Autoria de Lu Dias Carvalho
“Quando estiverdes alegres, olhai no fundo de vosso coração, e achareis que o que vos deu tristeza é aquilo mesmo que vos está dando alegria.” (Gibran Kahlil Gibran)
“E quando estiverdes tristes, olhai novamente no vosso coração e vereis que, na verdade, estais chorando por aquilo mesmo que constituiu vosso deleite. Alguns dentre vós dizeis: ‘A alegria é maior que a tristeza’, e outros dizem: ‘Não, a tristeza é maior.” (Gibran Kahlil Gibran)
“Eu, porém, vos digo que elas são inseparáveis. Vêm sempre juntas; e quando uma está sentada à vossa mesa, lembrai-vos de que a outra dorme em vossa cama.” (Gibran Kahlil Gibran)
Temos a impressão de que nascemos para ser felizes e ponto final. E ainda contamos com os vendedores de felicidade fácil, que apregoam tal ideia pelos quatros cantos do planeta, quando na verdade, a alegria (prazer) e a tristeza (dor) são a expressão mais verdadeira de nossa vida orgânica e afetiva, pois os estados contínuos acabariam por nos tornar insensíveis, indiferentes. Portanto, o prazer e a dor são os freios usados pela natureza, para nos manter sob seu controle, sob a sua batuta. É um lembrete de que não podemos tudo e tampouco somos deuses do mitológico Olimpo.
O prazer e a dor são indicativos da existência da sensibilidade da qual tanto dependemos, para dar continuidade à vida na Terra e por recebermos o nome de “humanos”. É a impressionabilidade que impede o desaparecimento de nossa espécie. Se não tivéssemos sensibilidade, seríamos pessoas robotizadas, indiferentes tanto ao prazer quanto à dor, em suma, ao mundo. E nós bem sabemos quanto mal a indiferença pode trazer à vida, pois basta olharmos para certos exemplares que carregam o selo de “humanos”, mas que na verdade são cruelmente despidos de sensibilidade para com os outros homens, para com os animais e para com o planeta Terra como um todo.
Não há escolha entre tristeza e alegria. Ninguém pode optar apenas por uma ou por outra. É uma compra casada, que já está embutida no nosso pacote de nascimento, sem choro e nem vela. O melhor mesmo é aceitar as regras do jogo e procurar viver da maneira mais sábia possível, um dia de cada vez. Negar a existência do prazer ou da dor não muda em nada a nossa passagem pelo mundo, mas muda, sim, a maneira como encaramos tais sentimentos. É a sabedoria de viver que nos leva ao equilíbrio, pois todo excesso é prejudicial. O inesquecível Gibran Kahlil Gibran (1883-1931), famoso escritor e poeta libanês, sempre exortou o homem a buscar o equilíbrio, para ter corpo e mente sadios.
Segundo os filósofos, dentre todas as dores conhecidas pela humanidade, nenhuma é mais cruel do que a fome, pois transforma o ser humano num mulambo, roubando-lhe o caráter, a força, a dignidade e o amor-próprio. Os países miseráveis conhecem a crueza de tal verdade, que vem sempre acompanhada pela ignorância, gerida, principalmente, pela avidez de seus governantes e por um rol insano de superstições. Por sua vez, o amor, dentre as formas de prazer é, sem dúvida, a mais ardorosamente desejada. Quem não quer ser amado? Embora o ideal seria que nos preocupássemos mais em dar amor e menos em receber.
Não se pode precisar, com exatidão, quando o amor nasceu no seio da humanidade, mas alguns autores defendem que a ausência de intervalo entre desejo e satisfação impedia, nos tempos longevos, o surgimento do amor romântico, que só começa a existir nas civilizações mais elevadas, em que a moral coloca barreiras à satisfação do desejo imediato. Mais uma prova de que os estados contínuos acabam por nos tornar insensíveis, indiferentes.
Para o bem da espécie humana, a dor e o prazer são intermitentes, o que acaba por trazer consolação no primeiro caso e esperança no segundo. São como dois irmãos siameses, sendo que um depende do outro. Simbióticos. Sem o conhecimento de um, não se pode avaliar o efeito do outro. A alegria e a tristeza mudam de lugar com mais sagacidade de que podemos imaginar. Muitas vezes, uma dá origem à outra, como percebemos nos versos de Gibran (na introdução ao texto). Quando agem em consonância, dão luz o desejo, na vontade de alcançar uma e eliminar a outra, buscando o equilíbrio na arte de viver o melhor possível. Não temos outra saída, se quisermos compreender e aceitar os paradoxos de nossa breve existência.
Compreenda o leitor que o sofrimento é aqui mostrado sob a veste da tristeza, assim como o prazer é visto sob a ótica da alegria. Ambos se referem aos fatos do cotidiano, à nossa vida normal de humanos. Não me refiro às guerras, às crueldades perpetradas por tiranos e aos desatinos da mãe natureza. Tampouco me refiro às bacanais, ao uso de drogas proibidas ou à vida dos nababos.
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