Juan Rizi – VISÃO DE SANTA ÁUREA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

                          O pintor espanhol Frei Juan Andrés Ricci, também conhecido como Frey Juan Rizi (1600- 1682) era filho do pintor italiano Antonio Ricci de Ancona que se mudou para a Espanha juntamente com Zuccaro em 1585 e irmão de Francisco Rizi. Seu pai foi provavelmente seu primeiro professor. Rizi, pintor do período do Barroco, destaca-se entre os pintores mais conservadores e comoventes da Idade do Ouro espanhola no que diz respeito às suas obras religiosas, tidas como excepcionais. Sofreu influência dos trabalhos de Carducho. Grande devoto da Virgem Maria, o pintor, aos 17 anos de idade, escreveu um livro sobre ela, o que o levou a ingressar no mosteiro beneditino de Montserrat, onde foi professor. Em Madri ele trabalhou como mestre de desenho do príncipe Baltasar Carlos. Escreveu um tratado sobre a arquitetura e a geometria da pintura, intitulado “Pintura Sábia”. Veio a morar na Itália, onde faleceu.

A composição intitulada Visão de Santa Áurea é obra do artista. Trata-se de uma pintura dotada de um vocabulário formal simples – peculiar ao pintor – em que as figuras fazem uso de uma vestimenta pesada e são colocadas num espaço sem profundidade, iluminadas por intensos raios de luz. A aparência mística de Maria é retratada através de seu encontro físico com a freira Santa Áurea.

A santa encontra-se em sua cela, quando essa é milagrosamente ocupada por bancos de nuvens. Em meio a elas aparecem anjos e putti. Santa Áurea, ocupando o primeiro plano, ajoelha-se e inclina em direção à Virgem que lhe estende a mão que é beijada pela santa. O contorno de suas costas une-se ao lado esquerdo da Virgem Maria, tornando a união ainda mais completa.

Ficha técnica
Ano: c. 1653
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: x
Localização: San Millán de la Cogolla, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições

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AÇÚCAR – ONDE FOI QUE EU ERREI?

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Autoria de Fernando Carvalho*

Ver é uma ousadia. Fazer falar o que se viu, ou desmistificar a cegueira alheia é ousadia dupla. (Affonso Romano de Sant’Anna)

Eu achava que tinha um estilo de vida saudável e bons hábitos alimentares, e que estaria destinado a uma vida longa e com saúde. O fato é que depois dos quarenta anos fui surpreendido pelo diabetes. Fiquei estarrecido, atônito e fulo da vida. Eu me cuidava e não era para ter ficado doente. Ignorava absolutamente esse distúrbio metabólico. Para mim, se o diabo fosse animador de um programa de televisão, as dançarinas seriam as diabetes. Passei a ler sobre o assunto e cheguei, como veremos, a conclusões diferentes da “diabetologia”.

Eu não sabia o que era açúcar… Para mim era um alimento como outro qualquer e que fazia parte da mesa de um modo inteiramente natural. O saleiro tinha um pó branco usado para salgar os alimentos e o açucareiro para adoçar. Algo de estranho? Não. Diziam que o açúcar provocava cárie, mas só para quem não escovava os dentes. Nunca estranhei o fato de uma substância exigir escovação, fio dental, flúor, selante, etc., pelo simples fato de entrar em contato com os dentes, o tecido mais duro do organismo. Uma ideia clichê dizia que o açúcar em excesso fazia mal e engordava, mas isso só deveria valer para quem tem tendência a engordar. Quem não é sedentário e queima calorias não precisaria se preocupar com isso.

