{"id":630,"date":"2013-02-24T17:13:03","date_gmt":"2013-02-24T17:13:03","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=630"},"modified":"2022-07-26T12:11:37","modified_gmt":"2022-07-26T15:11:37","slug":"filme-fargo-uma-comedia-de-erros","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/filme-fargo-uma-comedia-de-erros\/","title":{"rendered":"Filme \u2013 FARGO – UMA COM\u00c9DIA DE ERROS"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho
\n<\/strong><\/p>\n

\"fargo\"<\/a> \u00a0 \"fargoa\"<\/a><\/p>\n

Esta \u00e9 uma hist\u00f3ria real. Os eventos descritos no filme ocorreram em Minnesota em 1987. A pedido dos sobreviventes, os nomes foram trocados. Por respeito aos mortos, o resto foi contado exatamente como aconteceu.<\/em><\/strong><\/p>\n

Fargo – Uma Com\u00e9dia de Erros<\/em> (1996) \u00e9 uma das belas cria\u00e7\u00f5es cinematogr\u00e1ficas dos irm\u00e3os e parceiros Ethan e Joel Coen, indicado para o Oscar de melhor dire\u00e7\u00e3o, melhor filme, melhor fotografia, melhor roteiro original, melhor montagem, melhor ator coadjuvante e melhor atriz. Foram sete indica\u00e7\u00f5es no total. Levou duas estatuetas: melhor atriz (Frances McDormand) e melhor roteiro original (irm\u00e3os Coen). Pode ser classificado como uma \u201cdram\u00e9dia\u201d.<\/p>\n

O filme poderia ser qualquer um dos muitos outros que mostram hist\u00f3rias sobre crimes, sem grande relev\u00e2ncia. Mas n\u00e3o o \u00e9. Trata-se de um dos mais geniais filmes j\u00e1 feitos sobre o tema. \u00c9 produzido e dirigido pelos irm\u00e3os Coen, que dirigem, produzem e escrevem a quatro m\u00e3os. Os dois irm\u00e3os fazem parte da constela\u00e7\u00e3o de bons cineastas surgidos na d\u00e9cada de 80 nos Estados Unidos. Dentre os seus premiados filmes, Fargo<\/em> \u00e9, sem d\u00favida, um dos melhores. A trama provoca choque, admira\u00e7\u00e3o, horror e tamb\u00e9m boas risadas, entrela\u00e7ando corrup\u00e7\u00e3o, sequestro, mal-entendidos e assassinatos. Como o pr\u00f3prio t\u00edtulo diz o que vemos \u00e9 uma s\u00e9rie de erros que fogem ao controle dos envolvidos.<\/p>\n

Para melhor entendimento da pel\u00edcula \u00e9 preciso conhecer um pouco dos personagens centrais:<\/p>\n

Jerry Lundegaard (William H. Macy) \u2013 \u00e9 o gerente executivo de uma revendedora de autom\u00f3veis do seu mand\u00e3o e implac\u00e1vel sogro Wade Gustafson (Harve Prasnell). Ele precisa de setecentos e cinquenta mil d\u00f3lares emprestados para construir estacionamentos para si. Com a compra j\u00e1 engatilhada, recorre ao sogro que se recusa a fazer o empr\u00e9stimo. Ele, ent\u00e3o, tem a pat\u00e9tica ideia de sequestrar a pr\u00f3pria mulher e exigir do sogro rico o pagamento. Aos dois sequestradores caber\u00e1 parte do dinheiro e um carro zero e a ele pertencer\u00e1 a maior parte do resgate. Aos raptores diz que dividir\u00e3o o resgate de 80 mil d\u00f3lares, mas diz ao sogro que os bandidos est\u00e3o exigindo, para resgatar sua filha, um milh\u00e3o de d\u00f3lares. Espera que tudo d\u00ea certo, com a esposa libertada sem sofrer qualquer dano f\u00edsico, e ele tenha acesso aos 920 mil d\u00f3lares para comprar os terrenos.<\/p>\n

Jean (Kristin Rudr\u00fcd) \u00e9 a esposa de Jerry, totalmente dedicada ao marido e ao filho. O que deixa o espectador irritado com a agress\u00e3o feita a ela.<\/p>\n

Carl Showalter (Steve Buscemi) e seu soturno, violento e cruel c\u00famplice Gaear Grimsrud (Peter Stormare) aceitam executar o rapto por quarenta d\u00f3lares e mais um carro zero, que ser\u00e1 roubado por Jerry da ag\u00eancia do sogro. S\u00f3 que tudo descontrola nas m\u00e3os dos dois, com um erro atr\u00e1s do outro. Gaear \u00e9 um psicopata brutal e irrefre\u00e1vel, de modo que o irrequieto Showalter, que pensava estar no comando da a\u00e7\u00e3o, n\u00e3o consegue mais control\u00e1-lo e tampouco os acontecimentos.<\/p>\n

