{"id":9229,"date":"2022-03-06T00:08:00","date_gmt":"2022-03-06T03:08:00","guid":{"rendered":"http:\/\/virusdaarte.net\/?p=9229"},"modified":"2022-09-14T19:52:59","modified_gmt":"2022-09-14T22:52:59","slug":"bater-as-botas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/virusdaarte.net\/bater-as-botas\/","title":{"rendered":"BATER AS BOTAS"},"content":{"rendered":"

Autoria de Lu Dias Carvalho<\/strong><\/b> \"baleia1\"<\/a><\/p>\n

Segundo diziam os antigos, a express\u00e3o bater as botas<\/i> era espec\u00edfica dos endinheirados, pois o cal\u00e7ado era um s\u00edmbolo de status social, um luxo do qual os desventurados viam-se a anos-luz de dist\u00e2ncia. Ainda mais em se tratando de botas, artigo luxuoso, feito de couro, \u00e0 disposi\u00e7\u00e3o de poucos, s\u00edmbolo de ostenta\u00e7\u00e3o e autoridade. Tanto \u00e9 que todo coronel, graduado ou n\u00e3o, usava tal cal\u00e7ado que muitas vezes subia at\u00e9 a coxa. O tamanho dizia respeito ao seu grau de import\u00e2ncia. Como as mulheres n\u00e3o usassem botas, tal express\u00e3o s\u00f3 era direcionada aos homens patacudos, \u00e9 claro.<\/p>\n

Os pobres sem eira e nem beira n\u00e3o batiam as botas<\/i>, apenas e<\/i>sticavam suas canelas finas, desprovidas de m\u00fasculos, terminadas em p\u00e9s de sulcos profundos, capazes de esconder toda a miserabilidade que lhes ofertava a vida, sem d\u00f3 ou piedade. No m\u00e1ximo podiam bater as chinelas ou amarrar o palet\u00f3 pu\u00eddo, presente de um coronel ou senhor. O mais engra\u00e7ado \u00e9 que, num gesto de extrema nobreza, como se vivessem numa sociedade justa, pobres e ricos partiam para \u201cuma vida melhor\u201d, onde supunham que todos chegariam, mas sem o uso de botas, \u00e9 claro.<\/p>\n

Ainda que as injusti\u00e7as continuem, a express\u00e3o bater as botas<\/i> tornou-se igualit\u00e1ria. Tanto batem as botas<\/i>, abotoam o palet\u00f3<\/i> ou esticam as canelas os<\/i> ricos quanto os pobres. E n\u00e3o mais importa o sexo, pois botas e palet\u00f3s tamb\u00e9m passaram a fazer parte da indument\u00e1ria feminina. Sem falar que as botas de hoje tamb\u00e9m podem ser de borracha ou pl\u00e1stico, trazendo um pre\u00e7o mais em conta, de acordo com o bolso de cada um.<\/p>\n

Segundo alguns estudiosos dos ditos populares, esta express\u00e3o pode ser fruto da primeira invas\u00e3o holandesa no Brasil, acontecida em 1624, quando o uso de botas foi estendido aos negros escravos. Como esses n\u00e3o tinham nenhuma destreza no uso de armamentos, acabavam trope\u00e7ando em suas pr\u00f3prias botas e caindo, tornando-se um alvo f\u00e1cil para a mira dos holandeses em luta. Os negros sobreviventes referiam-se aos companheiros que morriam como sendo v\u00edtimas das botas, ou seja, os pobrezinhos morriam porque tinham “batido as botas”.<\/p>\n

Ilustra\u00e7\u00e3o:<\/span> Um Par de Botas<\/i>, 1886, obra de Van Gogh.<\/p>\n

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