Arquivo da categoria: Arte Cristã

Pinturas relativas ao cristianismo, abrangendo os mais diferentes pintores, estilos e épocas.

Saltério – UNÇÃO DO CORPO DE CRISTO E…

 Autoria de Lu Dias Carvalho

                                                     (Clique na imagem para ampliá-la.)

O saltério intitulado Unção do Corpo de Cristo e as Três Marias no Túmulo Vazio é obra de um mestre francês e remete a cerca de 1213 (século XIII), tendo sido encomendado para o uso particular da Rainha Ingeborg da Dinamarca, possivelmente por seu marido Philippe August. Foi criado na Oficina do Saltério de Ingeborg.

O Prof. Pierre Santos explica que “O pergaminho substituiu o papiro no qual se registraram os primeiros códices, porque era mais duradouro. Nos saltérios eram também registrados cânticos do Novo e do Antigo Testamento, Ladainhas de Todos os Santos e Ladainhas gerais, músicas devocionais de reza coletiva, etc. Os monges copistas foram se especializando cada vez mais, a ponto de criarem, para valorização dos textos, riquíssimas iluminuras ornamentais e ilustrativas, a saber, que todas as páginas passaram a ser iluminadas até com sofisticação, havendo desenhos que atingiram o nível de sublimes obras de arte. Quando incluso numa bíblia, o saltério ocupava sempre a parte central, significando o momento de descanso, relaxamento e enlevo, tal a sutileza dos salmos, em face do caráter sisudo do texto bíblico”.

O saltério em estudo trata-se do mais importante manuscrito iluminado francês do século XIII a chegar até nós. O mestre em sua obra segue a tradição bizantina. Faz uso na maioria das vezes de cores sóbrias, peculiares à arte oriental. Para diminuir a severidade das formas, ele faz uma imitação dos modelos clássicos, empregando drapeados (pregas) mais suaves nas vestimentas.

O saltério apresenta duas cenas. Na superior o corpo de Cristo está sendo ungido, ou seja, preparado para o sepultamento. Na cena inferior, as Três Marias – nome dado às três mulheres de nome Maria presentes no túmulo de Jesus, ao lado de sua mãe Maria, sendo identificadas como: Maria de Cleofas, Maria Madalena e Maria Salomé (mãe de Tiago) – encontram-se em frente ao túmulo vazio de Cristo. Diante delas está um anjo apontando para o sepulcro vazio.

O artista apresentas as figuras numa postura de tranquilidade e dignidade, embora se encontrem em duas situações muito dramáticas. Apesar de padronizadas, as figuras sobrepõem-se aos detalhes secundários da obra. Três soldados romanos dormindo são vistos debaixo do túmulo vazio, o que significa que eles nada presenciaram. O estilo adotado está de acordo com as preferências da corte real francesa à época.

Ficha técnica
Ano: c.1213
Técnica: manuscrito iluminado
Dimensões: 30,4 cm x 20,4 cm
Localização: Musée Condé

Fonte de pesquisa
Obras-primas da pintura ocidental/ Taschen

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SALTÉRIO DA RAINHA MARY

 Autoria de Lu Dias Carvalho

A obra acima é uma página do saltério intitulado Saltério da Rainha Mary criada por um artista desconhecido em c. 1310. Na Idade Média um saltério era também um livro de orações, conhecido como “Livro de Horas”. Era muito propagado e tinha por objetivo ensinar as pessoas a ler, no entanto, era de posse de leigos ricos. Segundo o Prof. Pierre Santos (crítico de Arte):

“Nos saltérios eram também registrados cânticos do Novo e do Antigo Testamento, Ladainhas de Todos os Santos e Ladainhas gerais, músicas devocionais de reza coletiva, etc. Os monges copistas foram se especializando cada vez mais, a ponto de criarem, para valorização dos textos, riquíssimas iluminuras ornamentais e ilustrativas que todas as páginas passaram a ser iluminadas até com sofisticação, havendo desenhos que atingiram o nível de sublimes obras de arte. Quando incluso numa bíblia, o saltério ocupava sempre a parte central, significando o momento de descanso, relaxamento e enlevo, tal a sutileza dos salmos em face do caráter sisudo do texto bíblico”.

