{"id":7702,"date":"2013-09-26T22:23:01","date_gmt":"2013-09-27T01:23:01","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=7702"},"modified":"2022-08-03T19:52:18","modified_gmt":"2022-08-03T22:52:18","slug":"vidas-secas-o-anjinho-i","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/vidas-secas-o-anjinho-i\/","title":{"rendered":"Vidas Secas – O ANJINHO (1)"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho<\/b>
\n<\/strong><\/p>\n

\"cap<\/a><\/p>\n

Afadigada e esfomeada a fam\u00edlia caminhava,
\nap\u00f3s se resfolegar pelas areias do rio peco,
\nem desassossegada busca por uma sombra,
\nmas s\u00f3 havia galhos secos na caatinga rala.<\/p>\n

Sinha Vit\u00f3ria coo filho escanchado no lombo,
\nmenino mais velho e a cachorra Baleia atr\u00e1s;
\nFabiano, cambaio e coo ai\u00f3 a tiracolo, levava
\ncuia presa ao cintur\u00e3o e espingarda no ombro.<\/p>\n

Na praino vermelho, os juazeiros na vastid\u00e3o
\nzombavam: abeiravam, recuavam e sumiam.
\nCa\u00e7ada desesperada da fam\u00edlia por sombra,
\nlasso, o guri mais velho aboletou-se no ch\u00e3o.<\/p>\n

A caatinga salpicada por ossadas brancas,
\nurubus voando perto dos bichos moribundos.
\nEles desencarnando de cansa\u00e7o, sede e fome
\nno desalmado oritimb\u00f3 do miser\u00e1vel mundo.<\/p>\n

– Anda, condenado do diabo<\/i> \u2013 gritou Fabiano.
\nMas o guri no acomodamento fechou os olhos.
\n– Anda, excomungado<\/i> \u2013 \u00a0gritou o pai enfezado.
\nO menino n\u00e3o se mexeu no seu padecimento.<\/p>\n

Fabiano, irado, pensou em matar seu pixote.
\nO cora\u00e7\u00e3o ia carregoso de desespero e \u00f3dio.
\nQueria incriminar algu\u00e9m por sua desgra\u00e7a.
\nA seca e a obstina\u00e7\u00e3o da crian\u00e7a o irritavam.<\/p>\n

Poderia imolar a cria naquele descampado,
\nmas matutou nos urubus, ossadas e na seca.
\nAcochou-se e arrebanhou o petiz pelo pulso.
\nN\u00e3o iria deixar o anjinho pros bichos do mato.<\/p>\n

Entregou a velha espingarda a Sinha Vit\u00f3ria,
\nbotou o filho no cangote, agaturrou os bra\u00e7os,
\nfinos como cambitos, ca\u00eddos sobre seu peito.
\nA viagem seguiu mais arrastada e silenciosa.<\/p>\n

Caros amigos, tomei para mim uma tarefa quase imposs\u00edvel, que \u00e9 contar Vidas Secas (Graciliano Ramos)a atrav\u00e9s de versos. Desculpem-me a pedantice, mas vou tentar.<\/em><\/strong><\/p>\n

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