{"id":8758,"date":"2013-11-20T23:37:55","date_gmt":"2013-11-21T02:37:55","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=8758"},"modified":"2022-08-04T21:49:37","modified_gmt":"2022-08-05T00:49:37","slug":"raizes-da-mpb-waldir-azevedo","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/raizes-da-mpb-waldir-azevedo\/","title":{"rendered":"Ra\u00edzes da MPB \u2013 WALDIR AZEVEDO"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho \"waldir\"<\/a><\/b><\/p>\n

\u00a0Eu nunca pensei que pudesse sustentar minha fam\u00edlia com um pedacinho de madeira e quatro arames esticados. Chego a pensar que \u00e9 muita ousadia mesmo. (Waldir Azevedo)<\/i><\/b><\/p>\n

No segundo semestre de 1949, Brasileirinho fez sua escalada rumo ao sucesso, de tal modo que um visitante, que chegasse ao Rio em dezembro daquele ano e fosse ouvir r\u00e1dio, achava que s\u00f3 havia uma emissora, pois todas tocavam o disco de Waldir. (Henrique Cazes \u2013 m\u00fasico, produtor, arranjador e escritor)<\/i><\/b><\/p>\n

O instrumentista e compositor Waldir Azevedo<\/i> nasceu na cidade do Rio de Janeiro\/RJ, em 1923, filho de Walter, um funcion\u00e1rio da Light, e de Benedita Azevedo<\/p>\n

O pequeno Waldir<\/i> foi matriculado num col\u00e9gio eclesi\u00e1stico, pois era sonho de seus pais que ele viesse a se tornar padre, escolha pela qual o menino n\u00e3o tinha nenhuma voca\u00e7\u00e3o, j\u00e1 que seu sonho era ser aviador. Mas ao completar 10 anos de idade, em 1933, o garoto passou a demonstrar interesse pela m\u00fasica. Gostava de ouvir uma flautinha de lata tocada por seu vizinho Marreco. E n\u00e3o tardou a compr\u00e1-la ap\u00f3s venda de uns passarinhos. Gostava de tocar Trem Blindado<\/i>, composi\u00e7\u00e3o de Jo\u00e3o de Barro (Braguinha).<\/p>\n

Naquela \u00e9poca eram muito comuns os saraus, e foi num desses, na casa de um vizinho, que Waldir<\/i> caiu de amores pelo bandolim. O bandolinista deixou que o garoto experimentasse o instrumento, observando que tinha jeito para tocar o instrumento. Ao tomar conhecimento do feito, sua m\u00e3e fez-lhe uma proposta: \u201cSe voc\u00ea aprender a tocar o Fado da Severa, eu te dou um bandolim.\u201d. O garoto deu conta do desafio e a promessa foi paga. E, quanto ao sonho de ser aviador, esse caiu por terra quando se constatou no exame m\u00e9dico, que tinha uma defici\u00eancia card\u00edaca. Assim, antes mesmo de se tornar maior de idade, passou a trabalhar com o pai na Light. Como era apontador, n\u00e3o tinha hor\u00e1rios fixos, aproveitando o tempo livre para lidar com m\u00fasica.<\/p>\n

Waldir<\/i> era um garoto curioso. Nutria interesse por v\u00e1rios instrumentos de corda: bandolim, viol\u00e3o, banjo e viol\u00e3o tenor. Chegou a fazer parte do grupo vocal e instrumental \u00c1guias de Prata, que chegou a gravar um disco na RCA Victor. Mas foi aos 20 anos de idade que ele passou a tocar cavaquinho, com o qual faria uma revolu\u00e7\u00e3o na m\u00fasica. Ao executar o choro Cambuc\u00e1,<\/i> do saxofonista Pascoal de Barros, ganhou o programa Calouros OK, na r\u00e1dio Guanabara. Com o sucesso advindo do concurso, ele passou a ser convidado para fazer substitui\u00e7\u00f5es em regionais que tocavam na r\u00e1dio Mayrink Veiga.<\/p>\n

Waldir<\/i> casou-se com uma mo\u00e7a a quem foi apresentado \u2013 Olinda Barbosa, indo morar nos fundos da casa de seus pais, Walter e Benedita. Nessa \u00e9poca, trabalhou como recepcionista numa oficina que consertava autos. Uma voltinha com o autom\u00f3vel j\u00e1 era suficiente para que ele detectasse o problema mec\u00e2nico, com seu ouvido excepcional. O casal teve duas filhas, Miriam e Marli.<\/p>\n

Waldir<\/i> foi chamado para um teste na R\u00e1dio Clube do Brasil, ap\u00f3s a sa\u00edda do conjunto dirigido pelo famoso flautista Benedito Lacerda. Dilermando Reis foi respons\u00e1vel por organizar um novo conjunto, pagando bem melhor do que a Light, onde trabalhava. Acabou sendo aprovado e, como Dilermando come\u00e7ava a ficar conhecido como solista de viol\u00e3o, fazendo apresenta\u00e7\u00f5es fora da cidade do Rio de Janeiro, era Waldir Azevedo<\/i> quem o substitu\u00eda. Com isso, foi cada vez mais se aperfei\u00e7oando, chegando mesmo a acompanhar grandes cantores.<\/p>\n

