{"id":6993,"date":"2013-09-05T23:20:09","date_gmt":"2013-09-06T02:20:09","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=6993"},"modified":"2020-06-05T17:38:38","modified_gmt":"2020-06-05T20:38:38","slug":"a-arte-gotica-2a-parte","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/a-arte-gotica-2a-parte\/","title":{"rendered":"A ARTE G\u00d3TICA (2\u00aa Parte)"},"content":{"rendered":"
Autoria do Prof. Pierre Santos<\/b><\/p>\n
<\/a> \u00a0 <\/a><\/p>\n Com a descrita estrutura armada pelo arquiteto g\u00f3tico, as paredes perderam a fun\u00e7\u00e3o de sustentar, como antes, conservando apenas a de mera veda\u00e7\u00e3o. O resultado foi que, deste modo, p\u00f4de o arquiteto multiplicar \u00e0 sua vontade os v\u00e3os de ilumina\u00e7\u00e3o interna e soube tirar extraordin\u00e1rio partido do fato, pondo nessas aberturas imensos vitrais coloridos, os quais filtravam a luz desde o exterior, fazendo-a penetrar no seio da igreja em feixes multicores a lembrarem o sonho e a fantasia. Assim, banhada de luz, ampliada para os lados e para a profundidade e impulsionada para o alto, numa grandiosidade que \u2013 guardadas as propor\u00e7\u00f5es das possibilidades tecnol\u00f3gicas das \u00e9pocas \u2013 nem pela arma\u00e7\u00e3o do concreto armado se ver\u00e1 superada dentro de suas preocupa\u00e7\u00f5es (sabendo-se que as da \u00e9poca do cimento s\u00e3o bem diversas), a catedral g\u00f3tica, esbelta e leve, como que suspensa num v\u00f4o, cumpriu soberbamente o programa da igreja em seu grande sonho de traduzir, na linguagem das formas de seus templos, os ideais de enlevo e \u00eaxtase, tal um c\u00e2ntico reboando pelo espa\u00e7o afora, infinitamente a modular-se.<\/p>\n Embora em seu aparecimento o g\u00f3tico tenha sido saudado como um milagre construtivo, o fato \u00e9 que as suas primeiras realiza\u00e7\u00f5es ainda eram acanhadas perto daquelas que viriam depois, cujas propostas iriam amadurecendo pausadamente ao longo de quatro s\u00e9culos a partir do final do s\u00e9culo XII, e se dariam em cinco per\u00edodos bem caracterizados:<\/p>\n 1\u00ba Per\u00edodo<\/i><\/b> – do final do s\u00e9culo XII ao s\u00e9culo XIII \u2013 foi chamado de G\u00f3tico primitivo<\/i>, quando apenas algumas solu\u00e7\u00f5es foram incorporadas \u00e0s constru\u00e7\u00f5es, como aconteceu com a Igreja de Saint Denis, de Paris, na verdade o primeiro templo g\u00f3tico edificado.<\/p>\n 2\u00ba Per\u00edodo<\/i><\/b> \u2013 do final do s\u00e9culo XIII ao s\u00e9culo XIV \u2013 foi chamado de Gotico lanceolado<\/i> ou de lanceta<\/i>, quando se acentuam o verticalismo com o emprego do arco mais agudo e o uso do vitral, aparecendo externamente e em profus\u00e3o o elemento decorativo denominado lancete. Foi a \u00e9poca das grandes constru\u00e7\u00f5es, principalmente pela Fran\u00e7a afora.<\/p>\n 3\u00ba Per\u00edodo<\/i><\/b> \u2013 do final do s\u00e9culo XIV ao s\u00e9culo XV \u2013 foi chamado de G\u00f3tico Irradiante<\/i>, com suntuosa decora\u00e7\u00e3o interna e nas fachadas.<\/p>\n 4\u00ba Per\u00edodo<\/i><\/b> \u2013 do final do s\u00e9culo XV ao s\u00e9culo XVI \u2013 foi chamado de G\u00f3tico Flamboyant<\/i> \u00a0ou Flamejante<\/i>, pelo excesso na decora\u00e7\u00e3o dos templos da \u00e9poca de um elemento em forma de labareda, donde o nome.