{"id":652,"date":"2013-02-24T17:42:45","date_gmt":"2013-02-24T17:42:45","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=652"},"modified":"2022-08-27T20:44:15","modified_gmt":"2022-08-27T23:44:15","slug":"filme-o-evangelho-segundo-sao-mateus","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/filme-o-evangelho-segundo-sao-mateus\/","title":{"rendered":"Filme – O EVANGELHO SEGUNDO S\u00c3O MATEUS"},"content":{"rendered":"
Autoria de Lu Dias Carvalho <\/a>\u00a0\u00a0 <\/a><\/p>\n A ideia de tomar um dos Evangelhos como base para um filme empurrou para a sombra todas as outras ideias de trabalho que eu tinha em mente. (Pasolini)<\/em><\/strong><\/p>\n O filme de Pasolini \u00e9 um dos mais eficientes sobre temas religiosos a que eu j\u00e1 assisti, talvez por ter sido feito por um n\u00e3o fiel, que n\u00e3o prega, n\u00e3o glorifica, n\u00e3o enfatiza, n\u00e3o sentimentaliza, n\u00e3o romantiza a famosa hist\u00f3ria, mas se esfor\u00e7a ao m\u00e1ximo em apenas registr\u00e1-la. (Roger Ebert)<\/em><\/strong><\/p>\n \u00c9 geralmente tido como ironia que um dos filmes mais fi\u00e9is j\u00e1 feitos sobre a vida de Jesus Cristo \u2013 sen\u00e3o o mais fiel \u2013 seja obra de um comunista, o italiano Pier Paolo Pasolini. O Evangelho Segundo S\u00e3o Mateus (Il Vangelo Secondo Matteo, It\u00e1lia, 1964), que saiu em DVD em c\u00f3pia restaurada, \u00e9 dedicado pelo diretor ao papa Jo\u00e3o XXIII e n\u00e3o tem nem uma \u00fanica fala que n\u00e3o seja tirada tal e qual do texto do evangelista Mateus. (Isabela Boscov)<\/em><\/strong><\/p>\n O Evangelho Segundo S\u00e3o Mateus<\/em> (1964), obra-prima do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini \u00e9 surpreendente at\u00e9 mesmo pelo modo como se iniciou.<\/p>\n E 1962, o papa Jo\u00e3o XXIII, sempre muito aberto ao di\u00e1logo, fez um convite aos artistas n\u00e3o cat\u00f3licos para que eles participassem de um encontro em Assis, cidade natal de S\u00e3o Francisco. Embora fosse reconhecidamente ateu, marxista e homossexual, o diretor Pasolini aceitou o convite do papa, indo para Assis. Ali, no quarto do hotel que lhe fora reservado, deparou-se com um exemplar dos Evangelhos que, segundo ele, leu do in\u00edcio ao fim. E, atrav\u00e9s de tal leitura, teve a ideia de escolher um deles como base para um filme.<\/p>\n O Evangelho Segundo S\u00e3o Mateus<\/em> foi filmado, principalmente, no distrito italiano de Basilicata, em sua capital Matera. A regi\u00e3o era pobre e bastante desolada \u00e0 \u00e9poca. \u00c9 narrado em branco e preto, embora j\u00e1 possa ser encontrado restaurado e digitalmente colorizado (as duas formas encontram-se no mesmo DVD). Essa obra magn\u00edfica recebeu tr\u00eas indica\u00e7\u00f5es para o Oscar. Ganhou o pr\u00eamio especial do j\u00fari no Festival de Veneza e recebeu o pr\u00eamio OCIC (Office Catholique International du Cin\u00e9ma), que o exibiu no interior da Catedral de Notre Dame, em Paris. Trata-se de uma produ\u00e7\u00e3o franco-italiana.