Minha mãe sempre gostou muito de açúcar. Em geral ela põe tanto açúcar no que faz que a coisa vira um melado. Quando eu era criança, ela conta, tive problemas comvabsorção de leite de vaca, e um conceituado médico lá de Pernambuco receitou para mim leite condensado, que minha mãe transformava em leite líquido adicionando água quente. Ela diz, ainda hoje, com uma ponta de orgulho: “Nandinho consumia uma lata de Leite Moça todo dia!”. Coitado do meu pâncreas. Uma vez eu reclamei que ela havia estragado uma vitamina de abacate com tanto açúcar. Mas o máximo que eu conseguia era ofendê-la. Imagine uma vitamina bem docinha, feita com amor por sua mãe! Não havia clima para reclamações. Quando numa lanchonete pedia um suco de laranja, eu mesmo colocava açúcar e tinha a impressão de que, de alguma forma, o suco de laranja ficara enriquecido. Além de doce, talvez enriquecido de energia. Influenciado pelos naturalistas, sempre evitei Coca-Cola, mais por ser um líquido artificial. Jamais deixei de preferir um suco de fruta (com açúcar) a uma Coca.

Eu não bebia refrigerantes, mas guaraná natural, acerola com laranja e mate natural… Tudo devidamente açucarado. E no verão, especialmente, bebia muito mais. Só depois de me tornar diabético é que vim a ler o “Sugar Blues”, obra de William Dufty, para ficar sabendo que eu consumira muito açúcar ao longo de minha vida e que o açúcar se encontra até em alimentos salgados. Minha bebida preferida, a cerveja, vim a descobrir que se trata de uma água suja de açúcar e que até o vinho soi disant (supostamente) seco também leva açúcar.

Hoje sou tomado pela sensação de que fui enganado a vida inteira. Tivesse sidoinformado sobre o que era o açúcar, eu o teria evitado, riscado de minha dieta e não teria ficado doente. Escrevi a obra intitulada “O Livro Negro do Açúcar” (presente em PDF) com o objetivo de alertar as pessoas quanto a este problema. Hoje quem fuma sabe o mal que o cigarro faz, fuma tendo consciência disso. Conheço gente que fuma alegando que o cigarro não é nada diante das condições de vida oferecidas pelo capitalismo contemporâneo. Penso diferente: não é porque a vida está uma merda que vou fazer mal a mim mesmo. Além do mais, como dizia um personagem do filme “Eles não usam black-tie”, a merda se transforma. Com este livro pretendo somar forças ao movimento que já existe, liderado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), visando impor limites à indústria de alimentos da mesma maneira que faz com a indústria de cigarros. Deixo claro, porém, que o movimento Açúcar zero é contra apenas a presença do açúcar na mesa. É ele que, adicionado à dieta, a transforma-a numa ração patogênica.

O movimento Açúcar zero parte do princípio de que o açúcar não é, como parece, um componente natural da mesa, mas um corpo estranho nocivo que invadiu a mesa há apenas alguns séculos, conferindo à alimentação da humanidade um caráter patogênico. Movimento de tolerância zero em relação a esse agente causador das mais vergonhosas epidemias que assolam a humanidade: da cárie dentária, da obesidade mórbida, das doenças cardiovasculares e do diabetes que é uma doença cada vez mais popular.

Aos fabricantes de açúcar resta o consolo de que com o açúcar é possível se fazer muitas outras coisas, até explosivos. Acredito que, como um primeiro passo, deve haver, como acontece com o cigarro e o álcool, advertência do Ministério da Saúde nos rótulos dos produtos açucarados, alertando quanto aos perigos do consumo excessivo de açúcar e informando o teor de sacarose refinada. É o mínimo que se pode fazer… Acho uma perversidade permitir-se que um inocente desavisado consuma um veneno, pensando que se trata de alimento. Se a humanidade quiser erradicar, como já erradicou tantas doenças infecciosas, esse mar de doenças de etiologia desconhecida, como dizem os médicos, terá que deter o avanço da ditadura do açúcar.  

*Obteve o grau de Licenciatura em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). É cartunista, tendo publicado no Pasquim e em outros jornais. É sócio da Livraria João do Rio – tradicional sebo do Rio de Janeiro, e autor do livro Ferdo, pior que Millôr, cartuns que ficaram para a história.

