{"id":608,"date":"2013-02-23T22:00:43","date_gmt":"2013-02-23T22:00:43","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=608"},"modified":"2022-07-26T11:57:24","modified_gmt":"2022-07-26T14:57:24","slug":"filme-amadeus","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/filme-amadeus\/","title":{"rendered":"Filme – AMADEUS"},"content":{"rendered":"
Autoria de Lu Dias Carvalho \u00a0<\/a> \u00a0 <\/a><\/p>\n As pessoas felizes se alegram com a felicidade alheia.<\/em><\/strong> O filme Amadeus<\/em> (1984) do premiado diretor tcheco, Milos Forman, naturalizado cidad\u00e3o americano, n\u00e3o trata da verdadeira hist\u00f3ria do grande compositor austr\u00edaco Wolfgang Amadeus Mozart, mas da inveja de seu rival Salieri (F. Murray Abraham), compositor oficial da corte do imperador Jos\u00e9 II da \u00c1ustria (Jeffrey Jones), que possui ouvidos afinados para a m\u00fasica, embora n\u00e3o tenha o talento do jovem rapaz. E pior, ele tem consci\u00eancia de sua limita\u00e7\u00e3o diante da obra de Mozart.<\/p>\n No filme, Salieri \u00e9 reverenciado e admirado, enquanto Mozart, muito novo e desconhecido, n\u00e3o tem as suas qualidades reconhecidas, a n\u00e3o ser pelo pr\u00f3prio Salieri, seu rival. Mozart \u00e9 visto na corte como se fosse um bobo. Ele nunca teve dinheiro suficiente e nunca se preocupou com isso. Salieri tem dinheiro, mas, para ele que ambiciona a arte, o dinheiro representa apenas um amargo consolo, uma grande ironia. Contudo, acima do \u00f3dio que devota ao jovem compositor, est\u00e1 a m\u00fasica a que dedica toda a sua paix\u00e3o. E, por isso, ele acompanha o compositor nos momentos finais de sua vida, copiando as partes faltantes de seu magn\u00edfico R\u00e9quiem, planejando colocar na composi\u00e7\u00e3o a sua autoria.<\/p>\n Sabiamente o diretor Milos Forman n\u00e3o faz o filme girar em torno da grandiosidade do talento de Mozart, como se aquilo fosse um fardo penoso de carregar. Ao contr\u00e1rio, apresenta-o como um pr\u00e9-hippie meio bobo, dono de uma gargalhada estridente, alheio \u00e0s conven\u00e7\u00f5es, chegado \u00e0 bebida e casado com uma mulher gorducha que gosta de ca\u00e7\u00e1-lo de gatinhas. Contudo, o jeito moleque do compositor desaparece numa fra\u00e7\u00e3o de segundos, quando a m\u00fasica apossa-se dele.<\/p>\n Os mais sisudos podem n\u00e3o compreender a inten\u00e7\u00e3o de Forman, mas o que ele queria mesmo era mostrar que os verdadeiros g\u00eanios raramente levam a s\u00e9rio a pr\u00f3pria obra, porque ela n\u00e3o lhes exige esfor\u00e7o algum, ao contr\u00e1rio daqueles menos brilhantes que fazem de suas obras um trabalho herc\u00faleo. Enquanto Mozart compunha com tanta facilidade, que \u201ca m\u00fasica parecia lhe ser ditada por Deus\u201d, Salieri esfor\u00e7ava-se bastante para produzir o m\u00ednimo.<\/p>\n Ainda crian\u00e7a, o pequeno compositor j\u00e1 tentava dar rumos a sua vida, mas em v\u00e3o, pois ela terminou pautada em tr\u00eas homens mais velhos:<\/p>\n \u2022 Seu pai, Leopold (Roy Dotrice), levou o filho para divertir as cortes europ\u00e9ias, mas acabou por se afastar dele, desaprovando a vida que Mozart passou a levar.<\/p>\n \u2022 O patrono, o imperador Jos\u00e9 II, determina regras estritas (nada de bal\u00e9 nas \u00f3peras), mas n\u00e3o p\u00f4de coloc\u00e1-las em pr\u00e1tica, porque gosta daquilo que proibiria.<\/p>\n \u2022 Salieri que se faz de amigo do compositor e ao mesmo tempo o trai, sabotando suas produ\u00e7\u00f5es e compromissos.<\/p>\n O filme \u00e9 narrado em flashback por Salieri, j\u00e1 no final da vida. Ele se encontra em um sanat\u00f3rio para doentes mentais, onde confessa a um padre como conheceu, amou e invejou Mozart e que talvez o tenha assassinado. Embora, ao que tudo indica, o compositor tenha morrido de tuberculose e cirrose. Talvez seja o remorso de Salieri, ao boicotar a arte de Mozart, que o faz pensar assim.