O saltério em questão apresenta uma cena passada no Templo onde Jesus Cristo explica aos sábios escribas, alguns pontos da doutrina cristã. Ele se encontra sentado sobre uma pilastra. Usa um gesto próprio dos artistas medievais ao representar um professor. À sua frente estão os doutores da lei com as mãos erguidas, estupefatos com a sabedoria do menino e também cheios de admiração. Atrás de Jesus estão seus pais, Maria e José que se entreolham encantados com o saber do filho. Maria traz um livro na mão esquerda (simbolizando sua sabedoria), enquanto José é representado bem idoso, segurando um cajado. Nos nichos à esquerda e à direita são representados seis profetas.

O modo como a história está sendo contada é meio irreal. É provável que o artista ainda não tivesse tomado ciência das inovações do pintor italiano Giotto di Bondone, responsável por mudar totalmente uma cena. Vejamos abaixo algumas inconsistências na obra acima.

  • A passagem sobre Cristo no Templo, segundo a narrativa bíblica, aconteceu quando ele tinha 12 anos de idade, porém aqui ele se parece com um bebê, se comparado às demais figuras.
  • Não existe a ideia de espaço entre os personagens presentes na cena.
  • As cabeças masculinas obedecem a um mesmo padrão de desenho (bocas caídas, sobrancelhas arqueadas e cabelos e barbas encaracolados).
  • Uma segunda cena foi acrescentada à parte inferior da página, sem nenhuma relação com a narrativa bíblica. Trata-se de um tema relativo à vida cotidiana da época — a caça aos patos usando um falcão (falconismo).

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

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PLANTAS DA SEMANA SANTA

Autoria de Luiz Cruz

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O roxo invadiu a Serra de São José. Os cristãos encontram-se na Quaresma e as quaresmeiras explodem em flores. São diversos tons de roxo, tamanhos e formas curiosas. Partindo do roxo purpurado escuro, há uma variedade de cores para encher os olhos e a alma. Tons rosa, vermelho, branco, amarelo e até o laranja forte da Cambessedesia tiradentensis, planta endêmica criticamente ameaçada de extinção. A combinação é perfeita, enquanto os altares das igrejas setecentistas são encobertos por tecidos roxos do tempo quaresmal, a serra também se colore com o roxo dessas flores.

Na Quarta-feira de Cinzas é realizada a Missa de Cinzas e os fiéis cristãos vão à igreja para receber a benção e a cruz de cinzas da queima das folhas do coqueirinho, conhecido também como aricanga – Geonoma schottiana. Essa planta ocorria por toda serra e ficou bastante comprometida pelo uso indiscriminado ao longo dos anos. Atualmente são encontrados exemplares em alguns de seus pontos estratégicos e de difícil acesso. O coqueirinho é utilizado na Procissão de Domingo de Ramos. A igreja de onde sai a procissão é toda enfeitada com suas folhas e troncos e a igreja que a recebe também. Cada participante da procissão leva uma folha da planta. Após a cerimônia de saudação a Cristo entrando em Jerusalém, as folhas de aricanga são levadas para casa, onde ficam atrás de quadros de imagens sacras para proteger os lares e são também utilizadas para abrandar tempestades, trovoadas, raios e ventanias fortes. Elas são queimadas e Santa Bárbara é invocada para acalmar o tempo ruim. Uma parte delas fica guardada em um dos cômodos da Matriz de Santo Antônio até o ano seguinte, quando são queimadas e suas cinzas utilizadas na missa de Quarta-feira de Cinzas. Os fiéis são abençoados e recebem a cruz de cinzas na testa. Nos últimos anos houve exagero no uso do coqueirinho, além das folhas, sendo que muitos pés foram cortados. Recentemente, a aricanga, utilizada nas cerimônias de Tiradentes, é colhida na região de Emboabas, distrito de São João del-Rei.