<\/p>\n 5\u00ba Per\u00edodo<\/i><\/b> <\/b>\u2013 s\u00e9culo XVI \u2013 foi chamado de G\u00f3tico Manuelino<\/i>, em homenagem a D. Manoel, Rei de Portugal \u00e0 \u00e9poca e exclusivo daquele Pa\u00eds, estilo que tem sido muito admirado ao longo do tempo. O arquiteto portugu\u00eas usou em suas constru\u00e7\u00f5es, sobretudo nas civis, elementos decorativos inspirados nas navega\u00e7\u00f5es e descobrimentos mar\u00edtimos de seu povo.<\/p>\n Mas a roldana das sucess\u00f5es est\u00e9ticas n\u00e3o para de girar: tendo explorado at\u00e9 ali todas as possibilidades do equacionamento de seus problemas arquitet\u00f4nicos, nos in\u00fameros sub estilos que vai assumindo em seus v\u00e1rios s\u00e9culos de exist\u00eancia, a Arte G\u00f3tica<\/i> chega \u00e0 sua exaust\u00e3o e ser\u00e1 em seguida superada pelas novas formas e novo vocabul\u00e1rio de express\u00e3o art\u00edstica da Renascen\u00e7a<\/i> que, havia muito, se vinha preparando para dominar a cena. Mas, n\u00e3o vai sem m\u00e9ritos o seu decl\u00ednio. O templo medieval, em sua esteira o g\u00f3tico, primara pela fus\u00e3o das artes, vindas colaborar em uma finalidade comum; nessa colabora\u00e7\u00e3o, a arquitetura subordinava \u00e0 sua express\u00e3o as demais artes. As \u00e9pocas posteriores v\u00e3o primar pela liberta\u00e7\u00e3o das artes, fazendo-as aut\u00f4nomas e independentes umas das outras, cuja independ\u00eancia haveria de manter-se, inclusive quando reunidas no mesmo complexo art\u00edstico, sem que uma delas subjugasse as outras, embora nesses per\u00edodos se tenha dado a predomin\u00e2ncia da arte pict\u00f3rica<\/i>, mas apenas em sua condi\u00e7\u00e3o de ve\u00edculo mais prop\u00edcio \u00e0s express\u00f5es humanas. Entretanto, quando vemos nas portadas de Chartres, de Compostela e de outras catedrais e nas suas fachadas sempre movimentadas, ao contr\u00e1rio das igrejas rom\u00e2nicas, aquelas espl\u00eandidas esculturas que as decoram, produzidas pelo artista g\u00f3tico, parece-nos que, saindo dos interiores, vieram \u00e0 porta reclamar liberdade \u2013 e na eleg\u00e2ncia de seu porte, na fluidez natural das linhas que as comp\u00f5em e, principalmente, na luz transbordante de reflexos humanos que lhes animam a fisionomia, come\u00e7amos, tamb\u00e9m com um sorriso, a vislumbrar os primeiros clar\u00f5es do humanismo, que se aproximava.<\/p>\n Nascido na Fran\u00e7a onde conheceu o seu maior desenvolvimento, o g\u00f3tico<\/i> logo se expandiu principalmente para Inglaterra, Alemanha, Espanha e Portugal. Mas n\u00e3o teve na It\u00e1lia boa receptividade, onde os arquitetos optaram por certo aperfei\u00e7oamento do estilo rom\u00e2nico e poucas solu\u00e7\u00f5es do g\u00f3tico foram ali acolhidas, mas nunca a ponto de caracterizar as suas constru\u00e7\u00f5es como tais, \u00e0 maneira francesa. As manifesta\u00e7\u00f5es puramente g\u00f3ticas em certas cidades no norte, como Mil\u00e3o (cujo Duomo se tornou famoso) e Veneza (que empregou o estilo, sobretudo em constru\u00e7\u00f5es civis, tais como o Pal\u00e1cio Ducal e a C\u00e0 d\u2019Oro), s\u00e3o meras exce\u00e7\u00f5es. \u00c9 