O tema de Brasileirinho<\/i> nasceu quando um garotinho seu sobrinho, pediu ao tio Waldir<\/i> que tocasse no seu cavaquinho de brinquedo, que continha apenas uma corda. O tema foi posteriormente desenvolvido pelo violonista Jorge Santos, seu amigo e companheiro de regional. Tratava-se de um choro ligeiro, que come\u00e7ava a se propagar atrav\u00e9s do r\u00e1dio. Enquanto isso, Jacob do Bandolim deixou a Continental e foi para a RCA Victor. Waldir <\/i>foi convidado para assumir o lugar.<\/p>\n

Waldir Azevedo<\/i> estreou na Continental, com Carioquinha<\/i> no lado A e Brasileirinho<\/i> no lado B. O sucesso de Brasileirinho<\/i> foi retumbante, sendo o samba tocado em todas as emissoras. E o compositor ganhou tanto dinheiro que sua esposa Olinda achou que ele tivesse assaltado um banco. A vida financeira da fam\u00edlia melhorou consideravelmente.<\/p>\n

Depois de criar boas m\u00fasicas, mas nenhuma que superasse Brasileirinho<\/i>, Waldir<\/i> criou o bai\u00e3o Delicado<\/i>, cujos primeiros compassos identificariam o cavaquinho para sempre. Delicado<\/i> ultrapassou as fronteiras nacionais, indo da Argentina para os Estados Unidos, sendo gravado at\u00e9 pela orquestra de Percy Faith. Uma vers\u00e3o foi feita por Aloysio Oliveira, cantada por Carmen Miranda, e usada no desenho animado do personagem Patolino. Com o sucesso, as m\u00fasicas famosas de Waldir Azevedo<\/i> ganharam letra de Miguel Lima, que por sua vez foram cantadas por Ademilde Fonseca.<\/p>\n

O choro Pedacinho do C\u00e9u<\/i> foi composto por Waldir<\/i> em homenagem \u00e0s duas filhas. E novamente o compositor viu uma m\u00fasica sua ultrapassar as fronteiras nacionais. Em Buenos Aires, os f\u00e3s chegaram a rasgar suas vestes na porta da r\u00e1dio. Sua vida transformou-se em muito trabalho, sucesso e viagens pelos mais diferentes lugares, tocando cada vez melhor. At\u00e9 quando esteve na cidade do Cairo, encontrou uma caixinha de m\u00fasica que tocava uma de suas composi\u00e7\u00f5es, Delicado<\/i>.<\/p>\n

Mas, como a vida \u00e9 feita de contradi\u00e7\u00f5es, altos e baixos, as duas filhas de Waldir Azevedo<\/i> viram-se envolvidas num acidente automobil\u00edstico, vindo Miriam, a mais velha, a falecer. O compositor caiu numa profunda depress\u00e3o, sem nenhum interesse por nada, inclusive pela m\u00fasica. Ficou assim por um per\u00edodo de 3 anos. Come\u00e7ou ent\u00e3o a ler e escrever m\u00fasicas, na tentativa de melhorar sua sa\u00fade mental. Quando conseguiu retornar \u00e0s suas atividades, gravou o LP Delicado<\/i>.<\/p>\n

Em 1971, Waldir Azevedo<\/i> e Olinda mudaram-se para Bras\u00edlia, acompanhando o marido da filha que fora transferido. Ali, travou contato com o grupo do choro, do qual fazia parte Francisco de Assis. Ficou muito amigo do violonista Hamilton Costa, que viria a se tornar seu parceiro. Mas em Bras\u00edlia, morando no Lago Sul, sofreu um acidente. Foi consertar o cortador de grama, cuja l\u00e2mina arrancou a ponta de seu dedo anular esquerdo. O peda\u00e7o do dedo foi reimplantado e acabou recuperando-se totalmente. Fez o choro Minhas M\u00e3os, Meu Cavaquinho<\/i>, em agradecimento \u00e0 sua recupera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

\u00c9 lament\u00e1vel o fato de que Jacob do Bandolim, por inveja, pelo fato de Waldir Azevedo<\/i> ter vendido mais discos e ter alcan\u00e7ado sucesso no exterior, tenha desmerecido o colega compositor e instrumentista, referindo-se a ele como \u201co outro\u201d, entre outros t\u00edtulos grosseiros, at\u00e9 o final de sua vida.<\/p>\n

Waldir Azevedo morreu em 1980, aos 57 anos de idade, em raz\u00e3o da ruptura de um aneurisma abdominal.<\/p>\n

Nota:
\n<\/span>Clique nos links abaixo para ouvir Brasileirinho<\/i> e Delicado<\/i>:
\n
http:\/\/www.youtube.com\/watch?v=Si5y0QGSjTY<\/a>
\n
http:\/\/www.youtube.com\/watch?v=7pKF7vTk73M<\/a><\/p>\n

Fonte de pesquisa:
\n<\/span>Ra\u00edzes da M\u00fasica Popular Brasileira\/ Cole\u00e7\u00e3o Folha de S\u00e3o Paulo<\/p>\n

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