u00e3o, o fato \u00e9 que os bichos acreditaram que assim fora, e continuaram a levar a vida de antes.<\/p>\n O fato relatado levou-me a certos pol\u00edticos de meu pa\u00eds que s\u00e3o t\u00e3o p\u00e9rfidos e mentirosos quanto Napole\u00e3o,<\/em> e sempre possuem um bando de lambe-botas para mentirem por eles.<\/p>\n Ainda falaremos mais sobre isso.<\/p>\n Fonte de pesquisa: Views: 63<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Autoria de Lu Dias Carvalho Garganta surgiu, apavorado e mais falante do que era, avisando os bichos que o grande l\u00edder Napole\u00e3o fora envenenado por Bola de Neve. O chefe estava muito mal, e nem mesmo conseguia abrir os olhos. 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\n<\/span>A Revolu\u00e7\u00e3o dos Bichos\/ George Orwell<\/p>\n