{"id":5636,"date":"2013-09-09T23:11:04","date_gmt":"2013-09-10T02:11:04","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=5636"},"modified":"2022-08-03T19:46:35","modified_gmt":"2022-08-03T22:46:35","slug":"frei-chico-um-holandes-no-vale-do-jequitinhonha","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/frei-chico-um-holandes-no-vale-do-jequitinhonha\/","title":{"rendered":"FREI CHICO \u2013 HOLAND\u00caS NO VALE DO JEQUITINHONHA"},"content":{"rendered":"
Autoria de Lu Dias Carvalho
\n<\/b><\/p>\n
<\/a>\u00a0\u00a0 <\/a><\/p>\n Quando cheguei a Ara\u00e7ua\u00ed, tudo era t\u00e3o diferente da minha terra, a l\u00edngua, a cultura, a maneira de tratar as doen\u00e7as… Ouvia aquela gente se referir a problemas de sa\u00fade como \u201ccarne quebrada\u201d, \u201cvento virado\u201d, \u201cespinhela ca\u00edda\u201d e \u201cmau-olhado\u201d. Comecei a ficar curioso. (Frei Chico)<\/i><\/b><\/p>\n O Jequitinhonha mudou o meu modo de pensar sobre a verdadeira religi\u00e3o: aprendi que quem pretende entender a religiosidade popular e ter o direito de explicar seus significados h\u00e1 de se tornar simples com os simples e pobre com os pobres. (Frei Chico)<\/em><\/strong><\/p>\n Para poder servir, eu tinha que conhecer aquele povo… A riqueza cultural do Vale do Jequitinhonha deu sentido \u00e0 minha perman\u00eancia no Brasil. (Frei Chico)<\/i><\/b><\/p>\n Fil\u00f3 gostava de cantar e resolvi gravar as m\u00fasicas em fitas cassetes, as mesmas que serviram para o repert\u00f3rio do Coral dos Tangar\u00e1s. H\u00e1 43 anos, tive a honra de fundar o grupo, que continua at\u00e9 hoje. (Frei Chico)<\/i><\/b><\/p>\n O franciscano Frei Chico<\/i>, Francisco van der Poel, chegou \u00e0 cidade de Ara\u00e7ua\u00ed, no Vale do Jequitinhonha, nas Minas Gerais, l\u00e1 pelos idos de 1967, vindo da Holanda. Naquela \u00e9poca, o Vale, como carinhosamente \u00e9 chamado, situava-se entre as localidades mais pobres do mundo, de modo que suas viagens pela regi\u00e3o eram realizadas no lombo de burro. Mas nem tudo era apenas pobreza, pois, aquela gente tinha uma riqueza cultural invej\u00e1vel, o que deixou o frade estupefato.<\/p>\n Durante a sua perman\u00eancia como p\u00e1roco da diocese Ara\u00e7ua\u00ed, Frei Chico acumulou mais de 15 mil folhas que registravam a cultura relacionada com a f\u00e9 e a espiritualidade daquela gente. A essa rica pesquisa, o frade somou outras realizadas em Portugal, onde foi em busca de arquivos, tentando achar caminhos que o levassem a compreender melhor a saben\u00e7a do povo simples do Vale do Jequitinhonha. \u00a0Acabou coroando seu trabalho de longos e incans\u00e1veis anos de pesquisa com o lan\u00e7amento do Dicion\u00e1rio da Religiosidade Popular: Cultura e Religi\u00e3o no Brasil<\/i>, atrav\u00e9s do qual pretende fazer com que o leitor viaje atrav\u00e9s da cultura popular da gente do Vale do Jequitinhonha. Sobre suas pesquisas ele diz: Consultei livros de hist\u00f3ria, de farmacopeia medieval e at\u00e9 de bruxaria. Reuni 2 mil volumes. Quando conclu\u00ed o dicion\u00e1rio, doei esse material para a biblioteca p\u00fablica da PUC Minas, em Belo Horizonte.<\/i><\/p>\n Frei Chico<\/i> conta que sua inspira\u00e7\u00e3o nasceu com o canto belo e incomum de Fil\u00f3, cozinheira da casa paroquial, em Ara\u00e7ua\u00ed. Depois disso foi agregando outros achados. A ceramista Maria Lira Marques, conhecida pelo apelido carinhoso de Lira, pois, todo mundo no Vale carrega um apelido, foi um deles. Sobre ela ele diz: \u201cLira abriu as portas da sabedoria popular para mim, o estrangeiro que acabara de chegar.\u201d<\/i>.<\/p>\n O Dicion\u00e1rio da Religiosidade Popular: Cultura e Religi\u00e3o no Brasil<\/i> \u00e9 uma obra \u00edmpar, que tomou forma quando Frei Chico<\/i> entrou em contato com o folclorista C\u00e2mara Cascudo e com o antrop\u00f3logo da Unicamp, Carlos Rodrigues Brand\u00e3o. Nele est\u00e1 presente o saber do povo, atrav\u00e9s de entrevistas, cantos e hist\u00f3rias.<\/p>\n Frei Chico<\/i> diz se sentir satisfeito com o resultado obtido, depois de mais de 40 anos de pesquisas que resultaram num riqu\u00edssimo trabalho, talvez o mais rico j\u00e1 feito sobre a cultura e a f\u00e9 de nosso povo. Sobre o produto final ele diz: \u201cPassei por uma reciclagem de ideias. Deparei-me com saberes marcantes e eles mudaram a minha no\u00e7\u00e3o de historiografia, a maneira de me relacionar com Deus e com o pr\u00f3prio significado da palavra cultura.