Há pouco tempo, buscar rosmaninho (Hyptis carpinofolia) para as Festas de Passos e para a Semana Santa era um programa imperdível para a meninada de Tiradentes. Fazíamos isso todos os anos, e ainda fazemos este programa com nossos filhos, para manter a tradição. O rosmaninho, que se alastra também em solos pobres e áreas de pastagens, dá um toque mágico no período quaresmal. Suas folhas são colocadas no piso das igrejas, dentro das Capelas de Passos e são atiradas ao chão por onde as procissões passam. Seu perfume deixa-nos mais leves e remete-nos ao tempo da paixão de Cristo. A arnica da serra (Lychnophora passerina) também é uma planta essencial nas cerimônias sacras. Suas flores têm tons roxos e são colocadas nos altares e andores. Os fiéis levam para casa seus galhos e fazem garrafadas com álcool, utilizadas para limpeza de ferimentos, picadas de insetos e contusões – trata-se de um antiinflamatório.

A orquídea Cattleya loddigesii é uma planta que, à primeira vista, faz-nos lembrar a Quaresma. Sua bela e delicada flor em roxo claro é utilizada para enfeitar o andor de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, que percorre as tricentenárias ruas de Tiradentes, perfumadas pelo rosmaninho e ao som fúnebre da Orquestra e Banda Ramalho. A imagem de roca que fica em seu altar lateral da Matriz de Santo Antônio é montada para as procissões do Depósito de Passos e a do Encontro. Após todos os preparos, a imagem recebe em sua mão uma palma feita com a Cattleya loddigesii. Essa é uma planta praticamente extinta na área. As flores, utilizadas para a palma do Senhor dos Passos, são doadas por pessoas que as cultivam especialmente com este objetivo. O pesquisador Ruy José Volka Alves realizou ampla pesquisa sobre essas espécies e publicou o Guia de Campo das Orquídeas da Serra de São José, obra fundamental para se entender a importância das orquidáceas.

O manjericão e o alecrim, cultivados nos quintais, também enfeitam e perfumam os andores de Nossa Senhora das Dores, do Senhor dos Passos e o esquife com a imagem do Senhor Morto, que percorre as ruas em procissão, na Sexta-feira da Paixão, após a cerimônia do Descendimento da Cruz. Essas plantas são amplamente utilizadas em Portugal. Herdamos dos portugueses o uso de tais plantas aromáticas nas cerimônias religiosas.

As plantas da serra contribuem muito para que as cerimônias sacras da Semana Santa de Tiradentes tenham um caráter especial, que envolve nossos sentidos, especialmente o olfato e a visão. Não podemos nos esquecer dos repiques e dobrados fúnebres dos sinos que ecoam pela serra afora. Mas, para que possamos manter este uso tradicional tão antigo e arraigado em nossas memórias, precisamos preservar a Serra de São José, que é um monumento natural e histórico. Além do comércio ilegal, os incêndios florestais e o amplo uso da área como pastagem de gado contribuem para o comprometimento de sua flora e, consequentemente, de sua fauna. Destaque-se que a Serra de São José figura no mapa de “Áreas Prioritárias para Conservação da Flora de Minas Gerais”, da Fundação Biodiversitas, como área de “Importância Biológica Extrema”.

Fotos: detalhes do andor da Procissão de Depósito de Passos e da Procissão do Encontro.

Referência: CRUZ, Luiz Antonio da. Recortes de Memórias. Tiradentes: IHGT, 2015.

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William Blake – A NATIVIDADE

Autoria de Lu Dias Carvalho

A Natividade, obra do pintor William Blake, é sem dúvida uma das pinturas mais diferentes dentre as conhecidas com a mesma temática. A cena do nascimento de Jesus acontece num estábulo, com a presença de Maria, José, Isabel, João Batista e de dois bois.

A Virgem encontra-se sentada, aparentemente desfalecida, tendo o corpo seguro pelos braços de seu esposo José que a ampara com cuidado, para que possa parir o fruto de seu ventre. Ao fundo, uma pequena janela deixa entrar uma luz dourada, iluminando a cena. À direita, atrás das costas de Isabel, vê-se – ainda que estilizada – a estrebaria com seus animais. Os chifres mostram-se bem delineados.

À frente de Maria está a sua prima Isabel, esposa de Zacarias, com seu filho João Batista no colo.  Isabel abre os braços para receber o Salvador que parece voar em sua direção. Jesus não parece nascer do ventre de Maria, mas descer de uma outra dimensão, atraído pelos braços de Isabel. A sua divindade é assim apresentada pelo artista.

