{"id":8489,"date":"2013-11-08T23:18:16","date_gmt":"2013-11-09T02:18:16","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=8489"},"modified":"2022-08-04T21:52:27","modified_gmt":"2022-08-05T00:52:27","slug":"raizes-da-mpb-ernesto-de-nazareth","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/raizes-da-mpb-ernesto-de-nazareth\/","title":{"rendered":"Ra\u00edzes da MPB \u2013 ERNESTO DE NAZARETH"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho<\/b> \"chiquinha12\"<\/a><\/p>\n

Sobrecarregado de trabalho, e em luta constante contra a falta de dinheiro, como Mozart; perdendo a audi\u00e7\u00e3o de maneira progressiva, como Beethoven; sifil\u00edtico, como Schubert; e um final de vida no qual j\u00e1 n\u00e3o estava de plena posse de suas faculdades mentais, como Schumman: a exist\u00eancia de Ernesto de Nazareth foi marcada por epis\u00f3dios que parecem um cat\u00e1logo dos lances mais tr\u00e1gicos dos compositores da escola austro-germ\u00e2nica. (Irineu Francisco Perp\u00e9tuo, jornalista, professor e autor)<\/i><\/b><\/p>\n

Nazareth era muito pobre, quase nada lucrava com suas m\u00fasicas. T\u00edmido por natureza, quase humilde, foi por isso explorado pelas editoras, vendendo suas composi\u00e7\u00f5es a \u201cdez reis de mel coado\u201d mal cobrindo suas despesas di\u00e1rias (Luiz Ant\u00f4nio de Almeida)<\/i><\/b><\/p>\n

O pianista e compositor Ernesto J\u00falio de Nazareth<\/i> nasceu na cidade do Rio de Janeiro\/RJ, em 1863, no morro do Nheco. Era o segundo filho de um grupo de 5 irm\u00e3os, tendo por pai Vasco Louren\u00e7o da Silva de Nazareth, despachante aduaneiro, e por m\u00e3e Carolina Augusta Pereira da Cunha, que tocava piano.<\/p>\n

Naquela \u00e9poca, o piano era um s\u00edmbolo de status. Ainda n\u00e3o havia r\u00e1dio ou discos e, para se ter m\u00fasica em casa, era preciso ter um instrumento. O piano era t\u00e3o requisitado na capital federal do Rio de Janeiro, que a cidade chegou a receber o apelido de \u201ca cidade dos pianos\u201d. E foi no piano que Carolina iniciou os filhos no mundo musical. Mas, para a tristeza da fam\u00edlia, ela morreu precoce e inesperadamente.<\/p>\n

Quando a m\u00e3e faleceu, Ernesto<\/i> estava com 10 anos de idade. \u00c9poca em que iniciaram seus problemas auditivos, em consequ\u00eancia de uma queda de uma \u00e1rvore, o que lhe causou uma hemorragia no ouvido direito. Problema que o acompanharia durante toda a vida, chegando \u00e0 surdez.<\/p>\n

A morte da m\u00e3e paralisou os estudos musicais de Ernesto<\/i> e de seus irm\u00e3os. Em raz\u00e3o do luto, o pai proibiu at\u00e9 o uso do piano em casa. Mas o menino ficou numa tristeza tal, que a proibi\u00e7\u00e3o foi revogada, sendo contratado Eduardo Madeira como seu professor de piano. E assim, aos 16 anos de idade, o adolescente j\u00e1 apresentava sua primeira composi\u00e7\u00e3o para piano solo: a polca-lundu Voc\u00ea Bem Sabe<\/i>, levada pelo professor e aluno ao virtuose portugu\u00eas do teclado, Arthur Napole\u00e3o, que era tamb\u00e9m professor de Chiquinha Gonzaga. O fato \u00e9 que a partitura foi posta \u00e0 venda na firma Arthur Napole\u00e3o & Migu\u00e9z.<\/p>\n

Ernesto <\/i>compunha e publicava suas polcas (dan\u00e7a de sal\u00e3o de origem europeia). Apresentava-se em renomados clubes cariocas com sucesso. Foi ent\u00e3o que seus tios, J\u00falio e Ludovina, come\u00e7aram a ajuntar recursos para envi\u00e1-lo \u00e0 Europa, a exemplo de Anacleto de Mesquita e Ant\u00f4nio Carlos Gomes. Contudo, E o rapazinho n\u00e3o conseguiu atingir os sonhos do tio, por falta de recursos financeiros, decep\u00e7\u00e3o que amargaria em certa fase de sua vida.<\/p>\n

