{"id":7741,"date":"2013-09-23T23:21:53","date_gmt":"2013-09-24T02:21:53","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=7741"},"modified":"2022-08-03T19:54:02","modified_gmt":"2022-08-03T22:54:02","slug":"weyden-deposicao-da-cruz","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/weyden-deposicao-da-cruz\/","title":{"rendered":"Weyden \u2013 DEPOSI\u00c7\u00c3O DA CRUZ"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho<\/b>\"\"<\/a><\/p>\n

(Clique na gravura para ampli\u00e1-la<\/span><\/strong><\/em>.<\/span><\/strong><\/em><\/span>)<\/span><\/strong><\/em><\/span><\/span><\/p>\n

A intensidade das express\u00f5es em suas obras d\u00e1 aos temas tradicionais uma nova realidade. (Margaret Whinney)<\/i><\/b><\/span><\/p>\n

A composi\u00e7\u00e3o intitulada Deposi\u00e7\u00e3o da Cruz <\/i>ou Descida da Cruz <\/i>\u00e9 um dos trabalhos mais famosos de Rogier van der Weyden, considerado uma obra-prima da pintura antiga dos Pa\u00edses Baixos. Por muito pouco o mundo n\u00e3o perdeu esta maravilha que, ao ser enviada \u00e0 Espanha pela regente h\u00fangara Maria, quase pereceu num naufr\u00e1gio. Esta obra \u2014 pintada para a capela de Crossbowmen de Louvin \u2014 mostra o auge da maturidade art\u00edstica de Van der Weyden.<\/span><\/p>\n

A Deposi\u00e7\u00e3o da Cruz<\/i> \u00e9 a parte central de um tr\u00edptico, cujos pain\u00e9is laterais, uma vez separados, acabaram se perdendo com o tempo. A obra foi encomendada pela Guilda dos Arqueiros de S\u00e3o Jorge em Louvain, na atual B\u00e9lgica. Nos cantos do quadro o pintor adicionou arcos (bestas) \u2014 estruturas decorativas em homenagem aos arqueiros que a encomendaram. Assim como as esculturas contempor\u00e2neas, ela \u00e9 disposta teatralmente. Um ex\u00edguo espa\u00e7o abriga dez figuras esculturais, comprimidas, sendo tr\u00eas no centro, quatro \u00e0 esquerda e tr\u00eas \u00e0 direita, impedindo o aprofundamento do cen\u00e1rio arquitet\u00f4nico.<\/span><\/p>\n

A obra possui forma retangular, sendo que no centro est\u00e1 um saliente (ressalto) na parte superior, onde se encontra o jovem na escada, respons\u00e1vel por ajudar a descer o corpo de Cristo. A composi\u00e7\u00e3o com tema religioso tem um fundo liso de ouro \u2014 elemento t\u00edpico da arte g\u00f3tica \u2014 que simboliza a eternidade e o pr\u00f3prio divino. As figuras que pendem da esquerda para a direita parecem esculturas multicoloridas. As paredes s\u00e3o respons\u00e1veis por enclausurar o palco do acontecimento. O ch\u00e3o \u00e9 de pedra e nele crescem algumas plantinhas floridas.<\/span><\/p>\n

A cena pintada por Van der Weyden em que o corpo de Cristo \u00e9 retirado da cruz \u00e9 carregada de intensa emo\u00e7\u00e3o e realismo, com os personagens profundamente consternados, ocupando um reduzido espa\u00e7o sem profundidade, o que ressalta mais ainda o sofrimento das nove figuras presentes \u00e0 deposi\u00e7\u00e3o de Cristo. H\u00e1 em toda a pintura um perfeito equil\u00edbrio advindo da simetria das figuras e da profunda express\u00e3o dos rostos dos personagens, como os olhos avermelhados e as l\u00e1grimas que escorrem pelo rosto de alguns deles.<\/span><\/p>\n

Van der Weyden mostra diversas express\u00f5es de dor diante do corpo do Cristo crucificado. Elas\u00a0 v\u00e3o desde o desespero de Maria Madalena, com as m\u00e3os contorcidas, \u00e0 extrema direita, ao sofrimento silencioso dos santos que ajudam a segurar o corpo de Jesus. Juntas no espa\u00e7o e no sofrimento as personagens repassam a ideia de que vivem um momento dram\u00e1tico em raz\u00e3o de t\u00e3o grande perda. A postura pl\u00e1cida dos anci\u00e3os contrasta com a dos demais personagens.<\/span><\/p>\n

As cores apresentadas na composi\u00e7\u00e3o s\u00e3o fortes, evidenciando a simbologia medieval que acentua o clima de tragicidade. S\u00e3o Jo\u00e3o Evangelista \u2014 segurando a M\u00e3e de Cristo em seu desmaio \u2014 veste um manto rubro que simboliza a Paix\u00e3o de Cristo. Por sua vez, o azul das vestes da Virgem simboliza a perseveran\u00e7a da F\u00e9. O branco do tecido que envolve sua cabe\u00e7a, representa a pureza e a inoc\u00eancia. Os trajes luxuosos de Nicodemos \u2014 segurando os p\u00e9s de Jesus \u2014 simbolizam a fugacidade do luxo e da pompa dos dominadores da terra, diante da caveira e dos ossos dispersos \u2014 o fim de todo homem.<\/span><\/p>\n

