{"id":9135,"date":"2013-12-18T22:41:19","date_gmt":"2013-12-19T00:41:19","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=9135"},"modified":"2022-08-04T22:10:22","modified_gmt":"2022-08-05T01:10:22","slug":"vidas-secas-prenuncio-da-seca-20","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/vidas-secas-prenuncio-da-seca-20\/","title":{"rendered":"Vidas Secas – PREN\u00daNCIO DA SECA (20)"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho
\n<\/b><\/p>\n

\"can,12345\"<\/a><\/p>\n

O bebedouro cobriu-se de aves de arriba\u00e7\u00e3o.
\nVinham em bandos, arranchando-se nos paus,
\ndepois, seguiam-se pro sul, buscando comida.
\nSinal de que o sert\u00e3o ia de novo pegar fogo.<\/p>\n

O c\u00e9u, toldado pelas sombras das arriba\u00e7\u00f5es,
\nera advert\u00eancia de mau agouro para o sert\u00e3o.
\nO mulungu encontrava-se sem folhas e flores.
\nEra s\u00f3 garrancheira pelada e cheia de penas.<\/p>\n

Fabiano e a mulher j\u00e1 previam as desgra\u00e7as.
\nO sol sugava os po\u00e7os, as aves bebiam o resto.
\nOs bichos de pena iam acabar matando o gado.
\nBebiam toda \u00e1gua, o gado curtia sede e morria.<\/p>\n

Fabiano pensou na sua vida cruel de sertanejo.
\nQuanto mais tentava se esquecer da maldi\u00e7\u00e3o,
\nmais uma desgra\u00e7a vinha montada nas outras.
\nSentia-se o mais maldito daquele mundo c\u00e3o.<\/p>\n

Preferia morrer a se assar na beira do caminho,
\ncoa mulher e seus filhos acabando-se tamb\u00e9m.
\nSua raiva aflorou contra aquelas bichas aladas
\ne, sem d\u00f3, p\u00f4s-se a atirar nelas num vaiv\u00e9m.<\/p>\n

Tinha de segurar nas asas fr\u00e1geis da esperan\u00e7a.
\nTalvez a seca n\u00e3o viesse e a chuva n\u00e3o tardasse.
\nE n\u00e3o haveria a fome, a sede e a cruenta fadiga.
\nTalvez os bichos s\u00f3 estivessem ali de passagem.<\/p>\n

De repente um risco cortou o c\u00e9u. Mais outros.
\nMilhares deles junto a medonho bater de asas.
\nTudo vinha pra anunciar a maligna destrui\u00e7\u00e3o.
\nAquelas bichas anunciavam a seca braba.<\/p>\n

Havia um sacolejar de asas em cima do po\u00e7o.
\nQuando as pestes aladas voltavam ao sert\u00e3o,
\ntapando tudo que fosse pau, num baita festejo,
\nat\u00e9 os espinhos duros da caatinga secavam.<\/p>\n

Coitada da mulher, nos descampados de novo,
\nlevando o ba\u00fa de folhas, puxando os meninos,
\nandando na terra queimada, esfolando os p\u00e9s.
\nEla tinha saben\u00e7a, era uma mulher de ouro.<\/p>\n

Tanto bicho ali que derrubara coa espingarda.
\nBaleia, se vivesse, iria se regalar com a fartura.
\nSer\u00e1 que ele agira direito ao matar a\u00a0 bichinha?
\nEstava com \u201craiva\u201d de levar tanta dor e labuta.<\/p>\n

Era preciso combinar a viagem com sua mulher.
\nLivrar-se das arriba\u00e7\u00f5es, convencer seu cora\u00e7\u00e3o,
\nde que n\u00e3o fora injusto matando a meiga Baleia.
\nEra preciso dimudar a vida pra outra dire\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

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