<\/p>\n O filme \u00e9 de uma simplicidade comovente. \u00c9 feito como se um documentarista acompanhasse Jesus, desde o nascimento at\u00e9 sua morte, tendo em m\u00e3os apenas uma m\u00e1quina filmadora. Essa sensa\u00e7\u00e3o, passada pelo cineasta ao espectador, \u00e9 totalmente proposital. O elenco \u00e9 composto por pessoas comuns. Nessa pel\u00edcula, Pasolini abra\u00e7a a linha do neorrealismo (Movimento que aconteceu ap\u00f3s a Segunda Guerra Mundial, principalmente na It\u00e1lia, que tinha como objetivo participar da realidade, inclusive, usando a gente do povo como atores, pois se tinha a ideia de que as pessoas comuns encarnavam melhor certos personagens.).<\/p>\n Para representar Cristo, o diretor Pasolini escolheu Enrique Irazoqui, um espanhol, estudante de economia, que nunca havia representado. Ele representa um Jesus magro, com os ombros recurvados, sobrancelhas pretas e fartas, cabelos curtos, pele morena, barba curta e, em nada lembra o Cristo visto em outros filmes. \u00c9 representado como a maioria dos judeus da \u00e9poca em que viveu. Normalmente \u00e9 doce no falar, como no Serm\u00e3o da Montanha. Mas tamb\u00e9m se mostra enraivecido em certos momentos. Jesus sempre responde a uma pergunta com outra, ou com uma par\u00e1bola, ou com ironia; bem ao estilo de S\u00e3o Mateus, considerado o mais realista dos quatro evangelistas que est\u00e3o na B\u00edblia.<\/p>\n Camponeses locais, lojistas, oper\u00e1rios de f\u00e1brica, motoristas de caminh\u00e3o, entre outros, foram contratados para os demais pap\u00e9is. Para interpretar Maria, na parte em que Jesus \u00e9 crucificado, o diretor escolheu sua pr\u00f3pria m\u00e3e. O anjo, que conta a Jos\u00e9 que Maria dar\u00e1 \u00e0 luz o filho de Deus, \u00e9 semelhante a uma camponesa e aparece em v\u00e1rios momentos do filme. Para a filmagem, Pasolini n\u00e3o usou roteiro. Limitou-se a seguir S\u00e3o Mateus em seus evangelhos, p\u00e1gina por p\u00e1gina. S\u00f3 usou de s\u00edntese, quando foi extremamente necess\u00e1rio, para impedir que o filme fosse demasiadamente longo.<\/p>\n Os disc\u00edpulos de Jesus s\u00e3o mostrados por Pasolini, como um grupo de jovens que possui consci\u00eancia social e que aderem a uma causa revolucion\u00e1ria. E, ao usar cen\u00e1rios m\u00ednimos e enquadramentos simples, o diretor recria um retrato convincente da \u00e9poca em que se a passa a hist\u00f3ria da vida de Jesus. Sendo que a simplicidade na forma com que Pasolini conta e interpreta a hist\u00f3ria, viria a mudar o conceito de \u00e9pico b\u00edblico.<\/p>\n Em O Evangelho Segundo S\u00e3o Mateus<\/em>, vemos um Jesus que se posta radicalmente contra o materialismo da sociedade, que enaltece os ricos e os poderosos e menospreza os fracos e os pobres. O Cristo de Pasolini passa-nos a mensagem de que \u201csentia a nossa dor e nos amava\u201d, mas que n\u00e3o amava \u201caqueles cujo reinado era na Terra\u201d. Os escribas e os fariseus daquela \u00e9poca t\u00eam muito em comum com a maioria dos \u201ccrist\u00e3os\u201d de nossos dias.<\/p>\n Existem pouqu\u00edssimos di\u00e1logos no filme. E muitos personagens, ao serem filmados em close-up (primeiro plano), lembram as pinturas religiosas da Idade Medieval. A trilha sonora \u00e9 especial, incluindo missas de Bach, Mozart e grava\u00e7\u00f5es de blues.