David – A MORTE DE MARAT

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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David conseguiu fazer o quadro parecer heroico, sem deixar, no entanto, de respeitar detalhes concretos de um registro policial. (E.H. Gombrich)

Eu matei um homem para salvar cem mil vidas. (Charlotte Corday)

Esta obra contém algo ao mesmo tempo pungente e terno; uma alma alça voo no ar frio do aposento, entre estas paredes frias, em volta desta fria banheira funerária. (Charles Baudelaire)

O pintor francês Jacques-Louis David exibe com esmero sua genialidade, aliada às suas convicções políticas, na composição A Morte de Marat, tida como a maior pintura da arte ocidental, a retratar o martírio de um político.

O quadro de David é bastante sintético na exposição dos elementos. Tudo que ali se encontra é necessário e calculado, carregado de significado simbólico. Nada entra na tela por acaso, resultando numa composição forte e realística.

Jean Paul Marat encontrava-se entre os amigos de David, que tiveram uma morte violenta, durante a Revolução Francesa. Era um dos líderes da revolução. O pintor também se encontrava ameaçado, até que Napoleão Bonaparte tomou para si o comando da França.

Portador de uma doença de pele, Marat era obrigado a ficar na banheira, para que a água aliviasse seu desconforto. Para aliviar o mal-estar causado pela enfermidade, ele usava um pano embebido em vinagre na cabeça. Como ali passasse longas horas, adaptou o local para dar expedientes, colocando uma tábua sobre a banheira, que lhe servia de mesa. Ao lado, um velho caixote servia como uma escrivaninha improvisada. E foi nela que David deixou a sua dedicatória.

A fanática monarquista Charlotte Corday, em 13 de maio de 1793, apunhalou Marat dentro de sua banheira, matando-o. Na mão de Marat encontra-se a carta de apresentação que permitiu o acesso da mulher até ele. Ela foi guilhotinada quatro dias depois.

David retirou a decoração da sala de banho de Marat, deixando no fundo um vazio escuro. A banheira foi trocada, de modo que o braço caído de Marat, em primeiro plano, evocasse a pose de Jesus ao ser descido da cruz. Deixou apenas poucas manchas de sangue no lençol, de modo a atenuar a violência. Ocultou a facada no peito com sombras. E apenas um pouco da água vermelha de sangue é visível.

Os elementos principais da tela são iluminados por uma luz dramática: a face sofrida de Marat e o velho caixote que mostrava a simplicidade em que vivia. Valendo-se do estilo clássico, o pintor apresenta seu amigo fazendo lembrar, deliberadamente, as pinturas da “Descida da Cruz”, mostrando Marat não apenas como um mártir da Revolução Francesa, mas também como um santo martirizado.

O pintor modela os músculos e os tendões do corpo de Marat, dando-lhe um aspecto de real grandeza. São desprezados todos os detalhes desnecessários. O que conta é a simplicidade. O caixote, a cabeça e os braços de Marat são iluminados, enquanto as partes mais sangrentas situam-se nas sombras.

Embora triste, a figura de Marat é idealizada. Não traz as manchas da pele e o sangue possui um tom menos forte. Tanto seu ferimento quanto seu sangue são pouco perceptíveis, diante da palidez de seu corpo. Traz na mão direita a carta recebida, salvo-conduto da assassina, e na esquerda uma pena, ainda mantida de pé. À esquerda da banheira está a faca suja de sangue, único objeto a recordar o ato insano.

Em primeiro plano, vê-se sobre o caixote uma carta, com dinheiro sobre ela, uma pena e um tinteiro.  Como a pena ainda se encontrava na mão direita de Marat, pressupõe-se que ele havia acabado de escrevê-la para uma viúva de um soldado, enviando-lhe dinheiro, o que mostra a atitude caridosa do revolucionário.

A banheira, coberta com um lençol branco, chama a atenção do observador, que não compreende porque ele estaria ali, onde deveria haver apenas água. O fato é que Marat cobria a superfície de sua banheira com lençol, pois, se seu corpo entrasse em contato com o revestimento de cobre, sua pele se irritaria.

A carta de apresentação de Charlotte na mão de Marat diz: “Basta minha grande infelicidade para me dar direito à sua bondade”, estratégia usada para ter acesso até o revolucionário Marat, na sua luta contra a monarquia francesa.

Ficha técnica
Ano: 1793
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 165 x 128 cm
Localização: Musée Royal des Beaux-Arts de Bruxelas, Bélgica

Fontes de Pesquisa
Os pintores mais influentes do mundo/ Girassol
A história da arte/ E.H. Gombrich
1000 obras-primas da arte europeia/ Editora Könemann
Grandes Pinturas/ Publifolha

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2 comentaram em “David – A MORTE DE MARAT

  1. Alfredo Domingos

    Lu,
    Há muito que copio alguns textos do Vírus da Arte, e arquivo. Gostei, cumpro o procedimento relatado!
    É o caso deste texto, que aborda a “Morte de Marat”. Além do belo e intrigante quadro, há um relato bem feito, com toques de resenha policial. É para guardar!
    Parabéns!
    Abraço,
    Alfredo Domingos.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Alf

      A história de Marat é muito interessante.
      Assim como a participação do pintor francês Jacques-Louis David na Revolução Francesa.
      É incomum encontrar artistas que se dedicaram totalmente a seu país, ainda que seja através da própria arte.
      David e Marat foram grandes heróis da Revolução Francesa.

      Obrigada por seu carinho,

      Lu

      Responder

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