\u201d<\/i><\/p>\n Dados Informa\u00e7\u00f5es sobre o Dicion\u00e1rio:<\/span> (www. nossacultura.com.br) Foi privilegiada a fala do povo atrav\u00e9s dos seus representantes: o mestre da folia, a rezadeira, o capit\u00e3o do congado, a m\u00e3e de santo, o cordelista e tantos outros. Suas hist\u00f3rias, depoimentos, prov\u00e9rbios, cantos e ora\u00e7\u00f5es est\u00e3o impressos em it\u00e1lico, destacando assim a parte mais importante do Dicion\u00e1rio.<\/em><\/p>\n Na religiosidade popular, aparecem assuntos tais como a espinhela ca\u00edda, simpatias para curar, transe, visagens, que n\u00e3o cabem nas teorias oficiais e, neste Dicion\u00e1rio, h\u00e1 uma preocupa\u00e7\u00e3o essencial: compreend\u00ea-los, sem recorrer a explica\u00e7\u00f5es como as da parapsicologia.<\/em><\/p>\n O povo do Jequitinhonha, querendo entender a vida ou resolver algum problema urgente, dizia ao autor: \u201cmorei no assunto\u201d ou \u201cpus aquilo no sentido\u201d.<\/em><\/p>\n Caro leitor, \u00e9 isso mesmo, a verdade \u00e9 vivida, compartida e concreta e n\u00e3o come\u00e7a com teorias prontas. Grande \u00e9 a riqueza cultural e religiosa dos pobres. Na busca da verdade, saibamos ficar satisfeitos com os caquinhos que alcan\u00e7amos.<\/em><\/p>\n Sobre o Autor:<\/span> Fontes de pesquisa: Views: 4<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Autoria de Lu Dias Carvalho \u00a0\u00a0 Quando cheguei a Ara\u00e7ua\u00ed, tudo era t\u00e3o diferente da minha terra, a l\u00edngua, a cultura, a maneira de tratar as doen\u00e7as… Ouvia aquela gente se referir a problemas de sa\u00fade como \u201ccarne quebrada\u201d, \u201cvento virado\u201d, \u201cespinhela ca\u00edda\u201d e \u201cmau-olhado\u201d. Comecei a ficar curioso. 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\n<\/span>Dicion\u00e1rio da Religiosidade Popular: Cultura e Religi\u00e3o no Brasil
\nAutor: Francisco vand der Poel (Frei Chico)
\nEditora Nossa Cultura
\n1.150 p\u00e1ginas\/ 8,5 mil verbetes? 6 mil notas de rodap\u00e9\/ 350 ilustra\u00e7\u00f5es
\nIlustra\u00e7\u00f5es: Lira Marques<\/p>\n
\nEste primeiro Dicion\u00e1rio da Religiosidade Popular tem todas as caracter\u00edsticas de um \u2018abeced\u00e1rio\u2019, no seu sentido humanista. Desde o fim da Idade M\u00e9dia, o Humanismo se distingue pela maneira aberta e tolerante de pesquisar, pensar e explicar. Durante quarenta anos, o autor reuniu e organizou em verbetes uma grande variedade de informa\u00e7\u00f5es sobre a vida e a experi\u00eancia religiosa do povo brasileiro. Buscou a coer\u00eancia de suas culturas e n\u00e3o tanto a l\u00f3gica total e racionalista. Tanto recorreu \u00e0s ci\u00eancias e \u00e0s artes, quanto procurou estar presente l\u00e1 onde as coisas acontecem. Pesquisou tamb\u00e9m arquivos, no Brasil e em Portugal. Na an\u00e1lise da rela\u00e7\u00e3o entre cultura e religi\u00e3o, alguns temas s\u00e3o constantes: as ra\u00edzes ind\u00edgenas; a mem\u00f3ria da escravid\u00e3o e da m\u00e3e \u00c1frica; a forte influ\u00eancia lusa; a brasilidade mesti\u00e7a; a dial\u00e9tica entre o oficial e o popular, hoje e no passado; migra\u00e7\u00e3o e urbaniza\u00e7\u00e3o; a situa\u00e7\u00e3o socioecon\u00f4mica; a m\u00eddia; a uni\u00e3o na diversidade; a comunidade de base; institui\u00e7\u00f5es religiosas e a f\u00e9 viva do povo. Assim, \u00e0 diferen\u00e7a de outros, este n\u00e3o \u00e9 um dicion\u00e1rio de folclore no sentido que n\u00e3o enfoca apenas o tradicional, mas a m\u00faltipla experi\u00eancia religiosa do povo brasileiro no passado e no presente.<\/em><\/p>\n
\n Francisco van der Poel, franciscano, membro do corpo docente do Instituto Jung, em Belo Horizonte (MG); do Conselho do Centro da Mem\u00f3ria da Medicina, na UFMG; do corpo docente do Instituto Santo Tom\u00e1s de Aquino, de teologia; da Comiss\u00e3o Mineira do Folclore; do Instituto Hist\u00f3rico e Geogr\u00e1fico de Minas Gerais; da Ordem dos M\u00fasicos do Brasil; formado em Teologia, na Holanda; licenciado em Filosofia, em S\u00e3o Jo\u00e3o del Rei (MG); publicou seis livros; \u00e9 palha\u00e7o do Teatro Terceira Margem, em Belo Horizonte.<\/em><\/p>\n
\n<\/span>Estado de Minas\/\/Pensar \/ 8-06-2013
\nwww. nossacultura.com.br<\/p>\n