que os italianos, quando o estilo atingia a maturidade em outros pa\u00edses, j\u00e1 come\u00e7avam, de Giotto a Masaccio, a preparar o Renascimento<\/i>; al\u00e9m disso, desde ent\u00e3o demonstravam certo desprezo pelo estilo, denominando-o ora de \u201cobra de franc\u00eas\u201d, ora de \u201cestilo g\u00f3tico\u201d, pejorativamente, talvez como revanche contra a domina\u00e7\u00e3o dos godos na Pen\u00ednsula. Embora o estilo nada tivesse a ver com os godos, o nome dado pelo visto por pilh\u00e9ria, acabou pegando e batizando o estilo.<\/p>\n Suas mais importantes edifica\u00e7\u00f5es foram, na Fran\u00e7a<\/b>: as Igrejas de Saint-Denis, Neuilly, Issoire, as Catedrais de Paris (Notre-Dame \u00e9 apontada como s\u00edntese do estilo e a Sainte-Chapelle a j\u00f3ia do vitral), Laon, Chartres, Soissons, Amiens, Beauvais (a mais ampla de todos), Reims, Auxerre, Dijon, Rouen (tantas vezes pintada por Monet), Clermont, Limoges, Narbona, Albi, Lyon, Estrasburgo; na Inglaterra<\/b>: as Catedrais de Lincoln, Salisbury, Lichfield, York, Canterbury, Wells, Exeter, Gloucester, Ely e a famosa Abadia de Westminster; na Alemanha<\/b>: Dortmund, Berlim, Col\u00f4nia, Friburgo, Naumburgo; na Espanha<\/b>: Burgos, Toledo, Leon, Compostela, Valladolid; e, em Portugal<\/b>: Mosteiro da Batalha, Catedrais de Setubal, Moura, \u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 Viana de Alentejo e Santar\u00e9m (onde est\u00e3o os restos mortais de Pedro \u00c1lvares Cabral). Outros pa\u00edses tamb\u00e9m adotaram o estilo, nas as vers\u00f5es do g\u00f3tico tardio, adaptando-as \u00e0s pr\u00f3prias cria\u00e7\u00f5es e necessidades, como a \u00c1ustria, onde n\u00e3o se pode deixar de citar a bela Igreja de Santo Est\u00eav\u00e3o, na cidade de Viena.<\/p>\n Ilustra\u00e7\u00f5es<\/span> Views: 4<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Autoria do Prof. Pierre Santos \u00a0 Com a descrita estrutura armada pelo arquiteto g\u00f3tico, as paredes perderam a fun\u00e7\u00e3o de sustentar, como antes, conservando apenas a de mera veda\u00e7\u00e3o. O resultado foi que, deste modo, p\u00f4de o arquiteto multiplicar \u00e0 sua vontade os v\u00e3os de ilumina\u00e7\u00e3o interna e soube tirar extraordin\u00e1rio partido do fato, pondo […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[13],"tags":[],"class_list":["post-6993","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-visao-critica-da-arte"],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6993","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=6993"}],"version-history":[{"count":6,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6993\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":39353,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6993\/revisions\/39353"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=6993"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=6993"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=6993"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}
\n1.Fachada belamente decorada da Catedral de Notre-Dame de Reims \u2013 s\u00e9c. XIII\/
\n2.Detalhe dos Profetas do P\u00f3rtico da Gl\u00f3ria, da Catedral de Santiago de Compostela \u2013 1168-88.<\/p>\n