<\/p>\n Temos visto v\u00e1rios filmes sobre a vida e a morte de Cristo sob diferentes \u00e2ngulos, o que nos mostra que n\u00e3o existe uma \u00fanica vers\u00e3o sobre a hist\u00f3ria desta grande figura. Cada cineasta molda-o de acordo com suas ideias. Citando apenas dois exemplos: enquanto Mel Gibson deu enfoque ao sofrimento, por entender que esse era o fato principal da vida do Salvador, Pasolini j\u00e1 entendeu que sua ess\u00eancia encontrava-se nos seus ensinamentos, de modo que compreend\u00ea-los era muito mais importante.<\/p>\n O filme de Pasolini diz-nos que Jesus foi um radical e cujos ensinamentos, se levados a s\u00e9rio, contradizem os valores da maioria das sociedades humanas desde ent\u00e3o. (Roger Ebert)<\/em><\/p>\n Curiosidades:<\/span><\/p>\n \u2022 Quarenta anos ap\u00f3s O Evangelho Segundo S\u00e3o Mateus, Mel Gibson filmaria a Paix\u00e3o de Cristo, exatamente nas mesmas loca\u00e7\u00f5es que o primeiro.<\/p>\n \u2022 Pasolini dirigiu 25 filmes. Os mais famosos s\u00e3o: Desajuste Social, Sal\u00f3 ou Os Cento e Vinte Dias de Gomorra, Decameron, Mama Roma, Teorema e O Evangelho Segundo S\u00e3o Mateus. Trabalhou nos roteiros de dois filmes famosos de Fellini: As Noites de Cab\u00edria e A Doce Vida.<\/p>\n \u2022 Os Tr\u00eas Reis Magos do filme em quest\u00e3o chegam montados em cavalos (e n\u00e3o em camelos). Eles est\u00e3o acompanhados por uma multid\u00e3o de crian\u00e7as alegres e barulhentas.<\/p>\n \u2022 A cena do massacre dos primog\u00eanitos \u00e9 r\u00e1pida, mas mesmo assim assustadora.<\/p>\n \u2022 Os milagres dos p\u00e3es e dos peixes e a caminhada sobre a \u00e1gua s\u00e3o tratados discretamente.<\/p>\n \u2022 Na cena em que Jesus debate com os anci\u00e3os do templo, as crian\u00e7as est\u00e3o assentadas em filas a seus p\u00e9s. Muitas vezes viram-se e fazem caretas para os velhos.<\/p>\n \u2022 Na maior parte da caminhada at\u00e9 o Calv\u00e1rio, Sim\u00e3o \u00e9 quem carrega a cruz, enquanto Jesus segue logo atr\u00e1s.<\/p>\n \u2022 Existe a coroa de espinhos, mas poucas gotas de sangue s\u00e3o vistas. Apesar de fugir ao estilo dos \u00e9picos de Hollywood, a cena n\u00e3o \u00e9 suavizada e nem dramatizada. Ela \u00e9 apenas real e cruel.<\/p>\n \u2022 A crucifica\u00e7\u00e3o \u00e9 inteiramente destitu\u00edda da viol\u00eancia vista na vers\u00e3o de Mel Gibson.<\/p>\n \u2022 Pasolini era cr\u00edtico de cinema, escritor e t\u00e9cnico pol\u00edtico antes de se dedicar \u00e0 dire\u00e7\u00e3o de filmes. Mas ele se considerava mais um poeta do que um cineasta.<\/p>\n \u2022 Inquieto com o avan\u00e7o industrial na It\u00e1lia (1950 e 1960), que dizia comprometer a diversidade cultural, Pasolini utiliza no filme, em contraponto, os elementos po\u00e9ticos e m\u00edticos da cultura ancestral, como o sacrif\u00edcio necess\u00e1rio \u00e0 sacraliza\u00e7\u00e3o e ao renascimento.<\/p>\n \u2022 A obra de Pasolini vai do profano ao divino e os desvarios de sua vida privada levaram-no a morrer assassinado em um arrebalde deserto.<\/p>\n Fontes de Pesquisa: Views: 2<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Autoria de Lu Dias Carvalho \u00a0\u00a0 A ideia de tomar um dos Evangelhos como base para um filme empurrou para a sombra todas as outras ideias de trabalho que eu tinha em mente. 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