<\/p>\n Cenas imperd\u00edveis:<\/span><\/p>\n \u2022 Talvez seja essa cena a mais importante do filme: Mozart, com apenas 35 anos, encontra-se nos momentos finais de sua vida, contudo, dita as p\u00e1ginas finais de R\u00e9quiem para Salieri, sentado ao p\u00e9 de sua cama, copiando as notas de sua mente conturbada. \u00c9 como se Salieri quisesse extrair o m\u00e1ximo da genialidade de Mozart.<\/p>\n \u2022 Na cena da morte de Mozart est\u00e1 presente a agonia do rival mais velho, que odeia perder, que seria capaz de mentir e trair, e ainda assim n\u00e3o pode negar que a m\u00fasica daquele jovem \u00e9 sublime.<\/p>\n \u2022 Os pal\u00e1cios, roupas, perucas, banquetes, noites de estr\u00e9ias e champanhe formam um visual interessante.<\/p>\n \u2022 A cena que explica com mais clareza por que Constanze (Elizabeth Berridge), esposa de Mozart, desprezava Salieri. J\u00e1 que n\u00e3o tinha Mozart, ele investe sobre sua mulher, tentando humilh\u00e1-lo.<\/p>\n \u2022 A cena em que o imperador consegue equilibrar sua seriedade com a divers\u00e3o que lhe causa a falta de pudor de Mozart. As perucas de Mozart s\u00e3o sempre diferentes das demais.<\/p>\n \u2022 Observem o rosto do imperador, quando conclui que talvez n\u00e3o devesse proibir bal\u00e9s nas \u00f3peras.<\/p>\n \u2022 Observem as cenas em que Salieri demonstra inveja, ressentimento e raiva.<\/p>\n \u2022 Outro momento de Salieri \u00e9 expresso em seu rosto, quando est\u00e1 \u00e0 cabeceira de Mozart, anotando o ditado final: h\u00e1 algo que ele ama acima de tudo \u2013 a m\u00fasica de Mozart.<\/p>\n \u2022 O apartamento de Mozart em Viena, j\u00e1 no final do filme, lembra a casa de um m\u00fasico de rock nouveau-rich. O aluguel \u00e9 car\u00edssimo, o mobili\u00e1rio escasso e confuso, obras espalhadas por toda parte, falta de limpeza, garrafas vazias pelos cantos, sendo a cama o centro de tudo.<\/p>\n Curiosidades:<\/span><\/p>\n \u2022 Na vida real Salieri foi um \u00f3timo compositor e n\u00e3o presenciou a morte de Mozart. Foi um compositor de muito sucesso. Teve alunos ilustres como Beethoven, Schubert e Liszt.<\/p>\n \u2022 Salieri e Mozart podem ter sido, na verdade, bons amigos.<\/p>\n \u2022 N\u00e3o \u00e9 verdade que Salieri tenha ido \u00e0 estr\u00e9ia de A Flauta M\u00e1gica de Mozart escondido, como revela o filme. Foi a convite do pr\u00f3prio Mozart.<\/p>\n \u2022 O filme foi rodado na cidade natal de Forman, Praga, uma das poucas cidades europ\u00e9ias quase intocadas desde o s\u00e9culo XVIII. Seis pal\u00e1cios com sua luxuosa mob\u00edlia serviram de loca\u00e7\u00e3o. Tamb\u00e9m foi usado o teatro, aonde o pr\u00f3prio Mozart conduziu a estr\u00e9ia da \u00f3pera Don Giovanni, em 1789.<\/p>\n \u2022 O filme \u00e9 cheio de grandiosas gesticula\u00e7\u00f5es e em todo ele foi empregada luz natural.<\/p>\n \u2022 O filme n\u00e3o se trata de uma biografia de Wolfgang Amadeus Mozart.<\/p>\n \u2022 O filme Amadeus conquistou mais de 30 pr\u00eamios. Levou oito Oscar, inclusive o de Melhor Filme.<\/p>\n \u2022 Tom Hulce (Mozart) ficou imortalizado com sua risada d\u00e9bil e aguda, que lembra o som produzido pelas hienas. \u00c9 ao mesmo tempo irritante e inesquec\u00edvel. E s\u00f3 n\u00e3o levou o pr\u00eamio de melhor ator porque seu antagonista, F. Murray Abraham (Salieri) era mesmo invenc\u00edvel.