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Roelas – VISÃO DE SÃO BERNARDO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor espanhol Juan Roelas (1560-1625) foi um dos responsáveis por ter revigorado a prática da pintura sevilhana. Nada se sabe sobre grande parte de sua vida. Dados sobre ele somente aparecem em 1597, quando assinou e datou uma gravura da “Elevação da Cruz”. Foi responsável por inúmeras encomendas para a catedral e para igrejas, vindo a tornar-se uma destacada figura em Sevilha/Espanha. Foi para Madri com o objetivo de candidatar-se a uma vaga de pintor real na corte. Embora não tenha conseguido tal cargo, permaneceu na capital espanhola por cerca de quatro anos. Foi responsável pela criação de retábulos monumentais, abundantes em figuras e em ações.

A gigantesca composição religiosa intitulada Visão de São Bernardo é uma obra do artista, encomendada para ornamentar o hospital de San Bernardo em Sevilha. O santo tem uma visão em que a Virgem Mãe, com seu filho ao colo, aparece sobre uma nuvem branca, de onde saem as carinhas de cinco anjinhos. Três outros anjinhos encontram-se à esquerda, segurando flores brancas e uma palma.

O santo apresenta-se num escritório mobiliado, onde se vê uma estante com livros encadernados em couro (à época os livros eram vistos como raridade). Na estante também se vê um quadro com a Virgem e seu Menino. Um vaso de vidro com lírios, próximo à estante, simboliza a pureza de Maria.

São Bernardo encontra-se de joelhos com as mãos cruzadas no peito. Possui cabeça pequena, nariz fino e olhos fundos voltados para a visão da Virgem com Seu Menino à sua frente. A Virgem segura o seio direito que se encontra para fora e de onde sai uma rajada de leite, acertando a boca do santo.

Ficha técnica
Ano: 1611
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 252 x 166 cm
Localização: Hospital de San Bernardo, Sevilha, Espanha

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições

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AÇÚCAR – O DOCE AMARGO

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Autoria de Sérgio Puppin*

E isso ocorre com todas as proteínas do corpo. A catarata senil por exemplo é consequência da glicação do cristalino. Costumo dizer que o que o açúcar faz no corpo das pessoas se assemelha ao que a ferrugem faz numa máquina de ferro ou ao que o cupim faz num móvel de madeira. (Fernando Carvalho)

A Humanidade evoluiu durante milhares de anos nutrindo-se dos alimentos que a natureza lhe oferecia. E quais foram os alimentos responsáveis por nossa evolução através dos tempos? Simplesmente aqueles que estavam ao alcance da mão: frutas, raízes, frutos do mar, aves, ovos, carnes em geral, gorduras e leite. O homem depois de descobrir que alimentos lavados na água do mar ganhavam um sabor especial, incorporou o sal à sua dieta. Em contrapartida, verificou que o mel conferia um sabor doce aos alimentos – e este passou a ser o seu adoçante. E assim, como temperos e condimentos, o homem foi selecionando gradualmente o que hoje se tornou requinte nas melhores cozinhas do mundo.

Apesar de na Antiguidade a vida média das pessoas ser menor devido às duras condições de existência, muitas das doenças que atualmente são quase epidêmicas, naquele tempo eram menos frequentes, dentre elas as doenças cardiovasculares e o próprio câncer. Há menos de dez mil anos o homem dominou o cultivo das sementes, dando início à agricultura moderna. Há menos de mil anos conseguiu extrair o açúcar da natureza e há pouco mais de 400 anos praticamente universalizou seu consumo. Certamente este foi um dos principais fatores da disseminação da obesidade, do diabetes e outras doenças crônicas.

Atualmente a bioquímica humana revela que o coração é dependente de gorduras, proteínas, vitaminas e sais minerais, mas de nem um miligrama sequer de açúcar. Por outro lado, o cérebro necessita da glicose proveniente dos alimentos. Por que então não ingerir grandes quantidades de açúcar para nutrir nosso cérebro? A glicose, leia-se o açúcar dos alimentos, não faz mal à saúde. O problema está no açúcar refinado. Durante o refino, inúmeros produtos químicos são utilizados para que o veneno doce fique branco, bem solto e bonito. Nesta hora, as fibras, os sais minerais, as proteínas e demais nutrientes são eliminados e o que sobra é um produto químico que é apenas calorias vazias. Afora isso, o consumo de açúcar produz um estado de superacidez que desmineraliza o organismo. O corpo então passa a ter falta de cálcio, magnésio, zinco, cobre e selênio, dentre outros nutrientes.

