{"id":7990,"date":"2013-11-01T23:08:31","date_gmt":"2013-11-02T01:08:31","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=7990"},"modified":"2022-08-04T20:19:07","modified_gmt":"2022-08-04T23:19:07","slug":"vidas-secas-o-inverno-e-a-familia-de-retirantes-14","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/vidas-secas-o-inverno-e-a-familia-de-retirantes-14\/","title":{"rendered":"Vidas Secas – O INVERNO E OS RETIRANTES (14)"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho<\/b>
\n<\/strong><\/p>\n

\"cap<\/a><\/p>\n

A fam\u00edlia estava em torno do fogo reunida:
\nFabiano, o pe\u00e3o, sentado no pil\u00e3o tombado,
\nSinha Vit\u00f3ria com as suas pernas cruzadas,
\nos meninos deitados nas coxas da m\u00e3e e
\nBaleia olhando as cinzas com as brasas.<\/p>\n

Estava um frio danado, de modo que o pai
\nimpeliu os ti\u00e7\u00f5es com a ponta da alpercata.
\nDe quando em vez os meninos se mexiam.
\nO lume era fraco e s\u00f3 aquecia parte deles.
\nA outra parte recebia uma friagem danada.<\/p>\n

Os pixotes n\u00e3o conseguiam pegar no sono.
\nO ar entrava pelas rachaduras das paredes
\ne pelas fendas da janela na noite friorenta.
\nQuando iam adormecer, arrepiavam-se, e
\nviravam-se de\u00a0 lado na sonol\u00eancia.<\/p>\n

O menino mais velho, enregelado de frio,
\nfoi pegar pra m\u00e3e uma bra\u00e7ada de lenha. Ela
\nmexeu as brasas coo cabo da quenga de coco,
\narrumou com jeito as achas de angico molhado
\nentre as pedras, procurando logo acend\u00ea-las.<\/p>\n

O pai ficou de quatro p\u00e9s, soprou os carv\u00f5es.
\nUma fuma\u00e7ada levantou, invadindo a cozinha.
\nL\u00ednguas de fogo subiam nas pedras, r\u00e1pidas.
\nA fam\u00edlia come\u00e7ou a tossir e enxugar os olhos.
\nFabiano aqueceu no fogo as m\u00e3os calejadas.<\/p>\n

A m\u00e3e agitava o abano pro fogo n\u00e3o apagar,
\nsustendo o fogo nos paus de angico molhado.
\nMarido e mulher falavam sem\u00a0 se entenderem.
\nOs pixotes sentiam frio numa parte do corpo e
\ncalor na outra, sem poder dormir, coitados.<\/p>\n

O ar\u00a0 entrava pelas rachas das paredes finas.
\nO menino mais velho, acomodou-se e dormiu
\ncoo lado do corpo quente pelo calor do fog\u00e3o
\ne o outro pelas n\u00e1degas quentes de sua m\u00e3e.
\nO casal arengava, esquentando as m\u00e3os.<\/p>\n

Baleia olhava os carv\u00f5es, esperando sua vez,
\nn\u00e3o podia dormir ainda. Cochilava de fazer d\u00f3.
\nSinha Vit\u00f3ria inda ia retirar os carv\u00f5es e cinza,
\nvarrer o ch\u00e3o e se deitar na cama de varas. Os
\nguris deitariam na esteira, debaixo do carit\u00f3.<\/p>\n

O dia todo Baleia espiava o bul\u00edcio das pessoas,
\nqueria saber de tudo pra aguentar o mau humor.
\nEla precisava dormir e se libertar daquela vig\u00edlia.
\nT\u00e3o logo o ch\u00e3o fosse varrido coa vassourinha,
\niria se enroscar e adormecer no gostoso calor.<\/p>\n

Views: 2<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho A fam\u00edlia estava em torno do fogo reunida: Fabiano, o pe\u00e3o, sentado no pil\u00e3o tombado, Sinha Vit\u00f3ria com as suas pernas cruzadas, os meninos deitados nas coxas da m\u00e3e e Baleia olhando as cinzas com as brasas. Estava um frio danado, de modo que o pai impeliu os ti\u00e7\u00f5es com […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[51],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/7990"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=7990"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/7990\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":45922,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/7990\/revisions\/45922"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=7990"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=7990"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=7990"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}