Ao pintar sua natividade, o pintor não quis mostrar uma visão naturalista, mas simplesmente trazer uma concepção simbólica do nascimento de Jesus. William Blake foi um poeta e pintor. Era seguidor de doutrinas esotéricas, onde se misturavam as tradições judaicas, gregas e cristãs.

Ficha técnica:
Ano: c. 1799
Técnica: têmpera sobre cobre
Dimensões: 27 x 38,2 cm
Localização: Philadelfia Museum of Art, Filadélfia, EUA.

Fonte de pesquisa:
Cristo na arte/ Manuel Jover

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OS PRESÉPIOS E O NATAL DE OUTRORA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Nada me encantava mais do que passar o Natal na cidadezinha onde viviam meus avós. Mal entrava dezembro já começava a azucrinar meus pais para que me dessem a data exata de nossa viagem. Se a demora era muita, implorava para que me deixassem ir à frente, coisa que nunca acontecia, mas que não me custava tentar. Não pensem os leitores que o meu desassossego devia-se à comilança que se instalava naquele mês, ou por ficar encarapitada com os primos nas árvores frutíferas do pomar ou à beira do forno de biscoitos, provando cada leva que saía fumegando, ou ainda em volta dos tachos de cobre, borbulhantes de doces  das mais diferentes qualidades. O meu encantamento estava bem além do paladar.

A minha fascinação desmedida era pelos presépios. Começava desde a hora em que se preparava o material até o momento em que eram armados. Havia um ritual próprio:

  • Primeiro, preparavam-se as rochas: folhas de jornal eram dispersas pelo chão e sobre elas era passado um grude feito de farinha de mandioca..
  • Imediatamente vinham com o carvão e a malacacheta (mica) moídos e espalhados sobre as folhas. Algumas pessoas, em vez de carvão, costumavam usar borra de café. A diferença ficava apenas na cor das rochas: com carvão ficavam bem pretinhas, com borra de café ficavam ocras. O mais importante era a malacacheta que dava o toque final às supostas pedras que faiscavam como se verdadeiras fossem.
  • As folhas eram colocadas ao sol. Devia-se ter o cuidado de revirá-las de um lado para o outro, para que ficassem bem secas e resistentes.
  • Tendo tudo preparado, vinha a armação do presépio propriamente dita. A sustentação era feita com caixotes ou caixas de papelão.
  • Em volta e subindo pelas paredes (normalmente o presépio era feito tomando-se o ângulo entre duas paredes) vinham as rochas que eram feitas afofando – com a mão fechada por dentro – as folhas de jornal pintadas de modo a tomar o formato de pedras.
  • As pedras simuladas eram colocadas – uma a uma – bem juntinhas, com pregos ocultos, de modo que se tinha a impressão de estar diante de um rochedo.
  • No ponto mais alto era instalada a estrela Dalva que tinha por finalidade guiar os três reis magos: Belchior, Baltazar e Gaspar.

A segunda parte do presépio era a mais primorosa: arrumar o local da gruta onde nasceria o Menino Jesus.

  • Cerca de 10 dias antes o arroz já tinha sido plantado em pequenas vasilhas de jeito que, ao armar o presépio, ele já se encontrava grandinho e verdejante. Os pequeninos vasos eram belamente organizados entre as rochas, como se o arroz ali tivesse nascido.
  • Bacias de musgo também enfeitavam a gruta.
  • Areia fininha e branca era colocada em toda a entrada.
  • No meio da gruta, punha-se uma vasilha com água e, dentro dela, um espelho dando a impressão de um lago.
  • Dentro do lago eram colocados sapos, peixes, cisnes, patos e outros bichinhos aquáticos.
  • Fora, na areia, espalhavam-se bois, vacas, carneiros, pombinhos e tudo o mais que fosse bicho. Alguns presépios tinham até dinossauros.

A manjedoura não podia faltar no presépio, sendo uma peça de fundamental importância. Em volta dela – além dos animaizinhos – havia imagens de Maria, José, os Reis Magos e todos os santos que tivessem na casa. Alguns presépios eram bem ecumênicos, pois traziam Iemanjá, Buda, Shiva, Super-Homem e outros mais. O Menino Jesus só era colocado depois da Missa do Galo, ou seja, depois da meia-noite, quando a família reunida rezava o terço e fechava a cerimônia cantando Noite Feliz.

