Arquivo da categoria: Literatura de Cordel

Gênero literário popular

PENITÊNCIA PERIGOSA

Autoria de Suedro Potiele

banan.

Certa vez um circense,
Palhaço muito engraçado,
Foi à igreja para avisar
Ao sacerdote Romualdo
Que um circo ali pertinho
Estava prestes a ser armado
E que, por ser inofensivo,
O padre não tinha motivo
Pra ficar preocupado.

Pra não perder a chance
De falar com o vigário,
O palhaço que do circo
Também era proprietário,
Quando viu que o clérigo
Atendia nesse horário
Seus fiéis em confissão
Ajoelhou-se ali no chão
Diante do confessionário.

Após ouvir desse palhaço
Que uma das brincadeiras
Que ele mais executava
Era plantar bananeira,
O padre bem curioso
Quis saber de que maneira
Esse tipo de palhaçada
Era, no circo, realizada
Ante uma plateia inteira.

Por ser muito brincalhão
O palhaço imediatamente,
Embora ele estivesse
Num sagrado ambiente,
Pra explicar o que no circo
Ele fazia frequentemente,
Por incrível que pareça
Ficou de ponta cabeça
Aos olhares dos presentes.

Neste instante ao depararem
Com a tal cena descabida
Duas velhinhas, na igreja,
Caminharam pra saída
Enquanto uma dizia
Sobremodo espavorida:
– Vamos embora, Generosa.
A penitência tá perigosa
E nós viemos desprevenidas.

Nota: desenho do autor.

CIRURGIÃO DISTRAÍDO

Autoria de Suedro Potiele

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Encontrava-se no hospital
Sobre a mesa de operação,
Um português cuja perna
Atacada de infecção
Iria, por conseguinte,
Sofrer uma amputação.

Alguns minutos depois
Da anestesia aplicada,
A intervenção cirúrgica
Foi logo iniciada,
E o português desde então
Ficou dando risada.

Assim que a perna dele
Acabou de ser amputada,
O médico lhe perguntou
Por que ele dava risada.
O português respondeu:
– Por causa da sua mancada.
O senhor ficou distraído
E cortou minha perna errada.

Nota: ilustração do autor
Extraído do livro: Cordel Engraçado
Contato com o autor:
Celular: 8711-3714

O FAZENDEIRO E O ÍNDIO

Autoria de Suedro Potiele

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Certa vez um fazendeiro
Contratou como empregado
Um índio muito dócil
Porém não modernizado,
Até que um dia, para curtir
A folga de um feriado,
O fazendeiro foi à cidade
Do nativo acompanhado.

Na cidade, os dois chegando,
O fazendeiro se sentou
No banco de uma praça
E pro índio assim falou:
Vai buscar água pra mim
Porque com este calor
Minha goela tá tão seca
Que até se esturricou.

O índio, obediente
Apesar de ignorante,
Munido de um caneco
Lá se foi no mesmo instante
À procura de água fresca
Até que, após andar bastante,
Apenas por intuição
Veio parar num restaurante.

O índio neste recinto
Não sabia o que fazer
Até que um dos garçons
Resolveu lhe atender
Perguntando gentilmente:
O que você vai querer
Água fresca – disse o índio –
Que é pro meu patrão beber.

Uma vez que vivia
Ocupado o tempo inteiro
O garçom só lhe indicou
A direção do banheiro
E o nativo agradecendo
Foi mais do que ligeiro
Apanhar a dita cuja
Que levou ao fazendeiro.

Após salvar o líquido
Sem ao menos desconfiar
Que de onde ele viera
Não convém nem relatar,
O homem ainda sedento
Não hesitou em ordenar
Que o índio fosse outra vez
Da mesma água, buscar.

Só que o índio desta vez
Apenas foi e retrocedeu.
Vendo o índio sem a água
O patrão o repreendeu:
Por que não trouxe a água?
O que foi que aconteceu?
Ao que o índio esbravejando,
Deste jeito respondeu:

Patrão, me desculpe,
Mas tô aqui pelo pescoço
Porque aqui na cidade
Tem cada sujeito grosso.
Eu não pude apanhar a água
Foi por causa de um moço.
O mal-educado tava
Sentado em cima do poço.