A sacarose é constituída de duas moléculas, uma de glicose e outra de frutose. A glicose que o açúcar refinado fornece à dieta é supérflua e nociva; a frutose, por sua vez, é a matéria-prima para formar colesterol. Assim, o açúcar refinado contribui duplamente para elevar o colesterol, já que a glicose estimula a produção de insulina e esta sinaliza para maior produção de colesterol pelo fígado. Para aqueles que consideram o colesterol um verdadeiro assassino culpado pelas doenças cardiovasculares, lembro que tanto a hiperinsulinemia quanto a hiperglicemia, fenômenos exacerbados pelo consumo de açúcar – são fatores maléficos mais importantes do que o colesterol. Por isso há uma tendência entre os médicos a recomendar taxas de glicose abaixo de 100 mg/dl e de insulina inferiores a 8 moUI/ml.

O culto do açúcar se inicia ainda nos primeiros dias de vida, quando as mamães mergulham as chupetas no açucareiro para acalmar os bebês e evitar que chorem. E continua ao longo da infância sendo estimulado pelos pais que oferecem doces e balas aos seus filhos, como presentes e prêmios. Sem contar com a televisão, que nos bombardeia com anúncios sedutores para induzir-nos a consumir esse doce que nos mata. Tornar-se escravo dele é muito fácil, pois sua absorção é extremamente rápida, logo alcançando o cérebro, onde juntamente com a insulina libera triptofano, que se converte em serotonina, a qual tem ação tranquilizante. Por isso é que quando uma pessoa está nervosa logo se oferece um copo de água com açúcar, que acalma.

Este livro intitulado “O LIVRO NEGRO DO AÇÚCAR” dá continuidade à luta iniciada com a obra “Sugar Blues” de William Dufty. Fernando Carvalho, porém, atualiza e confere mais consistência e dureza à crítica do açúcar feita pelo autor americano. Escrita num estilo franco e corajoso sua obra é um verdadeiro desafio aos homens e instituições responsáveis pela saúde pública em nosso país.

De forma didática, às vezes um tanto menos doce, mas com um toque de humor, o autor expõe a saga do açúcar desde seu advento na história, e sua evolução através dos tempos; mostra como o açúcar hoje impregna e encontra-se oculto nos mais diversos produtos, sobretudo nos alimentos industrializados. Seu livro é um verdadeiro eu acuso! Um alerta para as consequências desastrosas dessa situação. Fernando Carvalho defende a tese de que o açúcar, apenas ele, é o aditivo químico responsável pelo caráter patogênico da dieta humana e propõe, nada menos, que ele seja abolido da mesa com açucareiro e tudo. Parte da comunidade médico-científica e dos profissionais de saúde será tomada de surpresa.

Fruto de um trabalho de pesquisa bem documentado, o alvo deste livro é o público em geral, mas tenho a certeza de que sua leitura proporcionará mesmo aos médicos e nutricionistas importantes esclarecimentos. Uma obra que efetivamente contribuirá para SALVAR MUITAS VIDAS!

*Sérgio Puppin, cardiologista e nutrólogo, é professor do Curso de Geriatria e Gerontologia da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, membro da Academia de Ciências de N ova York e autor dos livros Doenças cardiovasculares, verdades e mitos e Ovo, o mito do colesterol.

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Pereda – NATUREZA-MORTA COM NOZES

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor barroco espanhol Antonio Pereda y Salgado (1611-1678) estudou primeiramente com seu pai, um modesto pintor do mesmo nome. Ficou órfão aos 11 anos de idade. Em Madri foi aluno do celebrado Pedro de las Cuevas, vindo mais tarde a tornar-se um mestre independente, ganhando a atenção de um importante protetor romano – Giovanni Battista Crescenzi – também pintor de naturezas-mortas, que se encantou com a capacidade de Pereda na criação deste gênero de pintura, introduzindo-o no naturalismo e no gosto pela pintura veneziana. Tal proteção abriu-lhe as portas do palácio.

