{"id":6997,"date":"2013-08-23T17:26:23","date_gmt":"2013-08-23T20:26:23","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=6997"},"modified":"2020-09-01T19:29:51","modified_gmt":"2020-09-01T22:29:51","slug":"a-arte-crista-medieval-2a-parte","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/a-arte-crista-medieval-2a-parte\/","title":{"rendered":"A ARTE CRIST\u00c3 MEDIEVAL (2\u00aa Parte)"},"content":{"rendered":"

Autoria do Prof. Pierre Santos<\/strong><\/p>\n

<\/b>\"gamela1234567\"<\/a>   \"gamela12345678\"<\/a>   <\/b><\/b><\/b><\/p>\n

No esfor\u00e7o sem tr\u00e9gua de simbolizar o \u00eaxtase pretendido pela igreja nos elementos componentes da arquitetura, o construtor medieval desenvolveu um plano de paulatinas conquistas, nas quais o arrojo e a aud\u00e1cia foram as notas dominantes. Este esfor\u00e7o fica bem demonstrado, quando comparamos a altura a que, a partir dos sistemas empregados, os templos se al\u00e7aram, desafiando a lei da gravidade.<\/p>\n

A antiga Bas\u00edlica de S\u00e3o Pedro \u2013 em cujo lugar hoje se eleva a famosa Bas\u00edlica do Vaticano, o maior tempo da cristandade \u2013 constru\u00edda na fase basilical a mando de Constantino, ap\u00f3s o reconhecimento do culto crist\u00e3o como o oficial do Imp\u00e9rio, mesmo tendo sido sua constru\u00e7\u00e3o inspirada na bas\u00edlica romana, portanto no sistema de peso e sustenta\u00e7\u00e3o, com o predom\u00ednio da horizontalidade, disposta em dois lances conjugados, conseguiu erguer-se a trinta e seis metros de altura; a tinta e quatro a Igreja de S\u00e3o Paulo Extramuros. Para se fazer ideia, a eleva\u00e7\u00e3o da c\u00fapula da antiga Igreja de S\u00e3o Pedro equivalia \u00e0 de um edif\u00edcio atual de doze andares, ou seja, de trinta e seis metros de altura.<\/p>\n

A Igreja de Santa Sofia, s\u00edntese da arquitetura bizantina, constru\u00edda pelo sistema de c\u00fapula sobre pechinas ou pendentes (pechinas, a t\u00edtulo de recorda\u00e7\u00e3o, s\u00e3o os tri\u00e2ngulos curvil\u00edneos resultantes do encontro dos arcos de plena Cintra ou meia circunfer\u00eancia, que vinham das colunas mestras, com o tambor de trinta e um metros de di\u00e2metro, onde s\u00e3o abertas quarenta janela, simolizando os dias passados no Cristo em retiro no deserto), eleva-se a cinquenta e quatro metros de altura desde o centro da c\u00fapula, equivalendo, portanto, a um edif\u00edcio de dezoito andares.<\/p>\n

O estilo desenvolvido pelo artista rom\u00e2nico, ao acrescentar ao quadril\u00e1tero que era usado pela arte bizantina, v\u00e1rios outros quadril\u00e1teros, opondo-lhes um transepto, deu \u00e0 cobertura a forma de ab\u00f3bada e, \u00e0 planta, a forma de cruz latina. Entretanto, no cruzamento da nave longitudinal com a transversal, ao inv\u00e9s da c\u00fapula, ergueu uma torre-lanterna que, desde o n\u00edvel do transepto, sobe no interior acima dos sessenta e cinco metros (tamanho de um edif\u00edcio de vinte e dois andares) e, dos cem (tamanho de um edif\u00edcio de 34 andares), as torres externas que lhe completam as fachadas, harmonizando-as.<\/p>\n

O coroamento de toda essa tenacidade medieval se d\u00e1 com a Arte G\u00f3tica \u2013 seu momento de maior esplendor. Tirando \u00e0 parede a fun\u00e7\u00e3o de sustentar o peso das partes superiores e de neutralizar as press\u00f5es da gravidade, simplesmente quebrando o arco de plena Cintra, agora tornado ogival, e criando o arcobotante, que passa por cima das naves laterais e vai apoiar-se em leves contrafortes externos, o arquiteto p\u00f4s sob controle o peso dos materiais sujeitos \u00e0 for\u00e7a da gravidade. Os grossos muros de antes se tornaram agora meros tapumes de veda\u00e7\u00e3o e puderam ser substitu\u00eddos pelo material mais leve que existe: o vidro<\/i>. E as igrejas g\u00f3ticas encheram-se dos mais belos vitrais. Com este sistema, a cobertura por ab\u00f3bada ogival chegou, em Beauvais, perto dos sessenta metros (como um edif\u00edcio de 20 andares), em Mil\u00e3o, aos oitenta (como um edif\u00edcio de 27 andares), e, em Chartres, a cento e cinquenta e dois metros (como um edif\u00edcio de 51 andares) as torres externas.<\/p>\n