Nota: ilustração do autor
Extraído do livro: Cordel Engraçado
Contato com o autor:
Celular: 8711-3714

O MARIDO DE R$1,99 (II)

Autoria de Janduhi Dantas

O MARIDO DE R$ 1,99

Pegou uma cartolina
que ela havia escondido
escreveu nervosamente
com a raiva do bandido:
“Por um e noventa e nove
estou vendendo o marido”.

Assim mostrou ter no sangue
sangue de Leila Diniz
Pagu, Maria Bonita
de Anayde Beiriz
(de brasileiras de fibra)
de Margarida e Elis!

Pegou o marido bêbado
de jeito, pela abertura
da direção do mercado
ela saiu à procura
de vender o seu marido
ia com muita secura!

Ficou na feira de Patos
no mais horrendo lugar
(no famoso C.T.I.)
e começou a gritar:
“Tô vendendo o meu marido
quem de vocês quer comprar?”

Umas bêbadas que estavam
estiradas pelo chão
despertaram com os gritos
e uma do cabelão
perguntou a Dona Côca:
“Qual o preço do gatão?”

“É um e noventa e nove
não está vendo o cartaz?”
Dona Côca respondeu
e a bêbada disse: “O rapaz
tem uma cara simpática
acho até que vale mais”.

Damião estava “quieto”
e de ressaca passado
com cordas nos pés e braços
numa cadeira amarrado
também tinha um esparadrapo
em sua boca colado.

Começou a chegar gente
se formou a multidão
em volta de Dona Côca
e o marido Damião
quando deu fé, logo, logo
encostou o camburão.

Nisso um cabo da polícia
do camburão foi descendo
e perguntando abusado:
“Que é que tá acontecendo?”
Alguém disse: “Esta mulher
o marido está vendendo”.

Do meio do povo disse
um velho em tom de chacota:
“Esse carneiro já tem
uma cara de meiota
não tem mulher que dê nele
de dois reais uma nota”.

E, de fato, ô cabra feio
desalinhado e barbudo
fedendo a cana e a cigarro
com um jeito carrancudo
banguelo, um pouco careca
pra completar barrigudo.

Nisso chegou uma velha
que vinha com todo o gás
e disse para si mesma
depois de ler o cartaz
“Hoje eu tiro o atrasado
com esse lindo rapaz!”.

Disse a velha: “Francamente!
Eu estou achando pouco!
Por 1 e 99?!
Tome dois, nem quero o troco!
Deixe-me levar pra casa
esse meu Chico Cuoco!”.

Saiu a velha enxerida
de braços com Damião
a polícia prontamente
dispersou a multidão
e Côca tirou por fim
um peso do coração.

Retormou Côca feliz
pra casa entoando hinos
a partir daquele dia
teria novos destinos…
Com os dois reias da venda
comprou de pão pros meninos!

FIM

O MARIDO DE R$1,99 (I)

Autoria de Janduhi Dantas

O MARIDO DE R$ 1,99

Hoje em dia, meus amigos
os direitos são iguais
tudo o que faz o marmanjo
hoje a mulher também faz
se o homem se abestalhar
a mulher bota pra trás.

Acabou-se aquele tempo
em que a mulher com presteza
se fazia para o homem
artigo de cama e mesa
a mulher se fez mais forte
mantendo a delicadeza.

Não é mais “mulher de Atenas”
nem “Amélia” de ninguém
eu mesmo sempre entendi
que a mulher direito tem
de sempre só ser tratada
por “meu amor” e “meu bem”.

Hoje o trabalho de casa
meio a meio é dividido
para ajudar a mulher
homem não faz alarido
quando a mulher lava a louça
quem enxuga é o marido!

Também na sociedade
é outra a situação
a mulher hoje já faz
tudo o que faz o machão
há mulher que até dirige
trem, trator e caminhão.

Esse fato todo mundo
já deu pra assimilar
a mulher hoje já pôde
seu espaço conquistar
quem não concorda com isso
é muito raro encontrar.

Entretanto ainda existe
caso de exploração
o salário da mulher
é de chamar atenção
bem menor que o do homem
fazendo a mesma função.