Durante o período em que os presépios ficavam montados, grupos da comunidade saíam tocando e cantando de casa em casa, visitando o Menino Jesus. Após a cantoria, saudando o real dono da festa, havia um gostoso café, acompanhado de queijo, requeijão, biscoitos variados, bolos, broas, queijadinhas, beijus e pão de queijo. Para os chegados aos aperitivos, não faltava uma branquinha, assim como quinados e licores. Da casa mais modesta à mais rica, todos eram recebidos com imensa alegria, como se formassem uma só família. Também é impossível esquecer-me das pastorinhas que animavam as noites de dezembro e início de janeiro, não apenas na cidade, mas nas roças e sítios.

Quando o desmanche do presépio aproximava-se, os reis magos eram colocados de frente para a saída da gruta, ou seja, de costas para a manjedoura. Para minha tristeza, dia 6 de janeiro era o prazo para que todo aquele encantamento se evaporasse e a vida voltasse ao normal. Restava-me o consolo de que outros natais viriam pela frente. Mas era preciso esperar muito tempo. A tristeza só não era maior, porque começavam os preparativos para o Ano Novo, embora eu me revoltasse com a morte de alguns dos animaizinhos representados nos presépios. Minha cabeça de criança não conseguia entender, como podiam matar os bichinhos do Menino Jesus. Achava que Ele ficava muito triste com as pessoas. E ainda acho! Em protesto, passei a não comer carne.

Nota:
Agradeço a participação do meu tio Antônio Avelino e da minha tia Davina que me ajudaram a reviver estas lembranças, ao detalharem todo o processo do Natal de tempos idos.

Nota: Cerâmica do Vale do Jequitinhonha

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DOCE DE FIGO NO NATAL

Autoria de Luiz Cruz

 

Os preparativos para o Natal são muitos e um deles é fazer o famoso doce de figo, que não pode faltar na mesa das fartas ceias natalinas mineiras. É muito saboroso, mas também trabalhoso para se fazer. Trata-se de uma verdadeira obra de arte. Vale a pena todo o trabalho que se tem para fazê-lo.

Vamos à receita da tiradentina Dona Nica, moradora da Rua Direita, que acabou de completar os seus 90 anos, e ao longo de sua vida fez inúmeros tachos de doce de figo para a família numerosa se deliciar:

– vestir luvas para colher os figos (deve ter cuidado, pois o leite do figo pode causar queimadura);
– fazer um corte no figo;
– limpar o seu talo ajuda a tirar o leite;
– preparar o tacho de cobre, que deve ser lavado com sal e limão capeta;
– colocar os figos em um saco plástico grosso e esfregar com sal, para tirar os pelos, e em seguida lavar bem;
– colocar uma trouxinha de cinzas no fundo do tacho, para ajudar a tirar os pelos do figo;
– colocar para cozinhar, coberto com pano branco, deixar de um dia para o outro e trocar a água, pelo menos, três vezes ao dia, durante três dias;
– cobrir com folhas da figueira para não encroar e realçar o sabor;
– experimentar com um garfo o cozimento, se estiver macio escorrer a água toda;
– fazer uma calda fria de açúcar e adicionar;
– levar ao fogo novamente, adicionar cravo e canela a gosto;
– deixar ferver até chegar o ponto ideal de cozimento.

Servir gelado, acompanhado com o saboroso queijo mineiro.

  • Chico Doceiro, um dos mais tradicionais doceiros de Tiradentes, prepara também o figo cristalizado e o figo recheado com doce de leite cremoso. Sua loja “Chico Doceiro” localiza-se na Rua Francisco Pereira de Morais, nº 74.
  • Rute Ramalho é doceira e em sua loja “Doces Caseiros e Artesanatos”, na Rua do Chafariz, 26, no Centro Histórico, oferece o delicioso doce de figo em calda e cristalizado.
  • Vicente Muniz, filho da antiga doceira Florinda Muniz, aposentou-se e atualmente dedica-se a fazer doces e um deles é o de figo. Vicente montou um carrinho de doces e circula pela cidade vendendo seus deliciosos doces.

Nota: Fotografias do autor.

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