Marge Gunderson (Frances McDormand) \u00e9 a chefa de pol\u00edcia da pequena cidade de Brainerd\/ Minnesota. Ela se encontra no s\u00e9timo m\u00eas de gravidez e sofre com problemas de enj\u00f4o pela manh\u00e3. Come qualquer coisa que encontra pela frente e sua fala traz o famoso sotaque da gente de Minnesota. Vive harmoniosamente com seu marido Norm. Apesar de parecer uma pessoa comum, \u00e9 uma policial muito esperta e intuitiva, capaz de tirar conclus\u00f5es r\u00e1pidas e certeiras dos acontecimentos. Pela marca dos sapatos deixada pelos assassinos, ela \u00e9 capaz de determinar a altura deles e concluir que n\u00e3o s\u00e3o da cidade. Ela conduz a investiga\u00e7\u00e3o do triplo assassinato com confian\u00e7a, apesar de se encontrar pesada pelo adiantado estado de gravidez. A personagem ganha a simpatia do espectador assim que aparece na tela, com seu jeito simples.<\/p>\n

Jerry contrata os sequestradores atrav\u00e9s de um mec\u00e2nico que lida com criminosos. N\u00e3o possui nenhuma informa\u00e7\u00e3o sobre os dois contratados, mas espera que o plano d\u00ea certo. E, tr\u00eas dias depois, sua esposa \u00e9 sequestrada na pr\u00f3pria casa e levada para o cativeiro. Mas, na estrada assustadoramente des\u00e9rtica, o carro \u00e9 parado por um policial. E ali acontecem tr\u00eas assassinatos. A chefa de pol\u00edcia Marge \u00e9 chamada para descobrir os respons\u00e1veis pelo triplo homic\u00eddio.<\/p>\n

A hist\u00f3ria complica-se, quando o sogro resolve entregar pessoalmente o resgate, fato que impediria que Jerry recebesse os 920 mil d\u00f3lares, jogando todos os seus planos por \u00e1gua abaixo. E, quando a policial Marge aparece em sua vida, fazendo-lhe perguntas desconcertantes, Jarry vai perdendo o seu autocontrole e se embara\u00e7ando mais ainda.<\/p>\n

Os irm\u00e3os Coen criam em Fargo<\/em> uma tragicom\u00e9dia interessant\u00edssima e bizarra, ao mesmo tempo, que, apesar de ser violenta e perturbadora, \u00e9 tamb\u00e9m ris\u00edvel. Misturam maldade com inoc\u00eancia numa dosagem exata. Eles assustam, abismam e divertem os espectadores.<\/p>\n

Cenas imperd\u00edveis:<\/span><\/p>\n

\u2022 O tiro impiedoso dado por Gaear no policial que os aborda na estrada e o sangue jorrando da cabe\u00e7a do pobre homem.<\/p>\n

\u2022 Jean, descal\u00e7a e com os olhos vendados, tentando fugir de seus agressores, correndo pela neve, totalmente desnorteada, enquanto Carl ri.<\/p>\n

\u2022 Gaear empurra a perna do seu parceiro para dentro de uma m\u00e1quina de tritura madeira.<\/p>\n

\u2022 A cordialidade com que a chefe Marge aborda as pessoas, tentando desvendar o crime.<\/p>\n

\u2022 A cena em que os assassinos juntam-se a duas prostituas num quarto de motel e assistem a um programa televisivo.<\/p>\n

\u2022 As persianas do escrit\u00f3rio de Jerry que lembram, visualmente, as grades de uma pris\u00e3o.<\/p>\n

\u2022 O encontro de Marge e um companheiro de classe da universidade. O sujeito \u00e9 solit\u00e1rio e \u00e9 tamb\u00e9m um mentiroso compulsivo, na tentativa de esconder seu desespero. O encontro desperta-a para as possibilidades da mentira.<\/p>\n

\u2022 A maioria das cenas passa num ambiente, onde o frio, a neve, amplid\u00e3o e a monotonia s\u00e3o a t\u00f4nica.<\/p>\n

\u2022 As mortes na estrada acontecem quase na total escurid\u00e3o. Toda a cena foi iluminada por l\u00e2mpadas semelhantes a far\u00f3is de carro, presas nos para-choques.<\/p>\n

\u2022 Quando Marge chega ao local dos crimes, acontece o contr\u00e1rio, tudo \u00e9 muito branco.<\/p>\n

\u2022 N\u00e3o h\u00e1 movimentos bruscos e nem cortes no filme, para diminuir a dramaticidade da narrativa e jogar toda a emo\u00e7\u00e3o nos personagens. A paisagem mon\u00f3tona, os extensos espa\u00e7os vazios e a brancura da neve tamb\u00e9m contribuem para isso.<\/p>\n