A composição intitulada Natureza-morta com Nozes é um dos trabalhos do artista. Trata-se de um pequeno quadro em que milagrosamente Pereda transforma uma humilde fruta seca numa obra-prima. É impossível não se quedar de encantamento diante desta pintura. Nela o artista emprega uma visão microscópica para mostrar os mínimos detalhes da casca rija do fruto e sua castanha.

Ficha técnica
Ano: 1634
Técnica: óleo sobre painel
Dimensões: 21 cm de diâmetro
Localização: coleção particular

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições

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QUEM CASA FILHA, DEPENADO FICA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

depenado

Em muitas cultura a chegada de um menino é vista como auspiciosa, enquanto a vinda de uma menina é preocupante. O filho representa o sustentáculo de sua família, enquanto a filha só lhe trará despesas – assim pensam esses povos. Logo que a coitadinha chega ao mundo, os pais já enxergam em sua testa a palavra “dote”. E assim transcorre sua vida de submissão, até o dia em que passará a servir a uma nova família, onde também carregará a sua carga de servilismo.

Não causa surpresa a ninguém o conhecimento de que em certas culturas o casamento funciona como uma transação comercial. O amor amor não apita coisíssima alguma. Os pais e irmãos repassam à família do noivo o tradicional dote (bens pagos pela família da noiva à família do futuro marido). É exatamente a existência de tal dote que torna um inferno a vida das pobres meninas, pois “Filhas no berço, dote no peito”, diz um provérbio russo, mas na Rússia não mais impera a cultura do dote.

Ter muitas filhas é preocupante para qualquer família, pois terá que se desdobrar para pagar os dotes. Muitas das famílias acabam sendo levadas à falência ou trabalhando a vida toda para pagar o prometido. Em muitos casos, não podendo os pais cumprir com o pagamento da dívida do dote, a filha é devolvida, para vergonha de todos. E pouco importa se o casal já vive junto há muito tempo ou que tenha um grande número de filhos. Por isso, é comum o casamento entre primos, para que o dote não caia na mão de uma família estranha, sem falar que  “A filha de um tio materno não custa nenhum dinheiro”. A Índia é um exemplo da cultura do famigerado “dote” e não da espiritualidade, como pensam alguns tolos.

 As famílias, por causa dos gastos que terão de arcar com as filhas, não é à toa que torçam para que venham sempre meninos, mesmo que a espécie humana sucumba, como deixa a entender o provérbio hebraico: “O mundo não existe sem machos e fêmeas, mas feliz é o pai que só tem filhos, e desgraçado é o pai que só tem filhas”. Um provérbio árabe, sem usar de salamaleques, diz na bucha qual é o ressentimento que os pais nutrem pelas mulheres: “Antes dois escorpiões do que duas filhas”, enquanto um brasileiro, bem mais debochado, diz que “Quem casa a filha, depenado fica”.

Quando uma família perde um filho, em tais culturas, há muito choro e consternação, enquanto a morte de uma filha traz alívio, como reza um provérbio libanês: “A morte de uma jovem é bem-vinda, ainda que seja núbil”, pois “Casa de moças, casa de ruínas”, confirma um provérbio árabe. Quanto menos filhas tiver uma família, menores serão seus gastos com o famigerado dote e, portanto, mais ela prosperará.

O fato é que, casada ou disponível, a vida da mulher é a mesma, pois “A mulher solteira obedece ao pai, a casada ao marido”, já que “As moças e a água vão para onde mandam”, e ponto final.

Fontes de pesquisa:
Nunca se case com uma mulher de pés grandes/ Mineke Schipper
Livro dos provérbios, ditados, ditos populares e anexins/ Ciça Alves Pinto
Provérbios e ditos populares/ Pe. Paschoal Rangel

Nota: Imagem copiada de blogdojequi.blogspot.com

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