Raízes da MPB – WALDIR AZEVEDO

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Autoria de Lu Dias Carvalho waldir

 Eu nunca pensei que pudesse sustentar minha família com um pedacinho de madeira e quatro arames esticados. Chego a pensar que é muita ousadia mesmo. (Waldir Azevedo)

No segundo semestre de 1949, Brasileirinho fez sua escalada rumo ao sucesso, de tal modo que um visitante, que chegasse ao Rio em dezembro daquele ano e fosse ouvir rádio, achava que só havia uma emissora, pois todas tocavam o disco de Waldir. (Henrique Cazes – músico, produtor, arranjador e escritor)

O instrumentista e compositor Waldir Azevedo nasceu na cidade do Rio de Janeiro/RJ, em 1923, filho de Walter, um funcionário da Light, e de Benedita Azevedo

O pequeno Waldir foi matriculado num colégio eclesiástico, pois era sonho de seus pais que ele viesse a se tornar padre, escolha pela qual o menino não tinha nenhuma vocação, já que seu sonho era ser aviador. Mas ao completar 10 anos de idade, em 1933, o garoto passou a demonstrar interesse pela música. Gostava de ouvir uma flautinha de lata tocada por seu vizinho Marreco. E não tardou a comprá-la após venda de uns passarinhos. Gostava de tocar Trem Blindado, composição de João de Barro (Braguinha).

Naquela época eram muito comuns os saraus, e foi num desses, na casa de um vizinho, que Waldir caiu de amores pelo bandolim. O bandolinista deixou que o garoto experimentasse o instrumento, observando que tinha jeito para tocar o instrumento. Ao tomar conhecimento do feito, sua mãe fez-lhe uma proposta: “Se você aprender a tocar o Fado da Severa, eu te dou um bandolim.”. O garoto deu conta do desafio e a promessa foi paga. E, quanto ao sonho de ser aviador, esse caiu por terra quando se constatou no exame médico, que tinha uma deficiência cardíaca. Assim, antes mesmo de se tornar maior de idade, passou a trabalhar com o pai na Light. Como era apontador, não tinha horários fixos, aproveitando o tempo livre para lidar com música.

Waldir era um garoto curioso. Nutria interesse por vários instrumentos de corda: bandolim, violão, banjo e violão tenor. Chegou a fazer parte do grupo vocal e instrumental Águias de Prata, que chegou a gravar um disco na RCA Victor. Mas foi aos 20 anos de idade que ele passou a tocar cavaquinho, com o qual faria uma revolução na música. Ao executar o choro Cambucá, do saxofonista Pascoal de Barros, ganhou o programa Calouros OK, na rádio Guanabara. Com o sucesso advindo do concurso, ele passou a ser convidado para fazer substituições em regionais que tocavam na rádio Mayrink Veiga.

Waldir casou-se com uma moça a quem foi apresentado – Olinda Barbosa, indo morar nos fundos da casa de seus pais, Walter e Benedita. Nessa época, trabalhou como recepcionista numa oficina que consertava autos. Uma voltinha com o automóvel já era suficiente para que ele detectasse o problema mecânico, com seu ouvido excepcional. O casal teve duas filhas, Miriam e Marli.

Waldir foi chamado para um teste na Rádio Clube do Brasil, após a saída do conjunto dirigido pelo famoso flautista Benedito Lacerda. Dilermando Reis foi responsável por organizar um novo conjunto, pagando bem melhor do que a Light, onde trabalhava. Acabou sendo aprovado e, como Dilermando começava a ficar conhecido como solista de violão, fazendo apresentações fora da cidade do Rio de Janeiro, era Waldir Azevedo quem o substituía. Com isso, foi cada vez mais se aperfeiçoando, chegando mesmo a acompanhar grandes cantores.

O tema de Brasileirinho nasceu quando um garotinho seu sobrinho, pediu ao tio Waldir que tocasse no seu cavaquinho de brinquedo, que continha apenas uma corda. O tema foi posteriormente desenvolvido pelo violonista Jorge Santos, seu amigo e companheiro de regional. Tratava-se de um choro ligeiro, que começava a se propagar através do rádio. Enquanto isso, Jacob do Bandolim deixou a Continental e foi para a RCA Victor. Waldir foi convidado para assumir o lugar.

Waldir Azevedo estreou na Continental, com Carioquinha no lado A e Brasileirinho no lado B. O sucesso de Brasileirinho foi retumbante, sendo o samba tocado em todas as emissoras. E o compositor ganhou tanto dinheiro que sua esposa Olinda achou que ele tivesse assaltado um banco. A vida financeira da família melhorou consideravelmente.

Depois de criar boas músicas, mas nenhuma que superasse Brasileirinho, Waldir criou o baião Delicado, cujos primeiros compassos identificariam o cavaquinho para sempre. Delicado ultrapassou as fronteiras nacionais, indo da Argentina para os Estados Unidos, sendo gravado até pela orquestra de Percy Faith. Uma versão foi feita por Aloysio Oliveira, cantada por Carmen Miranda, e usada no desenho animado do personagem Patolino. Com o sucesso, as músicas famosas de Waldir Azevedo ganharam letra de Miguel Lima, que por sua vez foram cantadas por Ademilde Fonseca.

O choro Pedacinho do Céu foi composto por Waldir em homenagem às duas filhas. E novamente o compositor viu uma música sua ultrapassar as fronteiras nacionais. Em Buenos Aires, os fãs chegaram a rasgar suas vestes na porta da rádio. Sua vida transformou-se em muito trabalho, sucesso e viagens pelos mais diferentes lugares, tocando cada vez melhor. Até quando esteve na cidade do Cairo, encontrou uma caixinha de música que tocava uma de suas composições, Delicado.

Mas, como a vida é feita de contradições, altos e baixos, as duas filhas de Waldir Azevedo viram-se envolvidas num acidente automobilístico, vindo Miriam, a mais velha, a falecer. O compositor caiu numa profunda depressão, sem nenhum interesse por nada, inclusive pela música. Ficou assim por um período de 3 anos. Começou então a ler e escrever músicas, na tentativa de melhorar sua saúde mental. Quando conseguiu retornar às suas atividades, gravou o LP Delicado.

Em 1971, Waldir Azevedo e Olinda mudaram-se para Brasília, acompanhando o marido da filha que fora transferido. Ali, travou contato com o grupo do choro, do qual fazia parte Francisco de Assis. Ficou muito amigo do violonista Hamilton Costa, que viria a se tornar seu parceiro. Mas em Brasília, morando no Lago Sul, sofreu um acidente. Foi consertar o cortador de grama, cuja lâmina arrancou a ponta de seu dedo anular esquerdo. O pedaço do dedo foi reimplantado e acabou recuperando-se totalmente. Fez o choro Minhas Mãos, Meu Cavaquinho, em agradecimento à sua recuperação.

É lamentável o fato de que Jacob do Bandolim, por inveja, pelo fato de Waldir Azevedo ter vendido mais discos e ter alcançado sucesso no exterior, tenha desmerecido o colega compositor e instrumentista, referindo-se a ele como “o outro”, entre outros títulos grosseiros, até o final de sua vida.

Waldir Azevedo morreu em 1980, aos 57 anos de idade, em razão da ruptura de um aneurisma abdominal.

Nota:
Clique nos links abaixo para ouvir Brasileirinho e Delicado:
http://www.youtube.com/watch?v=Si5y0QGSjTY
http://www.youtube.com/watch?v=7pKF7vTk73M

Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/ Coleção Folha de São Paulo

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