O corpo sem vida de Cristo \u2014 amparado por Jos\u00e9 de Arimateia \u2014 est\u00e1 postado bem \u00e0 frente do observador. Ele \u00e9 o centro da composi\u00e7\u00e3o. Apesar das cinco chagas \u00a0e da coroa que lhe perfura a cabe\u00e7a, o corpo de Jesus \u00e9 formoso. Jos\u00e9 de Arimateia segura-lhe o tronco, enquanto Nicodemos segura-lhe os p\u00e9s. As \u00e1reas vermelhas presentes nas roupas de alguns personagens, al\u00e9m de serem simb\u00f3licas d\u00e3o destaque \u00e0s chagas de Jesus. O branco do len\u00e7ol de linho com que Jos\u00e9 de Arimateia e Nicodemos envolvem o corpo do Mestre contrasta com a sua pele marm\u00f3rea.<\/span><\/p>\n

S\u00e3o Jo\u00e3o Evangelista \u2014 a quem Jesus pediu para tomar conta de sua m\u00e3e \u2014 est\u00e1 inclinado para a frente na tentativa de amparar a Virgem em seu desmaio. De seu rosto escorrem l\u00e1grimas. Seu sofrimento \u00e9 vis\u00edvel, embora contido, pois tem que repassar for\u00e7as para Maria \u2014 a m\u00e3e do crucificado \u2014 que passa por uma extrema agonia emocional ao ver seu filho morto sob tamanha tortura. Sua pele tem a mesma cor p\u00e1lida do filho. Ambos est\u00e3o na mesma posi\u00e7\u00e3o de abandono. Atr\u00e1s de S\u00e3o Jo\u00e3o Evangelista est\u00e1 Maria, mulher de Cl\u00e9ofas \u2014 um dos disc\u00edpulos de Jesus. A mulher de verde n\u00e3o \u00e9 identificada, sendo provavelmente uma das seguidoras de Cristo. Embora a B\u00edblia n\u00e3o registre nada sobre isso, era comum adicionar tr\u00eas ou quatro Marias na Crucifica\u00e7\u00e3o de Cristo.<\/span><\/p>\n

O homem que se encontra atr\u00e1s de Nicodemos \u00e9 um dos seguidores de Cristo. Ele traz na m\u00e3o direita um pote de unguento. Recostada nele se encontra Maria Madalena, dobrada numa grande contor\u00e7\u00e3o em raz\u00e3o da dor extremada que sente ao ver o Mestre morto. Ela usa um cinto que simboliza a virgindade e a pureza. O cintur\u00e3o est\u00e1 alinhado com os p\u00e9s de Cristo e a cabe\u00e7a da Virgem. Sobre a escada que conduz \u00e0 cruz espremida no centro da composi\u00e7\u00e3o est\u00e1 o criado, cuja cabe\u00e7a n\u00e3o \u00e9 vis\u00edvel em sua totalidade. Ele traz na m\u00e3o direita os pregos retirados das m\u00e3os de Cristo, enquanto com a esquerda segura seu bra\u00e7o inerte.<\/span><\/p>\n

Van der Weyden fez diversas correspond\u00eancias na pintura: o movimento do corpo de Cristo assemelha-se ao da Virgem, assim como sua m\u00e3o esquerda corresponde \u00e0\u00a0 direita de Maria e \u00a0sua m\u00e3o direita corresponde \u00e0 esquerda dela. Assim, Maria aparece na mesma posi\u00e7\u00e3o de seu filho, significando que ela sofre\u00a0 a mesma dor pela qual ele passou. Por sua vez, a posi\u00e7\u00e3o de S\u00e3o Jo\u00e3o Evangelista numa ponta do quadro \u00e9 similar \u00e0 de Maria Madalena na outra. A presen\u00e7a de um cr\u00e2nio no lado inferior esquerdo da composi\u00e7\u00e3o \u2014 entre Maria e S\u00e3o Jo\u00e3o \u2014 tem a finalidade de refor\u00e7ar o objetivo pelo qual Cristo se imolou \u2014 remir o pecado original cometido por Ad\u00e3o e Eva que simbolizam toda a humanidade.<\/span><\/p>\n

A Deposi\u00e7\u00e3o da Cruz<\/em> \u00e9 uma obra que tem sido muito copiada ao longo dos tempos. Ela domina a pintura flamenga do s\u00e9culo XV, sendo muito difundida na Espanha e objeto de inumer\u00e1veis c\u00f3pias. J\u00e1 na d\u00e9cada de 1430 teve uma r\u00e9plica feita por um pintor desconhecido para a capela de uma fam\u00edlia de Lovaina, na igreja de S\u00e3o Pedro e que se encontra hoje no Museu Stedelijk de Lovaina. Vale a pena ampliar a figura acima (clicando nela) e observar os detalhes das roupas e adornos dos personagens, sobretudo o v\u00e9u de Maria Madalena e seu cinto.<\/span><\/p>\n

Ficha t\u00e9cnica:
\n<\/span>Ano: c. 1435<\/span>
\nT\u00e9cnica: \u00f3leo sobre madeira<\/span>
\nDimens\u00f5es: 220 x 262 cm<\/span>
\nLocaliza\u00e7\u00e3o: Museo del Prado, Madrid, Espanha<\/span><\/p>\n

Fontes de pesquisa:
\n<\/span>501 grandes artistas\/ Sextante<\/span>
\nG\u00eanios da pintura\/ Abril Cultural<\/span>
\nA hist\u00f3ria da arte\/ E.H. Gombrich<\/span>
\nEnciclop\u00e9dia dos Museus\/ Mirador<\/span>
\nG\u00f3tico\/ Taschen<\/span>
\nTudo sobre arte\/ Sextante<\/span>
\nArte em detalhes\/ Publifolha<\/span><\/p>\n

Views: 14<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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