<\/p>\n \u2022 Para criar a inesquec\u00edvel risada de seu personagem, Tom Hulce usou como refer\u00eancias algumas cartas escritas sobre o compositor austr\u00edaco. Nelas, a risada de Mozart era descrita como \u201ccontagiante\u201d, embora soasse como \u201cmetal raspando vidro\u201d. Ele tamb\u00e9m precisou praticar para reproduzir uma das mais famosas proezas de Mozart: tocar piano de cabe\u00e7a para baixo, deitado de costas sobre o instrumento.<\/p>\n \u2022 A trilha original de Amadeus transformou-se em um dos \u00e1lbuns de m\u00fasica erudita de maior sucesso de todos os tempos.<\/p>\n \u2022 Wolfgang Amadeus Mozart nasceu em 27 de janeiro de 1756, em Salzburg, \u00c1ustria. Aprendeu a tocar cravo aos 3 anos, aos 5 compunha, aos 6 fez sua primeira turn\u00ea pela Europa e aos 8 j\u00e1 havia composto tr\u00eas sinfonias.<\/p>\n Sinopse<\/span><\/p>\n O filme se inicia em 1823, quando Salieri, j\u00e1 velho, tenta cometer suic\u00eddio, cortando sua garganta, enquanto grita por perd\u00e3o, por ter matado Mozart, h\u00e1 muito j\u00e1 falecido. Ap\u00f3s ser internado num hosp\u00edcio, \u00e9 visitado por um jovem padre, e inicia uma longa “confiss\u00e3o” sobre seu relacionamento com Mozart. As cenas deste di\u00e1logo voltam, ao longo do filme, como se a trama estivesse sendo narrada por Salieri para o padre, durante toda uma noite, at\u00e9 o in\u00edcio da manh\u00e3 seguinte.<\/p>\n Salieri relembra sua juventude, em particular sua devo\u00e7\u00e3o a Deus e seu amor pela m\u00fasica, e como prometeu a Deus permanecer celibat\u00e1rio, como forma de sacrif\u00edcio, se pudesse devotar, de alguma maneira, sua vida \u00e0 m\u00fasica. Descreve como os planos de seu pai para ele envolviam os neg\u00f3cios, por\u00e9m sugere que a sua morte repentina, engasgado durante uma refei\u00e7\u00e3o, teria sido “um milagre” que lhe permitiu que fosse atr\u00e1s de uma carreira musical.<\/p>\n Sua narrativa vai ent\u00e3o para o in\u00edcio de sua vida adulta, quando se junta \u00e0 elite cultural da Viena do s\u00e9culo XVIII (cidade dos m\u00fasicos). Salieri come\u00e7a sua carreira como um homem devoto e temente a Deus, que acredita que seu sucesso e talento como compositor s\u00e3o recompensas divinas por sua f\u00e9, e est\u00e1 satisfeito como compositor da corte para o imperador do Sacro Imp\u00e9rio Romano-Germ\u00e2nico Jos\u00e9 II.<\/p>\n Mozart chega \u00e0 Viena com o seu mecenas, o conde Hieronymus von Colloredo, arcebispo de Salzburgo. Enquanto Salieri observa Mozart secretamente, no pal\u00e1cio do arcebispo, sem ser apresentado a ele, percebe-o como uma pessoa irreverente e lasciva, ao mesmo tempo em que reconhece o imenso talento de suas obras. Em 1781, quando Mozart \u00e9 apresentado ao imperador, Salieri presenteia ao jovem compositor uma “Marcha de Boas-Vindas”, que ele havia tido certo trabalho para terminar. Nesta mesma reuni\u00e3o, Mozart mostra, pela primeira vez, sua tradicional risada infantil, que \u00e9 ouvida pelo resto do filme. Ap\u00f3s ter ouvido a marcha apenas uma vez, Mozart espontaneamente “improvisa” com a pe\u00e7a, sem fazer muito esfor\u00e7o, e transforma a “brincadeira” de Salieri na melodia da \u00e1ria “Non pi\u00f9 andrai”, de sua \u00f3pera As Bodas de F\u00edgaro.<\/p>\n Salieri fica abalado com a ideia de que Deus estaria falando atrav\u00e9s do infantil e petulante Mozart, cuja m\u00fasica ele via como milagrosa. Gradualmente, sua f\u00e9 \u00e9 abalada. Ele imagina Deus, atrav\u00e9s da genialidade de Mozart, rindo cruelmente de sua mediocridade musical. Os esfor\u00e7os de Salieri com Deus s\u00e3o intercalados com as cenas que mostram os pr\u00f3prios epis\u00f3dios de Mozart em sua vida em Viena: o orgulho da recep\u00e7\u00e3o inicial de sua m\u00fasica, a ira e a incredulidade diante do seu tratamento subsequente pelos italianos na corte do imperador; a felicidade com sua esposa, Constanze e seu filho, Wolfgang, e o luto pela morte de seu pai, Leopold. Mozart come\u00e7a a ficar cada vez mais desesperado, \u00e0 medida que os gastos da fam\u00edlia aumentam e as ofertas de trabalho diminuem. Quando Salieri se inteira da situa\u00e7\u00e3o financeira de Mozart, finalmente enxerga uma chance de se vingar, usando o “Preferido de Deus” como seu instrumento.