Poder\u00edamos ter feito esta pesquisa tamb\u00e9m em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 \u00e1rea interna \u00fatil <\/span>desses templos, os quais foram crescendo \u00e0 medida que tamb\u00e9m crescia o n\u00famero de fi\u00e9is \u2013 e os resultados iriam ter o mesmo sentido, causando o mesmo impacto. Nos dois \u00faltimos per\u00edodos as comunidades adquiriram o costume de construir as pr\u00f3prias igrejas, pagando em cotiza\u00e7\u00e3o geral as despesas e fornecendo a m\u00e3o de obra, porquanto cada pessoas dava dois ou tr\u00eas dias de sua semana ao trabalho comunit\u00e1rio. Durante o g\u00f3tico, principalmente, houve comunidades de oito a dez mil habitantes que edificaram matrizes para abrigarem at\u00e9 trinta ou quarenta mil fi\u00e9is, como se todos estivessem de olho bem aberto nas futuras expans\u00f5es demogr\u00e1ficas! Para n\u00e3o irmos longe e n\u00e3o perdermos tempo com n\u00fameros, basta somente compararmos, por exemplo, o Duomo de Mil\u00e3o em sua grandiosidade (praticamente o \u00faltimo monumento g\u00f3tico constru\u00eddo) ou a Catedral de Beauvais, o mais amplo dos templos franceses, com as demais igrejas anteriores \u2013 e teremos perfeita id\u00e9ia desse vertiginoso crescimento.<\/p>\n

Contudo, por mais que possamos sentir a par e passo todas as evolu\u00e7\u00f5es t\u00e9cnicas dadas de um per\u00edodo ao outro, a verdade \u00e9 que jamais a opul\u00eancia da constru\u00e7\u00e3o posterior diminuiu, seja em que aspecto for, a opul\u00eancia da anterior. A emo\u00e7\u00e3o, que sentimos, ao visitarmos as capelas e os arcoss\u00f3lios t\u00e3o singelos das catacumbas, \u00e9 a mesma que sentimos, ao entrarmos na Bas\u00edlica de Santa Maria Maior, em Roma, na Catedral de Santa Sofia, de Constantinopla, ou na Catedral de Notre-Dame, de Paris, porque em todas sempre vamos encontrar, seja ela um templo grande como o de Nossa Senhora das Gra\u00e7as, de Mil\u00e3o, ou um templo pequeno como a Sainte-Chapelle, de Paris, a presen\u00e7a indel\u00e9vel do impulso criador que as gerara: a grandiosidade<\/i>, essa grandiosidade espiritual que as embalsama e em n\u00f3s incute o sentido de enlevo e de prece.<\/p>\n

O historiador alem\u00e3o Lutzeler, estudando a arte criat\u00e3 em suas caracter\u00edsticas e objetivos, dividiu-a de maneira muito significativa em dois ciclos: o da Epop\u00e9ia<\/b> e o da Trag\u00e9dia<\/b>. Ora, a arte \u00e9 um instrumento de racioc\u00ednio e express\u00e3o. O artista, durante o primeiro ciclo, procurava Deus, sacrificando o homem, pelo que sua arte era essencialmente espiritualista, fugindo ao corp\u00f3reo. Toda a Arte Medieval se desenvolveu no \u00e2mbito do ciclo da epop\u00e9ia, procurando express\u00e1-la num crescendo de conquistas. Giotto, ao intuir a possibilidade de fazer com que a arte se voltasse para a vida e para o mundo, nele valorizando o homem, ao mesmo tempo em que cavou todos os alicerces sobre os quais se ergueria o edif\u00edcio do Renascimento, deu tamb\u00e9m in\u00edcio ao ciclo da Trag\u00e9dia, em que o artista continuou a procurar Deus, mas agora sem sacrificar o homem, donde ter surgido uma arte voltada para a realidade presente aos seus olhos, pulsante e sensual. \u00c9 por isto que n\u00e3o fico convencido quando vejo alguns estudiosos filiarem Giotto ora ao bizantinismo ora ao goticismo. Pode ser que tenha tido influ\u00eancia daqueles per\u00edodos, mas suas prospec\u00e7\u00f5es est\u00e9ticas foram muito al\u00e9m dessa filia\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Assim, a Arte G\u00f3tica significou a chegada ao ponto extremo do ciclo da epopeia,dando oportunidade a que a Igreja, para subsistir, mudasse de rumo, tanto material, quanto espiritualmente, mudando seus objetivos. Era chegado o momento de o suor e a l\u00e1grima humanos se elevarem \u00e0 condi\u00e7\u00e3o de tema e base art\u00edstica.<\/p>\n

Ilustra\u00e7\u00f5es:<\/span>
\n1.Iluminura do Livro de Horas de Bedford
\n2. Vitral da Sainte-Chapelle, Paris<\/p>\n

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