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Autoria de Sérgio Puppin*
E isso ocorre com todas as proteínas do corpo. A catarata senil por exemplo é consequência da glicação do cristalino. Costumo dizer que o que o açúcar faz no corpo das pessoas se assemelha ao que a ferrugem faz numa máquina de ferro ou ao que o cupim faz num móvel de madeira. (Fernando Carvalho)
A Humanidade evoluiu durante milhares de anos nutrindo-se dos alimentos que a natureza lhe oferecia. E quais foram os alimentos responsáveis por nossa evolução através dos tempos? Simplesmente aqueles que estavam ao alcance da mão: frutas, raízes, frutos do mar, aves, ovos, carnes em geral, gorduras e leite. O homem depois de descobrir que alimentos lavados na água do mar ganhavam um sabor especial, incorporou o sal à sua dieta. Em contrapartida, verificou que o mel conferia um sabor doce aos alimentos – e este passou a ser o seu adoçante. E assim, como temperos e condimentos, o homem foi selecionando gradualmente o que hoje se tornou requinte nas melhores cozinhas do mundo.
Apesar de na Antiguidade a vida média das pessoas ser menor devido às duras condições de existência, muitas das doenças que atualmente são quase epidêmicas, naquele tempo eram menos frequentes, dentre elas as doenças cardiovasculares e o próprio câncer. Há menos de dez mil anos o homem dominou o cultivo das sementes, dando início à agricultura moderna. Há menos de mil anos conseguiu extrair o açúcar da natureza e há pouco mais de 400 anos praticamente universalizou seu consumo. Certamente este foi um dos principais fatores da disseminação da obesidade, do diabetes e outras doenças crônicas.
Atualmente a bioquímica humana revela que o coração é dependente de gorduras, proteínas, vitaminas e sais minerais, mas de nem um miligrama sequer de açúcar. Por outro lado, o cérebro necessita da glicose proveniente dos alimentos. Por que então não ingerir grandes quantidades de açúcar para nutrir nosso cérebro? A glicose, leia-se o açúcar dos alimentos, não faz mal à saúde. O problema está no açúcar refinado. Durante o refino, inúmeros produtos químicos são utilizados para que o veneno doce fique branco, bem solto e bonito. Nesta hora, as fibras, os sais minerais, as proteínas e demais nutrientes são eliminados e o que sobra é um produto químico que é apenas calorias vazias. Afora isso, o consumo de açúcar produz um estado de superacidez que desmineraliza o organismo. O corpo então passa a ter falta de cálcio, magnésio, zinco, cobre e selênio, dentre outros nutrientes.
A sacarose é constituída de duas moléculas, uma de glicose e outra de frutose. A glicose que o açúcar refinado fornece à dieta é supérflua e nociva; a frutose, por sua vez, é a matéria-prima para formar colesterol. Assim, o açúcar refinado contribui duplamente para elevar o colesterol, já que a glicose estimula a produção de insulina e esta sinaliza para maior produção de colesterol pelo fígado. Para aqueles que consideram o colesterol um verdadeiro assassino culpado pelas doenças cardiovasculares, lembro que tanto a hiperinsulinemia quanto a hiperglicemia, fenômenos exacerbados pelo consumo de açúcar – são fatores maléficos mais importantes do que o colesterol. Por isso há uma tendência entre os médicos a recomendar taxas de glicose abaixo de 100 mg/dl e de insulina inferiores a 8 moUI/ml.
O culto do açúcar se inicia ainda nos primeiros dias de vida, quando as mamães mergulham as chupetas no açucareiro para acalmar os bebês e evitar que chorem. E continua ao longo da infância sendo estimulado pelos pais que oferecem doces e balas aos seus filhos, como presentes e prêmios. Sem contar com a televisão, que nos bombardeia com anúncios sedutores para induzir-nos a consumir esse doce que nos mata. Tornar-se escravo dele é muito fácil, pois sua absorção é extremamente rápida, logo alcançando o cérebro, onde juntamente com a insulina libera triptofano, que se converte em serotonina, a qual tem ação tranquilizante. Por isso é que quando uma pessoa está nervosa logo se oferece um copo de água com açúcar, que acalma.
Este livro intitulado “O LIVRO NEGRO DO AÇÚCAR” dá continuidade à luta iniciada com a obra “Sugar Blues” de William Dufty. Fernando Carvalho, porém, atualiza e confere mais consistência e dureza à crítica do açúcar feita pelo autor americano. Escrita num estilo franco e corajoso sua obra é um verdadeiro desafio aos homens e instituições responsáveis pela saúde pública em nosso país.
De forma didática, às vezes um tanto menos doce, mas com um toque de humor, o autor expõe a saga do açúcar desde seu advento na história, e sua evolução através dos tempos; mostra como o açúcar hoje impregna e encontra-se oculto nos mais diversos produtos, sobretudo nos alimentos industrializados. Seu livro é um verdadeiro eu acuso! Um alerta para as consequências desastrosas dessa situação. Fernando Carvalho defende a tese de que o açúcar, apenas ele, é o aditivo químico responsável pelo caráter patogênico da dieta humana e propõe, nada menos, que ele seja abolido da mesa com açucareiro e tudo. Parte da comunidade médico-científica e dos profissionais de saúde será tomada de surpresa.
Fruto de um trabalho de pesquisa bem documentado, o alvo deste livro é o público em geral, mas tenho a certeza de que sua leitura proporcionará mesmo aos médicos e nutricionistas importantes esclarecimentos. Uma obra que efetivamente contribuirá para SALVAR MUITAS VIDAS!
*Sérgio Puppin, cardiologista e nutrólogo, é professor do Curso de Geriatria e Gerontologia da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, membro da Academia de Ciências de N ova York e autor dos livros Doenças cardiovasculares, verdades e mitos e Ovo, o mito do colesterol.
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