<\/a><\/p>\nSegundo diziam os antigos, a express\u00e3o bater as botas<\/i> era espec\u00edfica dos endinheirados, pois o cal\u00e7ado era um s\u00edmbolo de status social, um luxo do qual os desventurados viam-se a anos-luz de dist\u00e2ncia. Ainda mais em se tratando de botas, artigo luxuoso, feito de couro, \u00e0 disposi\u00e7\u00e3o de poucos, s\u00edmbolo de ostenta\u00e7\u00e3o e autoridade. Tanto \u00e9 que todo coronel, graduado ou n\u00e3o, usava tal cal\u00e7ado que muitas vezes subia at\u00e9 a coxa. O tamanho dizia respeito ao seu grau de import\u00e2ncia. Como as mulheres n\u00e3o usassem botas, tal express\u00e3o s\u00f3 era direcionada aos homens patacudos, \u00e9 claro.<\/p>\n
Os pobres sem eira e nem beira n\u00e3o batiam as botas<\/i>, apenas e<\/i>sticavam suas canelas finas, desprovidas de m\u00fasculos, terminadas em p\u00e9s de sulcos profundos, capazes de esconder toda a miserabilidade que lhes ofertava a vida, sem d\u00f3 ou piedade. No m\u00e1ximo podiam bater as chinelas ou amarrar o palet\u00f3 pu\u00eddo, presente de um coronel ou senhor. O mais engra\u00e7ado \u00e9 que, num gesto de extrema nobreza, como se vivessem numa sociedade justa, pobres e ricos partiam para \u201cuma vida melhor\u201d, onde supunham que todos chegariam, mas sem o uso de botas, \u00e9 claro.<\/p>\n
Ainda que as injusti\u00e7as continuem, a express\u00e3o bater as botas<\/i> tornou-se igualit\u00e1ria. Tanto batem as botas<\/i>, abotoam o palet\u00f3<\/i> ou esticam as canelas os<\/i> ricos quanto os pobres. E n\u00e3o mais importa o sexo, pois botas e palet\u00f3s tamb\u00e9m passaram a fazer parte da indument\u00e1ria feminina. Sem falar que as botas de hoje tamb\u00e9m podem ser de borracha ou pl\u00e1stico, trazendo um pre\u00e7o mais em conta, de acordo com o bolso de cada um.<\/p>\n
Segundo alguns estudiosos dos ditos populares, esta express\u00e3o pode ser fruto da primeira invas\u00e3o holandesa no Brasil, acontecida em 1624, quando o uso de botas foi estendido aos negros escravos. Como esses n\u00e3o tinham nenhuma destreza no uso de armamentos, acabavam trope\u00e7ando em suas pr\u00f3prias botas e caindo, tornando-se um alvo f\u00e1cil para a mira dos holandeses em luta. Os negros sobreviventes referiam-se aos companheiros que morriam como sendo v\u00edtimas das botas, ou seja, os pobrezinhos morriam porque tinham “batido as botas”.<\/p>\n
Ilustra\u00e7\u00e3o:<\/span> Um Par de Botas<\/i>, 1886, obra de Van Gogh.<\/p>\nViews: 8<\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Autoria de Lu Dias Carvalho Segundo diziam os antigos, a express\u00e3o bater as botas era espec\u00edfica dos endinheirados, pois o cal\u00e7ado era um s\u00edmbolo de status social, um luxo do qual os desventurados viam-se a anos-luz de dist\u00e2ncia. Ainda mais em se tratando de botas, artigo luxuoso, feito de couro, \u00e0 disposi\u00e7\u00e3o de poucos, s\u00edmbolo […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"sfsi_plus_gutenberg_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_show_text_before_share":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_type":"","sfsi_plus_gutenberg_icon_alignemt":"","sfsi_plus_gutenburg_max_per_row":"","_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[43],"tags":[],"aioseo_notices":[],"jetpack_featured_media_url":"","jetpack_sharing_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/9229"}],"collection":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=9229"}],"version-history":[{"count":7,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/9229\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":48653,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/9229\/revisions\/48653"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=9229"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=9229"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/virusdaarte.net\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=9229"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}