Tião Paineira: O MUNDO COMEÇOU COM O BARRO

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Autoria de Luiz Cruz

Sebastião Augusto de Freitas nasceu em Tiradentes, em 23 de abril de 1928. É homem privilegiado, pois tem dois santos guerreiros como protetores: São Sebastião e São Jorge. É o nosso querido Tião Paineira – Paineira é apelido de família. No quintal de seu bisavô existia uma gigantesca árvore de paina e desde essa época todos se referem aos “Paineira”. Casou-se com Maria José de Freitas, que nascera em Barroso. Ela foi o amor de sua vida e nos conta que a “conheceu quando passeava se agradou do Tião, que era bom das vistas, andava arrumadinho e ela achou graça em mim.”. Tiveram nove filhos e agora têm oito netos.

Desde muito cedo, com mais ou menos 12 anos, aprendeu o ofício da profissão de ceramista com o pai – que havia aprendido com seu avô.  Morou na Várzea de Baixo durante muitos anos e para fazer suas peças, tirava barro do barreiro da Cerâmica Progresso. Suas peças eram queimadas em um formo feito num barranco. Esse tipo de forno é chamado “crivo” e era assim que os indígenas, seus antepassados, queimavam a cerâmica. Quando se mudou para o Cuiabá, passou a buscar o barro na Várzea do Gualter. Um trabalho pesado, mas foi com ele que conseguiu criar a família. Do barro fez milhares de peças: potes, vasos, bias, moringas, panelas, pratos, bules e apitos, além de obras artísticas.

Homem de cultura simples, mas exímio contador de histórias, com amplo vocabulário e muita criatividade. Tião Paineira recebe estudantes e turistas de várias partes do Brasil, não somente pela cerâmica, mas também para ouvir suas histórias fabulosas recriadas, ou mesmo contando como conseguiu criar seus “barrigudinhos”. Conta com imensurável orgulho os casos dos antepassados indígenas, dos quais herdou o ofício de ceramista.

“Caminhão de um olho só!”, assim se autodenomina, em consequência de um acidente, quando perdeu uma vista, devido a exposição à alta temperatura e ao frio: “Estava queimando as cerâmicas e tive que carregar um caminhão com as minhas mercadorias e com isso perdi uma vista.”. Fica muito orgulhoso quando nos conta que seu filho José Vicente de Freitas aprendeu o ofício da cerâmica e vai manter a tradição familiar.

Gostava de passear em companhia de sua dona, a Maria José, a quem tem imenso amor e profunda admiração, e a levava para todos os lados. Tião ainda nos revela que “ela era muito ciumenta – não dava problema – eu gostava muito daquele ciúme. Me fazia bem, me arrumava mais, cuidava mais do cabelo”. Gostava de dançar em casa com a dona, quando fazia festa nos “janeiros” e a casa enchia de alegria. Teve um terreno no Capote, onde lavrou por muitos anos, mas teve que vender, pois os “janeiros” foram pesando.

Perdeu sua dona e ficou viúvo. É com tristeza que fala: “Os bons ternos vão e vai ficando só o paletó rasgado.”. Mas logo recupera a alegria ao retomar a fala sobre o trabalho: “Com a cerâmica não deu para ficar rico, mas deu para ficar nobre.” e arremata dizendo que “Deus começou o mundo com o barro, a minha matéria-prima.”.

A primeira edição do Festival de Artes e Tradições de Tiradentes homenageia Tião Paineira com uma pequena mostra, na Casa de Cultura da UFMG, Rua Padre Toledo, 158, aberta nos dias 7, 8 e 9 de julho.

 

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11 comentaram em “Tião Paineira: O MUNDO COMEÇOU COM O BARRO

  1. Idalmo

    Luiz
    Se estou em Tiradentes há 17 anos, é porque um dia aqui conheci Tião Paineira. Minha gratidão eterna a esse iluminado ser humano.

    Responder
    1. Luiz Cruz

      Olá, Idalmo!
      Tião Paineira é uma figura marcante. Assim que puder, vá visitá-lo, pois os “janeiros” estão ficando pesados e sua saúde cada vez mais comprometida. Fiquei muito feliz, pois tive o prazer de recebê-lo na Casa de Cultura.
      Abraço,

      Luiz Cruz

      Responder
    1. Luiz Cruz

      Luciano,
      Muito obrigado por sua presença aqui no blog. Realmente estou feliz em poder participar desta homenagem e ser o curador da mostra em homenagem ao Tião Paineira. Se for possível, venha visitá-la, será um prazer ter sua presença aqui em Tiradentes. Um grande abraço,

      Luiz Cruz

      Responder
  2. Luiz Cruz

    Caro Paulo
    Fico feliz com sua presença aqui no blog, se puder visitar a exposição ficarei muito feliz com sua presença. Não sei se você já fotografou o Tião Paineira, quando vier novamente a Tiradentes, passe lá, fica no Bairro Cuiabá. Você, como um fotógrafo experiente, poderá fazer um belo ensaio fotográfico.
    Um grande abraço,

    Luiz Cruz

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  3. Luis C. Visnievski

    É merecida homenagem, eu já ouvi algumas histórias do Sr. Tião, uma pessoa muito amável.
    parabéns pelo texto, Luiz Cruz.

    Responder
    1. Luiz Cruz

      Luis C. Visnievski,

      O Tião Paineira é uma grande figura. Personagem que encanta, não somente pela cerâmica, mas por sua relação com o mundo.

      Obrigado por sua presença aqui.
      Abraço,

      Luiz Cruz

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  4. LuDiasBH Autor do post

    Luiz

    É gente simples como o senhor Tião Paineira que traz orgulho a nós, brasileiros, em tempos de tanta vergonha e desencanto. Suas mãos calejadas em contato com o barro fazem muito mais por nós do que muita gente alçada aos altos poderes de nossa República.

    Fiquei muito comovida com o texto referente a esse grande brasileiro e sua família. Você continua um garimpador de tesouros.

    Abraços,

    Lu

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    1. Luiz Cruz

      Querida Lu,

      Obrigado por sua atenção e apoio.

      Tião Paineira é um artista completo. Hoje é o grande nome de Tiradentes que nos orgulha. Sua presença é sempre alegre e cheia de prazer em viver. Ele nos contagia. São figuras como Tião Paineira que nos fortalece e inunda de esperança. Ainda temos brasileiros que contribuem para transformar o país em um seleiro de grandes talentos, e Tião é um deles, apesar de termos um outro Brasil, o dos políticos, dos empresários, dos técnicos e o da justiça – minúscula – que nos entristece e rouba a cada dia nossa esperança e nossa dignidade.

      Estou muito feliz em homenagear Tião Paineira com uma singela exposição, pois ele é um cidadão brasileiro que faz a diferença, nos eleva e nos orgulha.

      Um grande abraço para você.

      Luiz Cruz

      Responder
    1. Luiz Cruz

      Olá, Paulo!
      Fico muito grato com sua presença no blog. A cidade de Tiradentes devia uma homenagem ao Tião Paineira – o grande artista tiradentino. Para mim foi um prazer e uma honra ser curador da exposição com suas obras.
      Um grande abraço para você.

      Luiz Cruz

      Responder

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