<\/a><\/p>\nFabiano comprou dez varas de alva fazenda.
\nSinha Terta incumbiu-se de coser pra fam\u00edlia.
\nEla achou o pano pouco e ele fingiu de bobo.
\nA velha pretendia era lhe roubar os retalhos.
\nAs vestes sa\u00edram curtas, cheias de emendas.<\/span><\/p>\nO pai vestia roupa de brim, chap\u00e9u de baeta,
\ngravata e botinas de vaqueta e el\u00e1stico, r\u00edgido.
\nSinha Vit\u00f3ria usava vestes de ramas coloridas,
\ntentando se equilibrar nos sapatos de salto alto.
\nEles mancavam como bois doentes dos cascos.<\/span><\/p>\nOs meninos, vaidosos, usavam cal\u00e7a e palet\u00f3,
\npois s\u00f3 vestiam camisa riscada ou ficavam nus.
\nBaleia seguia atr\u00e1s com medo de ser enxotada,
\naos poucos, faceira, incorporou-se ao grupo, e
\nassim, seguiam os sertanejos pra festa na rua.<\/span><\/p>\nNo caminho, o pai botou suas meias no bolso,
\ne retirou\u00a0 <\/span>palet\u00f3, gravata e colarinho, aliviado.
\nA m\u00e3e tirou sapatos, meias e amarrou no len\u00e7o.
\nOs guris puseram as chinelas debaixo do bra\u00e7o.
\nTodos se sentiram livres pra acelerar o passo.<\/span><\/p>\nAo anoitecer, perto do riacho, \u00e0 entrada da rua,
\no pai lavou os p\u00e9s, limpando as gretas de barro.
\nA m\u00e3e arribou a saia, sentada no ch\u00e3o, lavou-se.
\nOs pixotes esfregaram seus p\u00e9s e sa\u00edram do rio,
\nbotaram as chinelas, atentos \u00e0s a\u00e7\u00f5es dos pais.<\/span><\/p>\nA m\u00e3e andava aos tombos por causa dos saltos.
\nOs pixotes sentiam medo dali e pisavam devagar,
\nreceosos de chamarem a aten\u00e7\u00e3o das pessoas.
\nN\u00e3o imaginavam aquele monte de casas e gente
\nO mundo agora lhes parecia muito mais alargado.<\/span><\/p>\nEles iriam ganhar pux\u00f5es de orelhas e cascudos?
\nOs guris retraiam-se, encostando-se \u00e0s paredes,
\ncom os ouvidos repletos de sons desconhecidos.
\nOlhavam tudo, abobados com coisas nunca vistas.
\nComo botavam na ideia tantos nomes esquisitos?<\/span><\/p>\nA fam\u00edlia aproximou-se da igreja e foi entrando.
\nBaleia, inquieta, ficou na cal\u00e7ada, olhando a rua,
\nNa sa\u00edda, os guris sentiram falta da cachorrinha.
\nComo achar a bicha naquele mundar\u00e9u de gente?
\nDevia estar perdida, levando pontap\u00e9s, coitadinha.<\/span><\/p>\nBaleia reapareceu, mostrando seu contentamento.
\nOs pixotes, ainda nervosos, puseram a lhe explicar:
\ntinham tomado um susto por causa de seu sumi\u00e7o,
\nmas a cadela n\u00e3o deu a menor import\u00e2ncia \u00e0 li\u00e7\u00e3o,
\napenas sentia os cheiros estranhos e esquisitos.<\/span><\/p>\nBaleia quis latir, mostrar o desgosto a tudo aquilo,
\nmas nunca convenceria Sinha Vit\u00f3ria e seu marido.
\nA opini\u00e3o dos guris era igual a dela, tinha saben\u00e7a.
\nEsperavam ansiosos voltar pra casa, l\u00e1 na caatinga,
\ne deixar aquele mund\u00e3o feio e sem nenhum sentido.<\/span><\/p>\nViews: 0<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Autoria de Lu Dias Carvalho Fabiano comprou dez varas de alva fazenda. Sinha Terta incumbiu-se de coser pra fam\u00edlia. Ela achou o pano pouco e ele fingiu de bobo. A velha pretendia era lhe roubar os retalhos. As vestes sa\u00edram curtas, cheias de emendas. O pai vestia roupa de brim, chap\u00e9u de baeta, gravata e […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[51],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/8798"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=8798"}],"version-history":[{"count":9,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/8798\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":45935,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/8798\/revisions\/45935"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=8798"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=8798"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=8798"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}