{"id":7905,"date":"2013-10-20T19:55:59","date_gmt":"2013-10-20T21:55:59","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=7905"},"modified":"2022-08-04T20:07:31","modified_gmt":"2022-08-04T23:07:31","slug":"vidas-secas-a-prisao-do-retirante-9","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/vidas-secas-a-prisao-do-retirante-9\/","title":{"rendered":"Vidas Secas – A PRIS\u00c3O DO RETIRANTE (9)"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho<\/b>
\n<\/strong><\/p>\n

\"cap<\/a><\/p>\n

Entretido coo diabo do jogo, deixou o tempo correr.
\nChegaria \u00e0 fazenda noite alta, cheio de aguardente.
\nN\u00e3o achava coragem pra sair de debaixo do jatob\u00e1.
\nAprumou-se depois tentando viajar na noite quente.<\/p>\n

Desequilibrou-se por um empurr\u00e3o e depois outro.
\nO soldado desafiava-o, com sua cara enferrujada.
\nNa caatinga, troava de galo, na rua s\u00f3 se reprimia.
\nO mo\u00e7o vexava-o ao sair da bodega sem despedir.<\/p>\n

Plantou o salto da bota na alpercata do vaqueiro.
\n\u201cMole e quente \u00e9 p\u00e9 de gente\u201d \u2013 chiou o sertanejo.
\nO soldado socalcou o p\u00e9 com mais maldade ainda.
\nO vaqueiro fadigou e injuriou a m\u00e3e do malfazejo.<\/p>\n

O amarelo apitou e o grupo rodeou o p\u00e9 de jatob\u00e1.
\nO sertanejo marchou zonzo e foi jogado na cadeia.
\nCaiu de joelhos sem acusa\u00e7\u00e3o e sem se defender.
\nUma lambada de fac\u00e3o caiu-lhe nas costas – preia.<\/p>\n

Por que tinham feito aquilo, n\u00e3o conseguia saber.
\nEra pessoa de bons costumes, nunca fora preso.
\nAturdido, ele nem acreditava naquele flagelo atro.
\nCa\u00edram em cima dele, como se fora um condenado.<\/p>\n

Estava mo\u00eddo, depois de preso e surrado na bruta.
\nApesar das machucaduras, balan\u00e7ava sua cabe\u00e7a,
\nduvidando daquelas vicissitudes sem motivo algum.
\nSoldado mofino, escarro de gente, filho da puta.<\/p>\n

Por causa de uma peste daquela, sem valia alguma,
\nmaltratava-se um trabalhador e bom pai de fam\u00edlia.
\nEstirou as pernas, firmou no muro as carnes do\u00eddas.
\nFoi pego de surpresa e por isso n\u00e3o dera explica\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

O amarelo confundira-o com outro, ele tinha certeza.
\nEstava acostumado com\u00a0 as viol\u00eancias e as injusti\u00e7as.
\nAos amigos que dormiam no tronco j\u00e1 deu consola\u00e7\u00e3o:
\n\u201cTenha paci\u00eancia. Apanhar do governo n\u00e3o \u00e9 desfeita.\u201d<\/p>\n

O governo, coisa distante e perfeita, n\u00e3o podia falhar.
\nO amarelo jogava com os matutos e provocava depois.
\nO governo n\u00e3o poderia consentir essa brutal safadeza.
\nO assucedido os outros podiam depois por a\u00ed espalhar.<\/p>\n

Mas ele, um abrutado, emudecia, n\u00e3o ia contar nada.
\nS\u00f3 queria ir pra junto de Sinha Vit\u00f3ria e dos meninos,
\nbotar o corpo mo\u00eddo de fac\u00e3o na velha cama de varas.
\nSua cabe\u00e7a pesada e ignorante\u00a0 descambava sem tino.<\/p>\n

(*) Capa de Floriano Teixeira, para edi\u00e7\u00e3o brasileira, sem data, Ed. Record<\/i><\/p>\n

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