{"id":8514,"date":"2013-10-28T23:27:27","date_gmt":"2013-10-29T02:27:27","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=8514"},"modified":"2022-08-04T20:20:57","modified_gmt":"2022-08-04T23:20:57","slug":"van-gogh-sua-sede-de-amor","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/van-gogh-sua-sede-de-amor\/","title":{"rendered":"Van Gogh – SUA SEDE DE AMOR"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho
\n<\/b><\/p>\n

\"is1\"<\/a><\/i><\/b><\/p>\n

N\u00e3o posso, n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel viver sem amor. Sou um apaixonado. Tenho de encontrar uma mulher, caso contr\u00e1rio ficarei congelado e me converterei em pedra. (Van Gogh)<\/i><\/b><\/p>\n

O pintor holand\u00eas Vincent van Gogh <\/i>em se tratando de amor era um rom\u00e2ntico absoluto, levando em conta o seu mundo emocional. N\u00e3o sentia nenhuma inibi\u00e7\u00e3o ao tentar e querer viver o amor em toda a sua plenitude, embora fosse muito inexperiente na rela\u00e7\u00e3o com as mulheres. Uma rela\u00e7\u00e3o finda, que em qualquer outro n\u00e3o deixaria nenhuma marca, provocava no artista um enorme dano emocional. De modo que suas rela\u00e7\u00f5es mal sucedidas com mulheres iriam no futuro destruir sua vida emocional. De um homem aberto e liberal, Van Gogh transformou-se num exc\u00eantrico e taciturno no contato com os seus semelhantes. Nunca algu\u00e9m teve tanta sede de amor e foi t\u00e3o pouco correspondido.<\/p>\n

A primeira paix\u00e3o de Van Gogh<\/i> aconteceu em Londres, quando ali foi trabalhar. Enamorou-se da filha de sua senhoria, no local onde se hospedava, nutrindo por ela um amor oculto durante seis meses. Quando resolveu externar seus sentimentos, a garota n\u00e3o aceitou a sua proposta de casamento, pois j\u00e1 se encontrava com outro. Rejeitado, o mo\u00e7o teve a sua primeira desilus\u00e3o amorosa, o que o deixou profundamente depressivo. Aqui j\u00e1 podemos notar o perfil afervorado do futuro pintor que encarava tudo com extremada paix\u00e3o.<\/p>\n

Aquela alma atormentada e solit\u00e1ria, e ao mesmo tempo sedenta de carinho, sofreu mais ainda ao ser, mais uma vez, rejeitado por uma prima vi\u00fava, por quem se enamorou. Ela passava alguns dias na casa dos pais do pintor, acompanhada de seu filho de quatro anos, quando ele ali tamb\u00e9m se encontrava. Ele se apaixonou pela prima e por seu filho, n\u00e3o se sentindo inibido em declarar seu amor. Contudo, a sua fam\u00edlia sentiu-se constrangida com as declara\u00e7\u00f5es amorosas do pintor, alegando a recente viuvez da mulher. Van Gogh tudo fez para ganhar o amor da prima, mas ela preferiu guardar a mem\u00f3ria do marido morto, a\u00a0 casar-se com ele. Quando se viu rejeitado, o artista abriu-se para qualquer tipo de mulher que quisesse suprir sua sede de amor. Sobre sua decep\u00e7\u00e3o e a inaceita\u00e7\u00e3o dos fatos acontecidos, escreveu a Theo: Que a tua profiss\u00e3o seja uma profiss\u00e3o moderna e que possas ajudar a tua mulher a alcan\u00e7ar uma alma moderna, libert\u00e1-la dos preconceitos horrorosos que a algemam.<\/i><\/p>\n

Ainda perseguindo o desejo incontrol\u00e1vel de encontrar um amor, Van Gogh conheceu outra mulher, Sien. Ela era mais velha do que ele, tinha uma filha e encontrava-se gr\u00e1vida. H\u00e1 muitos anos trabalhava como prostituta. Ele a acolheu, juntamente com a filha, levando-as para morarem em seu ateli\u00ea. A rela\u00e7\u00e3o com Sien fez muito bem ao artista, mas o dinheiro para o sustento dos tr\u00eas era minguado. Sobre ela, escreveu a Theo: N\u00e3o \u00e9 a primeira vez que sou incapaz de resistir ao sentimento de atra\u00e7\u00e3o e amor pra com essas mulheres em especial a quem os pastores condenam t\u00e3o veemente, condenando-as e desprezando-as do alto dos p\u00falpitos. Se acordamos cedo e n\u00e3o estamos sozinhos, e vemos um ser humano ao nosso lado, ent\u00e3o isso torna o mundo inteiro um lugar melhor para viver. Muito melhor do que os livros de devo\u00e7\u00f5es e as paredes caiadas de branco das igrejas de que os pastores tanto gostam.<\/i><\/p>\n