<\/p>\n Salieri engendra ent\u00e3o uma trama complexa, para conquistar a vit\u00f3ria derradeira sobre Mozart e sobre Deus. Vestido com uma m\u00e1scara e uma capa semelhante \u00e0 que ele vira Leopold vestindo, ele contrata Mozart para lhe compor uma missa de r\u00e9quiem, com um pagamento adiantado e a promessa de uma quantidade enorme de dinheiro ao t\u00e9rmino da composi\u00e7\u00e3o. Mozart aceita e come\u00e7a a compor sua \u00faltima obra, Missa de R\u00e9quiem em r\u00e9 menor, sem desconfiar da identidade de seu mecenas misterioso e de seu plano: matar o jovem compositor assim que a obra estivesse completa, para assumir a sua autoria. Ao entrar em detalhes a respeito de como ele poderia cometer esse assassinato, Salieri descreve, arrebatado, a admira\u00e7\u00e3o de seus colegas e da corte, enquanto aplaudiriam o seu suposto r\u00e9quiem. Apenas ele pr\u00f3prio e Deus saberiam a verdade – que Mozart teria composto um r\u00e9quiem para si pr\u00f3prio, e que Deus s\u00f3 podia assistir enquanto Salieri finalmente recebia a fama e o renome que ele acreditava merecer.<\/p>\n A situa\u00e7\u00e3o financeira de pen\u00faria de Mozart continuava, e as exig\u00eancias impostas sobre ele pela composi\u00e7\u00e3o simult\u00e2nea do R\u00e9quiem e da Flauta M\u00e1gica o levam \u00e0 completa exaust\u00e3o. Ap\u00f3s diversas brigas, Constanze abandona-o, levando o filho com ela. Sua sa\u00fade, j\u00e1 fragilizada, piora, e ele desmaia durante o desempenho de estreia da Flauta M\u00e1gica. Salieri leva um Mozart extremamente doente para a sua casa, e o ilude para que continue a compor o R\u00e9quiem, deitado naquele que seria seu leito de morte. Mozart dita a obra para que Salieri a transcreva \u00e0 partitura (o que de fato teria acontecido, embora n\u00e3o com Salieri e sim com dois de seus pupilos, Joseph Eybler e Franz Xaver S\u00fcssmayr), por toda a madrugada. Constanze, arrependida de sua fuga, retorna pela manh\u00e3, e ordena a Salieri que v\u00e1 embora, arrancando os manuscritos das m\u00e3os deste e guardando-os. Quando ela vai acordar Mozart, ele j\u00e1 est\u00e1 morto. O R\u00e9quiem est\u00e1 incompleto, e Salieri s\u00f3 pode assistir enquanto o corpo de Mozart \u00e9 levado para fora de Viena, onde \u00e9 enterrado numa vala comum.<\/p>\n O filme termina quando Salieri acaba de narrar sua hist\u00f3ria ao jovem padre, visivelmente abalado. Salieri conclui afirmando que Deus preferiu matar Mozart a permitir que ele, Salieri, partilhasse de uma parcela \u00ednfima de sua gl\u00f3ria, e que ele est\u00e1 destinado a ser o “padroeiro da mediocridade”. Salieri ent\u00e3o “absolve” o padre de sua pr\u00f3pria mediocridade, e passa a “absolver” os outros pacientes do hosp\u00edcio na medida em que \u00e9 levado embora em sua cadeira de rodas. O filme encerra-se e antes dos cr\u00e9ditos ainda se ouve a c\u00f4mica risada de Mozart.<\/p>\n Fonte de Pesquisa: \n Views: 4<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Autoria de Lu Dias Carvalho \u00a0 \u00a0 As pessoas felizes se alegram com a felicidade alheia. As infelizes s\u00e3o envenenadas pela inveja. O sucesso n\u00e3o lhes basta, \u00e9 preciso que os outros fracassem. 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\nCinemateca Veja
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