<\/a><\/p>\nA minha amiga Mariciana Gota Santa procurou-me hoje, babando de raiva, no intuito de buscar consolo. Relatou-me a revoltosa figura que certa prima, para quem ela desencavara um marido a duras penas e que vivia antes numa depr\u00ea do c\u00e3o, agora se encontrava no bem bom, havia passado por ela sem nem abanar o rabo<\/em>. E declarou mais isso e mais aquilo, desfiando um ros\u00e1rio de desagradecimento, emb\u00f3fia e cavilagem. Se tudo fosse veridicidade, a tal prima era uma persona desalmada, uma mal agradecida dos diabos. O melhor rem\u00e9dio seria manter o afastamento dessa\u00a0 figura molesta por todo o sempre.<\/p>\nQuando minha amiga se foi, carregando seu fardo de pesadume e enfezamento, eu me pus a pensar em qual seria o prop\u00f3sito que leva uma pessoa a ser t\u00e3o insens\u00edvel e ingrata como a tal prima, capaz de cuspir no prato que comeu? Mas voltando ao dito popular, qual foi a causa de o rabo<\/em> entrar nesta hist\u00f3ria, se humano n\u00e3o tem nem um rabic\u00f3, nem mesmo um cotozinho?<\/p>\nFato \u00e9 que esta palavra tem sido creditada a certas figuras que andam dando isso ou aquilo a torto e a direito, o que n\u00e3o \u00e9 o caso aqui. \u00c9 sabido que antigamente a palavra \u201cabanar\u201d que significa sacudir de um lado para o outro, vascolejar ou balou\u00e7ar n\u00e3o se referia ao rabo dos bichos como termo pejorativo. O caso era bem outro.<\/p>\n
No s\u00e9culo XIX, nas casas endinheiradas, onde se reuniam muitos convivas \u2014 e mesmo na falta desses \u2014, durante as refei\u00e7\u00f5es os pobres escravos \u2014 todos uniformizados para mostrar a finesse da fam\u00edlia \u2014 ficavam pr\u00f3ximos \u00e0 mesa, sacudindo uma vara flex\u00edvel que trazia na extremidade um peda\u00e7o de tecido transparente, papel ou palha entrela\u00e7ada para espantar as moscas e refrescar os comensais, uma vez que ainda n\u00e3o\u00a0 existia ventilador e inseticidas. Esse objeto escalafob\u00e9tico recebeu o nome de “abano”. Os escravos sofriam com tanto abanamento. Era uma abanadura dos diabos.<\/p>\n
O \u201cabanar o rabo<\/em>\u201d de minha amiga ou da prima dela \u2014 sei l\u00e1, pois n\u00e3o fa\u00e7o parte da hist\u00f3ria \u2014 no entanto, nada tem a ver com a abana\u00e7\u00e3o dos escravos, significando: sem lhe dar import\u00e2ncia ou confian\u00e7a ou, como diria minha santa avozinha: \u201cA mo\u00e7a ficou metida a biscoito de sebo, agora que arranjou um marido rico.<\/em>\u201d Vixe! Eu, particularmente, se n\u00e3o me abanam o rabo<\/em>, n\u00e3o dou a m\u00ednima. H\u00e1 muito aprendi a deixar de lado minha suscetibilidade e jogar certas figuras no ba\u00fa do esquecimento. Ostracismo nelas!<\/p>\nCoitada da minha amiga Mariciana Gota Santa, ela ainda n\u00e3o compreendeu que \u201cO dia do benef\u00edcio \u00e9 a v\u00e9spera da ingratid\u00e3o\u201d e ainda sofre por quem n\u00e3o vale um tost\u00e3o furado. Se no seu lugar estivesse, mandaria a tal prima lamber sab\u00e3o.<\/p>\n
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Autoria de Lu Dias Carvalho A minha amiga Mariciana Gota Santa procurou-me hoje, babando de raiva, no intuito de buscar consolo. Relatou-me a revoltosa figura que certa prima, para quem ela desencavara um marido a duras penas e que vivia antes numa depr\u00ea do c\u00e3o, agora se encontrava no bem bom, havia passado por ela […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[43],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/9171"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=9171"}],"version-history":[{"count":6,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/9171\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":48608,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/9171\/revisions\/48608"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=9171"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=9171"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=9171"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}