Também tem cabra safado
que não muda o pensamento
que não respeita a mulher
que não honra o casamento
que a vida de pleibói
não esquece um só momento.

Era assim que Damião
(o ex-marido de Côca)
queria viver: na cana
sem tirar copo da boca
enquanto sua mulher
em casa feito uma louca…

… cuidando de três meninos
lavando roupa e varrendo
feito uma negra-de-ferro
de fome o corpo tremendo
e o marido cachaceiro
pelos botequins bebendo.

Mas diz o velho ditado
que todo mal tem seu fim
e o fim do mal de Côca
um dia chegou enfim
foi quando Côca de estalo
pegou a pensar assim:

“Nessa vida que eu levo
eu não tô vendo futuro
eu me sinto navegando
em mar revolto e escuro
vou remar no meu barquinho
atrás de porto seguro.”

“Na próxima raiva que eu tenha
desse meu marido ruim
qualquer mal que me fizer
tomarei como estopim
e a triste casamento
eu vou decidir dar fim.”

Estava Côca pensando
na vida quando chegou
Damião morto de bêbado
(nem boa-noite falou
passava da meia-noite)
e na cama se atirou!

Dona Côca foi dormir
muito trise e revoltada
contudo tinha na mente
a sua ação planejada
pra dar novo rumo à vida
já estava preparada.

De manhã Côca acordou
com a braguilha pra trás
deu cinco murros na mesa
e gritou: “Ô Satanás
eu vou te vender na feira
vou já fazer um cartaz!”.

O APOSENTADO E SEU CASAMENTO COA CABRA (II)

Autoria de Janduhi Dantas

apoca

– Eu não temo a Sociedade
Protetora de Animais
pois um mal a Carmelita
de fazer não sou capaz
porém alguns evangélicos
não me têm deixado em paz.

Diz o velho: – Desse amor
nem um minuto me privo
e pra tanto estardalhaço
eu não enxergo motivo
afinal de contas, sou
só um caprinoafetivo!

Há dois anos que o velho
pela cabra é arreado
os quatro pneus e diz
com cara de apaixonado:
– Não vejo a hora de estar
com Carmelita casado.

– Mas o senhor não tem medo
de levar uma “chifrada”?
(um repórter quis saber)
e o velho disse: – Que nada!
se a cabrita me trair
eu mato e como ela assada!

– Sobre isso, a Carmelita
tenho dito o tempo inteiro
que é pra ela saber
respeitar seu companheiro
não quero vê-la saindo
com bode pai-de-chiqueiro.

O velhote aposentado
na sua louca paixão
procurou várias igrejas
mas nenhuma o casa não
foi quando um pastor lhe disse:
“Procure a Igreja do Cão”.

O velho seguiu à risca
o conselho do pastor:
foi a Toninho do Diabo
do Satã um seguidor
que tranquilamente disse:
“Eu lhe caso, sim senhor!”

– O senhor e a cabra formam
um par romântico perfeito
pode ficar sossegado
que o casório aqui é feito
pois o deus daqui tem chifres
nós não temos preconceito!

Pro dia 13 de outubro
tá o casório marcado
e o velhote quer seguir
um costume do passado:
ele vai ficar um mês
da sua noiva afastado.

O vestido para a noiva
é só o que tá faltando
costureira pra fazer
ainda estão procurando
um véu que o noivo lhe deu
a cabra acabou jantando!

O velho pro casamento
já convidou os vizinhos
será festa de arromba
com muitas frutas e vinhos
e Sabrina Sato e Bola
do Pânico são os padrinhos.

Ante Toninho do Diabo
que pastor da igreja é
de mão e pata bem dadas
estarão no altar com fé
o velho vai dizer “Sim”
a cabra vai dizer “Bééé”.

Em Jundiaí, cidade
do interior paulista
dia 13, à meia noite
na igreja do satanista
que também de filme trash
é diretor e artista.

Quando eu falei da matéria
sobre este matrimônio
a um velhinho evangélico
vizinho meu, Apolônio
disse ele: – Tá repreendido
velho filho do Demônio!

Eu aqui fiquei pensando:
“Que velho mais infeliz!”
mas depois lembrei da frase
que um meu amigo diz:
“Não importa de que jeito
importante é ser feliz!”.