Pintores Brasileiros – HEITOR DOS PRAZERES

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Eu sou carioca boêmio e sambista, meu sangue é de artistas, não posso negar. (Heitor dos Prazeres)

Eu sou o povo/ e sou um homem do povo./ Vejo esse povo que transporto/ pros meus quadros como sinto./ Também sou uma parte desse povo,/ de forma que sinto conforme vivo. (Heitor dos Prazeres)

Sua riqueza interna veio ganhar na pintura a expressão irmã do samba, e seria fácil reconhecer o ritmista na composição dos quadros. (Rubem Braga)

O pintor e músico brasileiro Heitor dos Prazeres (1898-1966) nasceu na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Veio de uma família pobre, sendo o pai marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional, e a mãe uma costureira para fora, que contava com a ajuda das duas filhas. Mas a morte do pai, quando o menino estava com apenas sete anos de idade, foi um golpe para a família, tendo Heitor que trabalhar como engraxate e vendedor de jornais para ajudá-la.

Antes de a pintura fazer parte de sua vida, Heitor dos Prazeres já era sambista. Vivia pelas bandas da famosa Praça Onze, à qual chamava de “Pequena África”. Ali reunia-se a boemia da cidade, e era também o locol de encontros, onde se festeja e era feita muita cultura popular. Ele foi um grande músico, sendo muito admirado. Chegou a criar mais de 300 composições. Apesar de tocar inúmeros instrumentos musicais era no cavaquinho que mais sobressaia a sua excelência. Esse instrumento foi-lhe ensinado, ainda menino, pelo legendário Lalu de Ouro.  Heitor era tão talentoso no ofício, que editou um método de como se aprender cavaquinho.

À medida que o “progresso” chegava, a população pobre que morava no centro da cidade era empurrada para a periferia, onde passava a viver em cortiços, ocupando a base dos morros. Ali existiam as chamadas “casas das tias”, frequantadas por grandes nomes da música (Pixinguinha, Sinhô, Donga, João da Baiana, dentre outros). E no meio dos bambas encontrava-se também Heitor, que chegou a receber o apelido de Heitor do Cavaco. As “casas das tias” eram também locais de resistência, irmandade e aprendizado, onde se vivenciava a fé, a música e a culinária, numa relembrança das coisas da África. Podemos encontrar toda essa memória na obra de Heitor dos Prazeres,  tanto na música como na pintura, assim como o jongo, o cateretê, o lundo, o coco e outras representações que antecederam o nosso samba, tão bem representado por ele, no que tinha de mais genuíno.

A entrada de Heitor na arte da pintura aconteceu em 1937, após o falecimento de sua primeira esposa, quando já se encontrava com 39 anos. Ele optou pela arte naïf, também conhecida como primitiva ou ingênua. O dicionário Aurélio assim a define: Diz-se de arte, especialmente pintura, desvinculada da tradição erudita convencional e de vanguarda, e que é espontânea e popularesca na forma sempre figurativa, valendo-se de cores vivas e simbologia ingênua. Esse tipo de arte teve no Brasil os pintores José Bernardo Cardoso Júnior (1861-1947), o Cardosinho, como um dos seus percussores, vindo depois Djanira (1914-1979).

Em 1943, Heitor dos Prazeres participou de uma exposição latino-americana em Londres, tendo o seu quadro Festa de São João despertado o interesse da então princesa Elizabeth (hoje rainha), sendo adquirido por ela, que também se interessou pelo pintor, fato esse que lhe trouxe grande notoriedade. O artista tornou-se reconhecido no país e no mundo, tendo participado de inúmeras exposições e recebido muitos prêmios e, consequentemente, encomendas, sendo necessário dobrar o número de seus ajudantes no ateliê, uma vez que não dava conta sozinho de tantos pedidos.

Uma das características mais acentuadas desse artista negro e autodidata é mostrar em seus trabalhos de pintura os rostos das pessoas sempre pintados lateralmente, com a cabeça e o olhar para cima.

Heitor dos Prazeres morreu aos  68 anos, vitimado por um câncer no pâncreas, deixando mulher, um filho (Heitorzinho dos Prazeres) e muitas filhas.

Fonte de pesquisa
Heitor dos Prazeres/ Coleção Folha

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