\u2022 As filmagens foram feitas em dias cinzentos, sem sol e a linha do horizonte dificilmente \u00e9 vista. Observem.<\/p>\n

\u2022 Mesmo nas cenas de interiores h\u00e1 o predom\u00ednio da luz natural, refor\u00e7ando a sensa\u00e7\u00e3o de que o espectador est\u00e1 acompanhando uma hist\u00f3ria real.<\/p>\n

Curiosidades:<\/span><\/p>\n

\u2022 Fargo \u00e9 o nome de uma pequena cidade no estado americano de Dakota do Norte.<\/p>\n

\u2022 O inverno de 1955 foi o segundo mais quente na regi\u00e3o em 100 anos. Por isso as cenas externas tiveram que ser filmadas cada vez mais ao norte, de Minnesota a Dakota e at\u00e9 no Canad\u00e1.<\/p>\n

\u2022 Em v\u00e1rias cenas foi preciso colocar neve, produzida artificialmente, nas loca\u00e7\u00f5es, nas noites anteriores \u00e0s filmagens.<\/p>\n

\u2022 A cortesia vista em v\u00e1rias personagens \u00e9 conhecida nos Estados Unidos como \u201cMinnesota Nice\u201d, pois, segundo Joel Coen, \u201ctrata-se de uma cultura muito educada\u201d. \u201cA hostilidade quando existe \u00e9 encoberta pela simpatia\u201d, completa Ethan Coen.<\/p>\n

\u2022 O sotaque do lugar tamb\u00e9m \u00e9 muito interessante. Podemos ver isso no personagem de William H. Macy (o gaguejar, o racioc\u00ednio truncado e as frases incompletas, por exemplo).<\/p>\n

\u2022 Macy chegou a ser indicado para o pr\u00eamio de melhor ator coadjuvante. E seu desempenho em Fargo tornou-o um ator muito disputado.<\/p>\n

\u2022 Frances McDormand (Marge) \u00e9 esposa de Joel Coen.<\/p>\n

\u2022 A barriga falsa de Marge tem enchimento de alpiste, para ter peso e lhe dar um ar cansado para caminhar. Na vida real Frances McDormand e o marido, Joel Coen, n\u00e3o tiveram filhos, mas adotaram Pedro, um menino paraguaio.<\/p>\n

\u2022 O ator Steve Buscemi (Carl) \u00e9 um dos preferidos dos irm\u00e3os Coen. J\u00e1 trabalhou com eles em outros filmes. \u00c9 tamb\u00e9m diretor e roteirista.<\/p>\n

\u2022 Embora n\u00e3o seja um document\u00e1rio, Fargo foi filmado como se fosse. Os espectadores t\u00eam a impress\u00e3o de serem testemunhas de uma hist\u00f3ria que se desenrola naquele presente momento.<\/p>\n

\u2022 Apesar do t\u00edtulo, muito pouco da trama do filme se passa na cidade de Fargo.<\/p>\n

\u2022 Paul Bunyan, o lenhador gigante, \u00e9 um personagem do folclore americano.<\/p>\n

\u2022 Nada do que acontece no filme \u00e9 verdadeiro. At\u00e9 os atores foram enganados. Jornalistas perderam muito tempo pesquisando os supostos crimes que teriam inspirado os irm\u00e3os Coen, antes de descobrir que haviam sido enganados.<\/p>\n

\u2022 Nos cr\u00e9ditos finais h\u00e1 outro aviso. O de que as pessoas e eventos mostrados no filme s\u00e3o fict\u00edcios.<\/p>\n

\u2022 Dizem que uma japonesa viajou de T\u00f3quio para Dakota do Norte, em dezembro de 2001, e foi encontrada tentando encontrar o dinheiro do resgate de Jean Ludegaard, enterrado por Carl Showalter. Mas, em 2003, o jornal ingl\u00eas The Guardian publicou a verdadeira hist\u00f3ria de Takako Konoshi: ela cometeu suic\u00eddio por causa de uma decep\u00e7\u00e3o amorosa. E a not\u00edcia de sua ca\u00e7a ao tesouro era inver\u00eddica.<\/p>\n

\u2022 Fargo foi recebido com aclama\u00e7\u00e3o pela cr\u00edtica mundial. O cr\u00edtico de cinema, Roger Ebert, diz que Fargo \u00e9 seu favorito quarto filme da d\u00e9cada de 1990 (ele tamb\u00e9m o chamou de “best of 1996”). Disse: “Fargo \u00e9 um dos melhores filmes que j\u00e1 vi”. Muitos cr\u00edticos proeminentes denominaram-no de “o melhor do ano”.<\/p>\n

Fontes de Pesquisa
\n<\/span>A Magia do Cinema\/ Roger Ebert
\nCinemateca Veja
\n1001 Filmes para ver….\/ Editora Sextante
\nWikip\u00e9dia<\/p>\n

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