\n<\/span><\/b><\/p>\n<\/p>\n
Seca as terras as folhas caem,
\nMorre o gado sai o povo,
\nO vento varre a campina,
\nRebenta a seca de novo;
\nCinco, seis mil emigrantes
\nFlagelados retirantes
\nVagam mendigando o p\u00e3o,
\nAcabam-se os animais
\nFicando limpo os currais
\nOnde houve a cria\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
N\u00e3o se v\u00ea uma folha verde
\nEm todo aquele sert\u00e3o,
\nN\u00e3o h\u00e1 um ente daqueles
\nQue mostre satisfa\u00e7\u00e3o.
\nOs touros que nas fazendas
\nEntravam em lutas tremendas,
\nHoje nem v\u00e3o mais ao campo.
\n\u00c9 um s\u00edtio de amarguras,
\nNem mais nas noites escuras
\nLampeja um s\u00f3 pirilampo.<\/p>\n
Aqueles bandos de rolas
\nQue arrulavam saudosas
\nGemem hoje coitadinhas
\nMal satisfeitas, queixosas.
\nAqueles lindos tet\u00e9us
\nCom penas da cor dos c\u00e9us,
\nOnde algum hoje estiver,
\nEst\u00e1 triste mudo e sombrio
\nN\u00e3o passeia mais no rio,
\nN\u00e3o solta um canto sequer.<\/p>\n
Tudo ali surdo aos gemidos
\nVisa o espectro da morte,
\nComo o nauta em mar estranho,
\nSem dire\u00e7\u00e3o e sem Norte
\nProcura a vida e n\u00e3o v\u00ea,
\nApenas ouve gemer.
\nO filho ultimando a vida
\nVai com seu pranto o banhar
\nVendo esposa solu\u00e7ar
\nUm adeus por despedida.<\/p>\n
Foi a fome negra e crua,
\nN\u00f3doa preta da hist\u00f3ria,
\nQue trouxe-lhe o ultimatum
\nDe uma vida provis\u00f3ria.
\nFoi o decreto terr\u00edvel
\nQue a grande pena invis\u00edvel
\nCom energia e ci\u00eancia
\nAutorizou que a fome
\nMandasse riscar seu nome
\nDo livro da exist\u00eancia.<\/p>\n
E a fome obedecendo,
\nA senten\u00e7a foi cumprida
\nDescarregando lhe o gl\u00e1dio,
\nTirou-lhe de um golpe a vida
\nN\u00e3o olhou o seu estado,
\nDeixando desamparado
\nAo p\u00e9 de si um filinho,
\nDizendo j\u00e1 existisses<\/em>
\n Porque da terra sa\u00edsses<\/em>
\n Volta ao mesmo caminho<\/em>.<\/p>\nV\u00ea-se uma m\u00e3e cadav\u00e9rica
\nQue j\u00e1 n\u00e3o pode falar,
\nEstreitando o filho ao peito
\nSem o poder consolar.
\nLan\u00e7a-lhe um olhar materno,
\nSolu\u00e7a, implora ao Eterno,
\nInvoca da Virgem o nome.
\nEla d\u00e9bil triste e louca,
\nApenas beija-lhe a boca,
\nE ambos morrem de fome.<\/p>\n
V\u00ea-se mo\u00e7as elegantes
\nAtravessarem as ruas.
\nUmas com roupas em tira,
\nOutras at\u00e9 quase nuas,
\nPassam tristes, envergonhadas
\nDa cruel fome, obrigadas
\nEm procura de socorros.
\nNas portas dos potentados,
\nPedem chorando os criados
\nO que sobrou dos cachorros.<\/p>\n
Aqueles campos que eram
\nPor flores alcatifados,
\nHoje parecem sepulcros
\nPelos dias de finados.
\nOs vales daqueles rios,
\nAqueles vastos sombrios
\nDe frondosas trepadeiras,
\nConserva a recorda\u00e7\u00e3o
\nDa cratera de um vulc\u00e3o
\nOu onde havia fogueiras.<\/p>\n
<\/p>\n
<\/p>\n
<\/b>Nota:\u00a0<\/span><\/span>\u00a0 Crian\u00e7a Morta<\/em>, C\u00e2ndido Portinari<\/span><\/span><\/em><\/p>\nViews: 4<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Autoria de Leandro G. de Barros Seca as terras as folhas caem, Morre o gado sai o povo, O vento varre a campina, Rebenta a seca de novo; Cinco, seis mil emigrantes Flagelados retirantes Vagam mendigando o p\u00e3o, Acabam-se os animais Ficando limpo os currais Onde houve a cria\u00e7\u00e3o. N\u00e3o se v\u00ea uma folha verde […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[22],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6114"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=6114"}],"version-history":[{"count":8,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6114\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":23578,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6114\/revisions\/23578"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=6114"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=6114"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=6114"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}