A solidariedade devotada a Sien, t\u00e3o maltratada pela vida, era muito mais forte para o cora\u00e7\u00e3o generoso de Vincent do que as conven\u00e7\u00f5es religiosas que proibiam o contato com as mulheres \u201cca\u00eddas em desgra\u00e7a\u201d. Com o nascimento do beb\u00ea de Sien, Van Gogh<\/i> necessitava alimentar quatro bocas. Nesse \u00ednterim ele conseguiu convenc\u00ea-la a deixar a prostitui\u00e7\u00e3o, diminuindo ainda mais as finan\u00e7as da casa. A mesada enviada por Theo era insuficiente. O pintor trabalhava \u201cdesde manh\u00e3 cedo at\u00e9 alta noite\u201d, sem conseguir vender nada. Escreveu ao irm\u00e3o: N\u00e3o posso viver mais frugalmente do que j\u00e1 estamos a fazer; cortamos em tudo o que pod\u00edamos, mas h\u00e1 sempre mais trabalho para fazer, especialmente nestas \u00faltimas semanas, e quase n\u00e3o consigo aguentar \u2013 isto \u00e9, os custos que tudo implica.<\/i><\/p>\n

Diante da extrema pobreza, pois a fam\u00edlia estava literalmente passando fome, Sien teve que voltar \u00e0 sua antiga profiss\u00e3o. O pintor ficou inconsol\u00e1vel, sentindo-se respons\u00e1vel pelos seus entes amados. De modo que Theo, o \u00fanico membro da fam\u00edlia que ficou do lado de Vincent<\/i>, cautelosamente levou o irm\u00e3o a decidir pela separa\u00e7\u00e3o, voltando-se a dedicar \u00e0 sua arte, pois essa era a sua \u00fanica sa\u00edda. Van Gogh sofreu muito, sentindo-se impotente diante da vida, e com toda a intensidade entranhou-se na sua arte, como um animal ferido e solit\u00e1rio.<\/p>\n

Em Nuenen, a filha de um vizinho apaixonou-se pelo pintor. Acompanhava-o sempre que sa\u00eda para pintar. Ela acabou declarando a sua paix\u00e3o, e ele, ainda que hesitante, acabou por aceitar. Havia uma diferen\u00e7a de dez anos entre eles. Decidiram se casar, mas os pais dos dois opuseram-se \u00e0 uni\u00e3o. A mo\u00e7a tentou se envenenar o que fez com que Van Gogh<\/i> sofresse muito, sentido-se respons\u00e1vel.<\/p>\n

Agostinha Segatori foi outra mulher com quem Van Gogh teve um curto e tumultuado relacionamento. Ela trabalhava no Caf\u00e9 Du Tambourin e pousava como modelo para v\u00e1rios pintores. Ao se apaixonar por ela, o pintor holand\u00eas tornou-se um constante frequentador do local, onde a mo\u00e7a trabalhava. Embora o lugar fosse tido por alguns como de m\u00e1 fama, o certo \u00e9 que Van Gogh, com sua presen\u00e7a, levou para l\u00e1 grandes nomes do universo da arte parisiense. Chegou inclusive a expor no local parte de sua cole\u00e7\u00e3o de estampas japonesas, obras suas e de v\u00e1rios de seus amigos.<\/p>\n

Outro relato envolvendo a vida amorosa de Van Gogh<\/i> fala sobre uma vizinha quarentona e solteira que se apaixonou por ele, mas por quem ele n\u00e3o nutria nenhum interesse. E, por isso, acabou rejeitando a mulher que o queria de verdade, mas que seu cora\u00e7\u00e3o n\u00e3o queria receber. Outro caso, supostamente afetivo, tamb\u00e9m envolveu a vida do artista. Uma jovem que servia de modelo para ele, apareceu gr\u00e1vida. O pintor foi acusado de ser o pai, mesmo n\u00e3o tendo absolutamente nada a ver com o caso. O p\u00e1roco local chegou a proibir que seus fi\u00e9is pousassem para Van Gogh. Existem suposi\u00e7\u00f5es de que tal mo\u00e7a seja aquela que se encontra de costas em seu quadro \u201cOs Comedores de Batata\u201d.<\/p>\n

Van Gogh sempre foi um homem carente e extremamente apaixonado que n\u00e3o tinha pudores em confessar a grande falta que lhe fazia o amor de uma mulher. Todas as vezes em que come\u00e7ava um relacionamento, sua alma parecia encher-se de luz e seu corpo revigorava. Por ser extremamente fr\u00e1gil, sofria desesperadamente quando se sentia abandonado. Sua pintura era o escape para o desespero que carregava, e para a incompreens\u00e3o das pessoas \u00e0 sua volta. Suas tintas eram mais do que tudo, a mistura do grande amor contido em si, assim como a manifesta\u00e7\u00e3o de sua paix\u00e3o por tudo que o envolvia. Van Gogh falhou naquilo que mais desejava: constituir uma fam\u00edlia. Contudo, suas obras s\u00e3o as sementes eternas de sua hereditariedade.<\/p>\n

Ficha t\u00e9cnica
\n<\/span>Agostina Segatori no Caf\u00e9 du Tambourin (1987)
\n<\/i>Data: 1987
\nT\u00e9cnica: \u00f3leo sobre tela
\nDimens\u00f5es: 55,6 x 45,6 cm
\nLocaliza\u00e7\u00e3o: Van Gogh Museum, Amsterdam, Holanda<\/p>\n

Fontes de pesquisa:
\n<\/span>Mestres da Pintura\/ Editora Abril
\nGrandes Mestres da Pintura\/ Cole\u00e7\u00e3o Folha
\nVan Gogh\/ Editora Taschen<\/p>\n

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