Ernesto de Nazareth<\/i> casou-se com Theodora Am\u00e1lia Leal de Meirelles. Juntos tiveram seis filhos. Apesar da numerosa prole, j\u00e1 no final do s\u00e9culo XIX, ele come\u00e7ou a dar espa\u00e7o em seu cat\u00e1logo para um novo g\u00eanero: o tango, chegando, inclusive, a receber o apelido de \u201cO Rei do Tango\u201d. Mas esse tipo de tango n\u00e3o trazia semelhan\u00e7a alguma como tango portenho. Com Brejeiro<\/i>, composi\u00e7\u00e3o dedicada a seu sobrinho Gilberto Nazareth, Ernesto<\/i> tornou-se um dos grandes sucessos da m\u00fasica popular brasileira do s\u00e9culo XIX. Recebeu, inclusive, letra do poeta, m\u00fasico e compositor Catulo da Paix\u00e3o Cearense. Mas a obra n\u00e3o lhe trouxe sucesso financeiro. Com as in\u00fameras dificuldades pelas quais passava, era tido como \u201cpianeiro\u201d, por ter que tocar em casas de venda de partituras, demonstrando-as para os compradores, o que para muitos era uma atividade menor.<\/p>\n

Naquela \u00e9poca, em que a elite brasileira s\u00f3 considerava bom o que vinha da Europa, Ernesto de Nazareth<\/i> foi um dos 30 compositores escolhidos pelo compositor Luciano Gallet, a ser tocado por seus alunos em um conserto. O que acabou motivando um grande esc\u00e2ndalo, pois se tratava de um compositor popular, coisa que a elite rejeitava. Foi necess\u00e1ria a presen\u00e7a de uma for\u00e7a policial para\u00a0 garantir a realiza\u00e7\u00e3o do evento. M\u00e1rio de Andrade (autor de Macuna\u00edma), amigo do compositor, no mesmo ano escreveu no \u201cEnsaio sobre a m\u00fasica brasileira\u201d:<\/p>\n

\u201c… todo artista brasileiro que no momento atual fizer arte brasileira \u00e9 um ser eficiente com valor humano. O que fizer arte internacional ou estrangeira, se n\u00e3o for g\u00eanio, \u00e9 um in\u00fatil, um nulo. \u00c9 uma reverend\u00edssima besta.\u201d<\/i><\/p>\n

Aos 63 anos de idade, em 1926, Ernesto de Nazareth<\/i> deixou seu Estado pela primeira vez, em dire\u00e7\u00e3o a S\u00e3o Paulo, j\u00e1 colhendo os frutos da Semana da Arte Moderna de 1922. A acolhida foi t\u00e3o calorosa que o compositor ali permaneceu 11 meses, fazendo, inclusive, apresenta\u00e7\u00f5es no interior do estado paulista.<\/p>\n

Em 1929, Ernesto de Nazareth<\/i> ficou vi\u00favo e sua sa\u00fade continuou fraquejando. Fez uma turn\u00ea pelo Rio Grande do Sul e a esticou at\u00e9 Montevid\u00e9u, onde teve uma crise nervosa, tocando piano convulsivamente, tendo que ser retirado \u00e0 for\u00e7a do bar onde tocava. Ao voltar ao Rio de Janeiro foi diagnosticado com s\u00edfilis, que j\u00e1 tinha atingido o seu c\u00e9rebro, sem possibilidade de revers\u00e3o. Acabou sendo internado num manic\u00f4mio. Fugiu do local, um ano depois, e, quatro dias ap\u00f3s a fuga, seu corpo foi achado em uma represa, perto do manic\u00f4mio. Morreu aos 71 anos, em 1934.<\/p>\n

Nota
\n<\/span>Cliquem no link abaixo para ouvirem Brejeiro
\n<\/i>
http:\/\/www.kalamata.com.br\/site\/cds\/quinteto-villa-lobos-ernesto-nazareth\/<\/a><\/p>\n

Fonte de pesquisa:
\n<\/span>Ra\u00edzes da M\u00fasica Popular Brasileira\/Cole\u00e7\u00e3o Folha de S\u00e3o Paulo<\/p>\n

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