<\/a><\/p>\nUm s\u00e1bado de chuva, ap\u00f3s o retumbante cozido de Mariinha, est\u00e1vamos, meu amigo e eu, a caminho dos bra\u00e7os de Morfeu, procurando cama pra encostar, quando foi trazida a ideia de enveredarmos pelas trilhas dos ditados, das express\u00f5es e dos prov\u00e9rbios. O tempo passaria sem lerdeza. Topamos. Cada um de n\u00f3s dizia o seu e dava a explica\u00e7\u00e3o. Ficou animado. Colhi nos meus bot\u00f5es a p\u00e9rola: \u201cficar a ver navios\u201d. Tive que de pronto oferecer interpreta\u00e7\u00e3o. Pensei um pouco e revelei at\u00e9 duas:<\/p>\n
A express\u00e3o vem de Portugal. O rei, Dom Sebasti\u00e3o, morreu na batalha de Alc\u00e1cer-Quibir em 1578, e seu corpo nunca foi encontrado. A morte causou uma grande crise sucess\u00f3ria. O trono ficou vago. Em consequ\u00eancia houve a anexa\u00e7\u00e3o de Portugal \u00e0 Espanha, de 1580 a 1640. O orgulho e a dignidade dos lusitanos clamavam por resgate. O povo portugu\u00eas sonhava com a volta do monarca. Assim, com frequ\u00eancia, havia visitas ao Alto de Santa Catarina, em Lisboa, para observar o mar, \u00e0 espera do retorno do rei. Como ele n\u00e3o voltou, o povo, em v\u00e3o, \u201cficava a ver navios\u201d.<\/p>\n
Outra explica\u00e7\u00e3o, a qual cabe dar cr\u00e9dito, \u00e9 que as mulheres ficavam aguardando a volta dos maridos, que tinham zarpado com as embarca\u00e7\u00f5es, nas grandes navega\u00e7\u00f5es portuguesas. Depois de muito tempo, as coitadas colocavam-se a espiar os navios que chegavam ao porto, para reverem seus amores, o que ocorria quase sempre sem sucesso. Ent\u00e3o surgiu a express\u00e3o: \u201cficar a ver navios\u201d. Ou seja, esperar por algo que n\u00e3o se realizava.<\/p>\n
Atualmente, a express\u00e3o \u00e9 usada no sentido de ser ludibriado, enganado. \u00c9 tomada para real\u00e7ar a decep\u00e7\u00e3o e a aus\u00eancia de pessoas e de sentimentos. Para o emprego que n\u00e3o veio, uma nota de reprova\u00e7\u00e3o, o dinheiro negado, a empresa que faliu, e tantas outras coisas, exclama-se tristemente na representa\u00e7\u00e3o da perda, seja ela qual for, \u201cfiquei a ver navios\u201d.<\/p>\n
Diga-se de passagem, h\u00e1 mais express\u00f5es com o mesmo significado. Recordei-me de duas espetaculares. Querem dizer que, em s\u00edntese, nada aconteceu. Os sujeitos, por conseguinte, ficaram a \u201cver navios\u201d. S\u00e3o um pouco esquecidas, puxadas para a comicidade, mas cheias de representatividade. S\u00e3o elas: \u201cpatavina\u201d e \u201cneres de pitibiriba\u201d. Para entendimento de como s\u00e3o empregadas, o povo utiliza mais ou menos destes jeitos: sem que para ele acontecesse patavina<\/em> do que estava combinado; e ela contentou-se em receber neres de pitibiriba<\/em> em troca dos favores realizados.<\/p>\n
\nF<\/span><\/a>ontes de consulta:<\/span> Dicas de Portugu\u00eas- S\u00e9rgio Nogueira e www.significados.com.br<\/p>\nViews: 1<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Autoria de Alfredo Domingos Um s\u00e1bado de chuva, ap\u00f3s o retumbante cozido de Mariinha, est\u00e1vamos, meu amigo e eu, a caminho dos bra\u00e7os de Morfeu, procurando cama pra encostar, quando foi trazida a ideia de enveredarmos pelas trilhas dos ditados, das express\u00f5es e dos prov\u00e9rbios. O tempo passaria sem lerdeza. Topamos. Cada um de n\u00f3s […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[43],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/8646"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=8646"}],"version-history":[{"count":6,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/8646\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":45076,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/8646\/revisions\/45076"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=8646"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=8646"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=8646"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}