{"id":821,"date":"2022-03-08T00:01:00","date_gmt":"2022-03-08T03:01:00","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=821"},"modified":"2022-09-14T19:52:03","modified_gmt":"2022-09-14T22:52:03","slug":"cachorro-coto-nao-atravessa-pinguela","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/cachorro-coto-nao-atravessa-pinguela\/","title":{"rendered":"CACHORRO COT\u00d3 N\u00c3O ATRAVESSA PINGUELA"},"content":{"rendered":"

Publicado por Lu Dias Carvalho
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\"coto\"<\/a><\/p>\n

Segundo o Pe. Paschoal Rangel em seu livro Prov\u00e9rbios e Ditos Populares<\/i>, os prov\u00e9rbios populares s\u00e3o oriundos do meio rural, ou seja, s\u00e3o nascidos em meio \u00e0 gente simples da ro\u00e7a, frutos da observa\u00e7\u00e3o emp\u00edrica das pessoas que ali vivem. Nesse meio existe um grande n\u00famero de prov\u00e9rbios que tem como personagens os animais em raz\u00e3o do f\u00e1cil contato do homem do campo com os bichos. No caso do prov\u00e9rbio \u201cCachorro cot\u00f3 n\u00e3o atravessa pinguela\u201d<\/i>, o autor p\u00f4s-se a imaginar como deve ter nascido esta p\u00e9rola. Pegando carona nos pensamentos do padre em quest\u00e3o, e pedindo licen\u00e7a para modificar uma coisa aqui e outra ali, eu tamb\u00e9m imagino como o prov\u00e9rbio nasceu.<\/p>\n

O caboclo volta para casa, depois de um dia \u00e1rduo de servi\u00e7o, com o lombo queimado pelo sol danado de ardente, toma um banho de caneco no terreiro, come a janta e senta-se l\u00e1 no terreiro, no banco feito de tora de madeira, acende o pito e p\u00f5e-se a matutar sobre as coisas da vida. \u00c0 frente dele corre um fiapo de \u00e1gua, onde era um riacho que sempre desaparece no tempo da seca. Um tronco de ingazeira liga as duas margens. Por ali transitam gente e animais dom\u00e9sticos, indo de um lado para o outro em busca de alimento, ou por falta do que fazer.<\/p>\n

O matuto observa Valentia (este \u00e9 o nome que escolhi) que perdeu o rabo por conta de uma bicheira dos infernos e que s\u00f3 foi curada a troco de muita creolina. O coitado d\u00e1 dois passinhos na pinguela e retrocede medroso. Encara aquele pau comprido, cria coragem e tenta de novo, e de novo torna a voltar. Tantas vezes tenta o bichinho que acaba se cansando e vem se deitar aos p\u00e9s de seu dono, todo sem gracinha. O homem, condo\u00eddo, pega o animal e atravessa com ele nos bra\u00e7os, deixando-o do lado de l\u00e1 do leito do riacho. Depois toma-o nos bra\u00e7os e o traz de volta.<\/p>\n

O roceiro percebe que Lambada e Pregui\u00e7a passam pela pinguela com a maior facilidade, tendo os rabos levantados e inclinados para um dos lados, mas Valentia n\u00e3o consegue. Teria o animalzinho medo de altura? Ou seria daquele fiapo de \u00e1gua l\u00e1 no fundo? De \u00e1gua, n\u00e3o, pois o danadinho atravessa at\u00e9 rio a nado. De repente vem a luz: Valentia n\u00e3o tem rabo. \u00c9 isso! \u00c9 o rabo que d\u00e1 o equil\u00edbrio ao bicho para n\u00e3o cair, feito as asas de um gavi\u00e3o que paira l\u00e1 no alto do c\u00e9u ou o rabo do gato ao pular. Valentia, coitado, \u00e9 cot\u00f3! Ent\u00e3o, conclui o caboclo que cachorro cot\u00f3 n\u00e3o atravessa pinguela. E nasce o ditado. E espalha-se pelos campos e cidades. E muitas vezes pelo mundo.<\/p>\n

Assim, todas as situa\u00e7\u00f5es dif\u00edceis da vida passam a ser vistas como \u201cpinguelas\u201d e o \u201cc\u00e3ozinho cot\u00f3\u201d como sendo as pessoas que lutam para transp\u00f4-las. Muitas vezes a dificuldade \u00e9 t\u00e3o grande que \u00e9 preciso que algu\u00e9m ajude. E voc\u00ea, como acha que este ditado apareceu?<\/p>\n

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