Autoria de Lu Dias Carvalho
Mantém-te afastado do amor da mulher, pois sua beleza é lasciva e o seu corpo é um cemitério de luxúria. (Provérbio hebraico)
A história da mulher através dos tempos é de muita obediência acompanhada da depreciação de seu corpo físico. Ela foi sempre menosprezada por ter um corpo feminino e não masculino, a começar pelo fato de “não ter cabeça”, ou melhor, por essa parte de seu corpo só servir para transportar peso: lenha, água, gamelas com produtos agrícolas, entre outras coisas, enquanto o macho do passado seguia na frente, apreciando a paisagem, sem se importar com a mula descadeirada que seguia atrás. É possível encontrar uma série de provérbios que atestam isso. E mais triste é saber que, em pleno século XXI, muitas mulheres continuam como mulas de carga em várias partes do mundo, subjugadas pela vontade masculina.
Nas culturas em que a distância entre macho e fêmea humanos é acentuada, o corpo feminino ainda é visto como fonte de pecado, tendo o homem que ser muito previdente para não se deixar seduzir pela luxúria que dali emana. É por isso que, principalmente nas sociedades guiadas por extremistas religiosos, a mulher é obrigada a ocultar seu corpo, para que não venha a perturbar o espírito masculino, despertando-lhe o desejo, pois toda a fonte do mal está nela, que é sempre cheia de astúcia e pecaminosidade. Poderosa, não?
O engraçado nesta farsa é que a mulher, se seguir direitinho as leis do macho, ganhará a salvação. Se for dedicada e cumprir o papel de esposa obediente e temente a seu companheiro, poderá se tornar o corpo do marido, embora ele seja sempre a cabeça, pois é quem tem o cérebro, a parte mais importante da estrutura humana. O corpo é visto como inferior, porque é responsável pelas emoções e pelos impulsos não controláveis, enquanto a cabeça é superior, pois nela está a mente, a razão, a massa cinzenta, a inteligência. A mulher, coitada, não possui nada disso – reza a cultura machista. Mesmo o Cristianismo reza que o homem é a cabeça da família, alimentando o ego do machismo. O Budismo é talvez a religião mais liberal para com as mulheres.
Diz um provérbio holandês que “Uma mulher não tem cabeça”, ou seja, ela não deve ter ideias próprias e, tampouco, vontades, pois isso é de competência do marido, ser supremo, responsável por todas as decisões da família. Para que seja considerada boa e digna de ser elogiada, a fêmea humana tem que se lembrar de que é acéfala, mula sem cabeça. Coitada! A obediência é que a torna uma companheira perfeita. Tanto é que a jovem que se julga dona de suas ações, e que só faz o que bem quer, está fadada a ficar solteira para sempre, uma vez que “Uma jovem com vontade própria nunca se casará”. Trocando em miúdos, deverá sempre ser amestrada pelo homem.
Uma mulher virtuosa cobre sempre a cabeça, pois só assim será respeitada. A perniciosa, fonte de todo o mal, deve sempre abaixar os olhos diante de um homem, para não espalhar o desejo e a confusão, pois “A mulher é como uma cebola, deve sempre curvar a cabeça”. Se o homem é a cabeça, como poderia a pretensiosa também ambicionar tal posição uma vez que “Não pode haver duas cabeças sob o mesmo chapéu”? Ainda bem que o uso de chapéu entrou em desuso.
O engraçado é que a mulher é também considerada o pescoço que segura a cabeça, logo, poderá girá-la para onde bem entender. Por isso, o provérbio russo diz com muita sensatez que “O marido é a cabeça, a mulher é o pescoço; ela pode orientá-lo para onde quiser”. Hum! E um provérbio inglês confirma que “O homem é a cabeça, mas é a mulher que a gira”. Ainda bem que caíram na real!
Calminha, meu caro leitor. A mulher não deve se sentir vingada com o afago dos dois provérbios acima, pois, para acabar com a possibilidade de que ela possa ficar girando muito o pescoço, um provérbio inglês ensina que “Às jovens que assobiam e às galinhas que cacarejam convém cortar-lhes o pescoço”. E um provérbio alemão acaba por colocar a mulher no lugar que o machão julga ser o dela, ao dizer que “A mulher pode mandar no coração e na panela, mas o corpo e a cabeça pertencem ao homem”. Quanta petulância!
Fonte de pesquisa:
Nunca se case com uma mulher de pés grandes/ Mineke Schipper
Provérbios e ditos populares/ Pe. Paschoal Rangel
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